Para falar sobre as malformações uterinas, é importante começar este texto relembrando as características anatômicas, histológicas e funcionais do útero, sobretudo em relação à fertilidade feminina.
O útero:
- é o maior órgão do sistema reprodutor da mulher;
- está localizado na pelve, no trato reprodutivo superior;
- mede aproximadamente 7,5 cm em seu estado não gravídico;
- é mais largo em sua parte superior, onde recebe as tubas uterinas, uma de cada lado;
- é formado por duas partes, o corpo e o colo do útero;
- inferiormente, o colo uterino liga-se à vagina.
Histologicamente, a parede do útero é dividida em: endométrio (revestimento interno); miométrio (camada medial, de musculatura lisa); serosa ou perimétrio (parte externa).
As funções uterinas estão diretamente associadas à menstruação e à gravidez. O sangramento menstrual é resultado da descamação do tecido endometrial, que se renova ciclicamente para receber um óvulo fecundado. Quanto à sua importância na gestação, o útero é o órgão que acolhe e sustenta o embrião, desde a implantação no endométrio até o dia do parto.
Está claro que o útero é um órgão de importância ímpar para a fertilidade feminina. Neste post, vamos explicar o que são as malformações uterinas, quais os tipos e se é possível engravidar com essas alterações. Confira tudo isso a seguir!
O que são malformações uterinas?
As malformações uterinas fazem parte de um espectro de defeitos anatômicos congênitos no trato genital feminino. Isso ocorre devido a falhas no processo de fusão embriológica e recanalização dos ductos de Müller, estruturas que originam o útero, as tubas uterinas e o terço superior da vagina — por isso, também são chamadas de malformações mullerianas.
O desenvolvimento embriológico dos ductos mullerianos se completa por volta da 12ª semana de vida intrauterina. Se esse processo não ocorrer normalmente, a menina nascerá com anormalidades uterinas anatômicas, as quais quase sempre são diagnosticadas durante a idade reprodutiva.
As malformações uterinas são, em sua maioria, assintomáticas. Por essa razão, muitas mulheres não chegam a ser diagnosticadas. Entretanto, tais anomalias podem ter manifestações variadas na saúde ginecológica e obstétrica, incluindo: amenorreia (ausência de menstruação), dor pélvica, sangramento anormal, cólicas, dor na relação sexual e abortamento espontâneo.
Quais são os principais tipos de malformações uterinas?
Entre as malformações uterinas, estão a agenesia dos órgãos reprodutores e os defeitos de fusão lateral dos ductos mullerianos.
Os casos de agenesia — que são raros — são caracterizados pela ausência do útero ou formação muito rudimentar. Quando há associação entre agenesia do útero e do terço superior da vagina, classifica-se como Síndrome de Mayer-Rokitanski-Küster-Hauser.
Os defeitos de fusão lateral são os tipos mais comuns de malformações uterinas. Dentre eles, estão:
- útero unicorno — resulta do desenvolvimento incompleto ou de atrofia de um dos lados do esboço do útero. Assim, o que existe é uma cavidade uterina metade normal, enquanto a outra metade é rudimentar ou ausente;
- útero septado — é a malformação uterina mais encontrada. Decorre da falha de reabsorção do septo, durante a fusão dos ductos de Müller. Externamente, o útero é normal, mas em seu interior fica uma parede de tecido que divide a cavidade uterina;
- útero bicorno — também tem sua cavidade dividida, de forma parcial ou completa, mas, diferentemente do útero septado, nessa malformação há uma chanfradura na superfície externa que separa os dois cornos uterinos;
- útero didelfo — esse defeito é caracterizado pelo desenvolvimento independente de dois esboços do útero. Assim, ocorre a separação completa dos cornos uterinos, resultando em dois hemiúteros, dois colos uterinos e, em alguns casos, duas vaginas.
É possível engravidar com essas alterações no útero?
Ainda há discussão sobre a relação das malformações uterinas com a infertilidade feminina. Por outro lado, a associação dessas alterações com complicações obstétricas está bem estabelecida.
As malformações uterinas são diagnosticadas na avaliação ginecológica de rotina ou na investigação da infertilidade e de problemas gestacionais, como o abortamento de repetição. A ultrassonografia pélvica transvaginal e a histerossalpingografia são os exames de primeira linha para investigar tais condições. A avaliação adicional pode ser feita com ressonância magnética.
As complicações obstétricas mais associadas com as anomalias mullerianas são: abortamento espontâneo, apresentação fetal anômala, restrição do crescimento intrauterino, parto prematuro, baixo peso ao nascer e necessidade de cesariana.
Os problemas reprodutivos causados pelas malformações uterinas têm relação com dois fatores principais: a redução do espaço dentro do útero e a vascularização anormal do órgão. Devido aos riscos implicados, é importante tratar algumas dessas anormalidades antes de tentar engravidar.
Quando necessário, o tratamento das malformações uterinas é exclusivamente cirúrgico. O objetivo é restaurar a anatomia normal do útero, mas nem sempre isso é possível. Cada caso deve ser individualmente avaliado.
A cirurgia mais efetiva, até o momento, para restauração do útero e da fertilidade feminina é a ressecção do septo uterino por histeroscopia.
As técnicas de reprodução assistida são alternativas importantes para mulheres com malformações uterinas graves, especificamente a fertilização in vitro (FIV). Se houver comprometimento severo da anatomia do útero, com alto risco de complicações obstétricas, existe a possibilidade de engravidar com útero de substituição ou barriga solidária. Para continuar obtendo informações, leia agora o texto sobre FIV – fertilização in vitro.