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Barriga solidária

Por Equipe Origen

Barriga solidária é o termo popular para designar a técnica que na reprodução assistida chamamos de útero de substituição ou cessão temporária do útero. Consiste no mesmo procedimento feito na fertilização in vitro (FIV), com a diferença de que os embriões são transferidos para o útero de outra mulher, que será a cedente temporária. 

Por sua vez, a cedente temporária de útero receberá um preparo do endométrio (camada uterina interna) com os hormônios estrogênio e progesterona. Isso é necessário para que as condições uterinas fiquem favoráveis para receber o embrião, que deve se implantar no tecido endometrial.

A FIV com barriga solidária é indicada para pacientes que não possuem útero, assim como para mulheres que têm útero, mas que apresentam alguma alteração muito importante que impeça a gravidez, além de outras indicações que apresentaremos a seguir.

Este texto reúne informações sobre indicações, procedimentos envolvidos e taxas de sucesso dos tratamentos de reprodução humana com FIV e barriga solidária ou útero de substituição.

Em que casos a barriga solidária é indicada?

Como em todos os tratamentos de reprodução humana, primeiramente é preciso que o casal passe por uma avaliação detalhada da fertilidade. Dessa maneira, podemos confirmar quais são os problemas uterinos ou outras condições médicas que impedem a mulher de engravidar ou levar a gestação a termo. Além disso, a investigação diagnóstica da infertilidade conjugal pode revelar outros fatores, como alterações masculinas.

De modo geral, a barriga solidária pode ser indicada nas seguintes situações:

  • ausência congênita do útero devido a malformações graves, como a síndrome de Mayer-Rokitanski-Kuster-Hauser;
  • alterações uterinas que impeçam a implantação embrionária ou a evolução da gravidez e que não sejam tratáveis por cirurgia — como malformações müllerianas, sinequias ou síndrome de Asherman, miomas e pólipos endometriais volumosos;
  • ausência do útero após cirurgia (histerectomia);
  • diagnóstico de doenças maternas que apresentam alto risco de morte durante a gestação, como doenças cardíacas, pulmonares ou renais graves;
  • diante de sucessivas falhas de implantação em ciclos de FIV, ou seja, quando é feita a transferência de embriões, mas a gestação não se efetiva;
  • história de abortamento de repetição, sem que tenha sido diagnosticada uma causa tratável;
  • histórico de complicações graves em outra gestação;
  • objetivo de gravidez entre casais homoafetivos masculinos — estes precisam ainda de gametas femininos, que podem ser obtidos com a técnica de ovodoação ou doação de óvulos.

A mulher que será a cedente temporária de útero deve passar por avaliação clínica e psicológica e fazer exames para afastar doenças infectocontagiosas. Os pais genéticos também precisam passar por orientação profissional, inclusive para serem devidamente esclarecidos, junto com a gestante de substituição, sobre as questões biopsicossociais e legais envolvidas no procedimento, por exemplo, em relação à filiação.

Entre as orientações importantes do CFM também consta que: a doação temporária de útero não poderá ter caráter lucrativo ou comercial — por isso se utiliza, atualmente, o termo “barriga solidária”; e a cedente temporária deve ter parentesco consanguíneo de até 4º grau com um dos membros do casal.

Se os interessados (futuros mãe e pai genéticos) não puderem atender aos critérios de parentesco, é necessário solicitar uma autorização especial ao Conselho Regional de Medicina (CFM) para que outra mulher, que não seja parente, possa assumir o papel de gestante de substituição.

Como é realizada a FIV com barriga solidária?

Além de ter parentesco com um dos futuros pais da criança, as normas éticas para a participação como barriga solidária orientam que a cedente temporária de útero deve ter pelo menos um filho vivo. O histórico de gestação sem intercorrências é um ponto importante, mas não se configura exatamente como uma regra.

O tratamento com barriga solidária passa pelas mesmas etapas, isto é, as fases para a formação embrionária são idênticas às de uma FIV — mas com mais pessoas envolvidas. Veja:

  • a paciente (futura mãe) passa por um processo de estímulo ovariano com a utilização de hormônios injetáveis ou administrados via oral. Então, realiza-se um acompanhamento do desenvolvimento dos folículos ovarianos por dosagens hormonais e ultrassonografias pélvicas seriadas. Quando esses folículos atingem as dimensões ideais, administra-se um medicamento específico para induzir o amadurecimento final dos óvulos;
  • no segundo passo do tratamento, é realizada uma punção folicular para a coleta dos óvulos, procedimento feito por via vaginal. O parceiro também faz a coleta de sêmen, nesse mesmo dia, para posterior fertilização dos óvulos e desenvolvimento embrionário. O material masculino passa por preparo seminal e os espermatozoides móveis são selecionados;
  • ao longo desse período, a cedente temporária utiliza hormônios para sincronizar seu endométrio, já preparando o útero para receber os embriões;
  • a transferência dos embriões para o útero da cedente temporária ocorre 2, 3 ou 5 dias depois da punção folicular. O número de embriões a serem transferidos irá depender da idade da mãe biológica e da decisão do casal;
  • se existirem embriões excedentes (gerados em quantidade maior que a permitida para transferência), eles são congelados e o casal pode vir a utilizá-los no futuro.

Embora a mãe biológica não possa gestar, os futuros pais têm a possibilidade de acompanhar bem de perto o desenvolvimento de seu filho, convivendo com a gestante de substituição e acompanhando-a durante o pré-natal e os exames de ultrassom obstétrico. 

Inclusive, é de responsabilidade dos futuros pais garantir à cedente do útero todos os cuidados médicos que ela precisar — inclusive, multidisciplinares —, tanto na gravidez, quanto no parto e no pós-parto.

Se olharmos essa experiência por um viés sociofamiliar, vemos que a gravidez com barriga solidária pode envolver os mesmos preparativos e procedimentos tradicionais de qualquer gestação, como álbum de fotos, chá revelação, chá de fralda, preparação do enxoval etc. A futura mãe pode até mesmo se preparar para amamentar, realizando tratamento hormonal para produzir leite materno (sob orientação médica).

Vale reforçar que, no caso dos casais homoafetivos masculinos, a FIV requer doação de óvulos, além da barriga solidária. Um ponto importante sobre isso é que, segundo as normas do CFM, a cedente temporária de útero não pode ser a doadora de óvulos, uma vez que a cedente não pode ter relação genética direta com a criança.

Quais são os resultados da FIV com barriga solidária?

As taxas de gravidez da FIV com barriga solidária são semelhantes às observadas em ciclos gerais de FIV, dependendo da idade da mãe biológica, variando de 5 a 55%.

A idade materna é determinante para a qualidade dos óvulos, ou seja, quanto mais jovem, maiores as chances de gerar embriões saudáveis e com chances de implantação. As taxas de êxito podem reduzir significativamente quando a mulher coleta seus óvulos em idade próxima ou superior aos 40 anos.

Outros fatores importantes para o sucesso da FIV são a qualidade seminal, o número de óvulos captados e de embriões gerados e a receptividade endometrial — por esse último fator, é imprescindível que a cedente temporária de útero passe por preparação com medicações hormonais.

Como se trata de um processo delicado, todos os envolvidos no tratamento de FIV com barriga solidária (os futuros pais e a gestante de substituição) precisam receber informações detalhadas sobre os procedimentos que serão realizados, possíveis riscos associados e questões de caráter jurídico. Depois de todas as informações recebidas, eles devem assinar um termo de consentimento livre e esclarecido.

Dessa forma, podemos compreender que a FIV com barriga solidária é realizada dentro das normas éticas, representando um processo seguro para todos os envolvidos. É, sim, um processo delicado que envolve uma organização familiar diferente durante a gestação e no pós-parto. Contudo, é uma possibilidade que traz esperanças às pessoas que querem ter um filho, mas não podem utilizar seu próprio útero para gestar.