A endometriose está presente em 30% a 50% das mulheres com infertilidade. Ao mesmo tempo, ela é uma doença bastante difícil de ser diagnosticada, ora pela falta de sintomas, ora por sintomas semelhantes a outras condições. Se algumas vezes a doença pode ser silenciosa, em outras ela é capaz de causar dores intensas, que chegam a afetar a qualidade de vida da mulher.
Essas diferentes manifestações de uma mesma doença ocorrem porque a endometriose pode afetar órgãos distintos do corpo feminino, além de ter graus de severidade também variado. Em meio a tantas incertezas sobre uma doença mais comum do que se imagina – atinge cerca de 20% das mulheres em idade fértil – é comum ouvir dizer que quem tem endometriose não pode engravidar.
Neste artigo você poderá entender se essa afirmação é ou não verdadeira e qual é a relação da endometriose com a infertilidade feminina. Continue a leitura para saber mais.
O que é endometriose?
A endometriose se caracteriza pela presença de células do endométrio fora do útero. Vale lembrar que o endométrio é a camada mucosa que reveste o útero por dentro, e que ele se engrossa e se descama ao longo do ciclo menstrual, pela ação dos hormônios sexuais femininos.
Quando há implantes de células endometriais em outros órgãos, esse tecido se comporta exatamente como o endométrio sob ação dos hormônios.
Dessa forma, os implantes de endometriose crescem e descamam, o que tende a causar um processo inflamatório. Isso pode provocar sintomas como fortes dores pélvicas e cólicas menstruais, dor durante a relação sexual, sintomas urinários e intestinais e, em alguns casos, infertilidade.
Onde a doença pode se instalar?
Os implantes de endometriose ocorrem com mais frequência na cavidade peritoneal, podendo afetar órgãos da região pélvica e abdominal, como tubas uterinas, ovários, bexiga, ureteres e intestinos.
O local onde os focos de endometriose se instalam, bem como o grau de gravidade da doença, podem levar ao desenvolvimento ou não de sintomas e determinar sua intensidade. Quando os implantes são superficiais e atingem somente o peritônio, por exemplo, trata-se de endometriose superficial peritoneal, o tipo mais brando da doença.
Já nos casos em que a atinge os ovários, a endometriose forma cistos de cor achocolatada (endometriomas) e pode prejudicar a função ovariana.
O terceiro tipo da doença é a endometriose infiltrativa profunda, que tem implantes de maior profundidade, localizados em outros órgãos da cavidade abdominal, estando por isso mais relacionada à ocorrência de dores.
Endometriose e infertilidade
A infertilidade ocorre em 30% a 50% das mulheres com endometriose. Assim como os demais sintomas da doença, a infertilidade está intimamente ligada à localização e gravidade dos implantes de endometriose.
Nos casos de endometriose infiltrativa profunda, por exemplo, é mais comum que os focos da doença causem aderências e obstruções nas tubas uterinas, dificultando o encontro dos espermatozoides com o óvulo. Aderências tubárias também aumentam as chances de gravidez ectópica (fora do útero).
Os endometriomas também podem levar à infertilidade devido a distúrbios ovulatórios. Além disso, a cirurgia realizada para remover os cistos dos ovários pode reduzir a reserva ovariana (“pool” de óvulos presentes nos ovários), prejudicando ainda mais a fertilidade.
No entanto, mesmo em casos de endometriose leve pode ocorrer infertilidade. Não se sabe exatamente por que, mas as hipóteses estão relacionadas ao processo inflamatório, alterações no funcionamento do sistema imunológico, na função hormonal, entre outras mudanças provocadas no ambiente pélvico pela doença.
Tratamentos e reprodução assistida
Existem algumas opções de tratamento para mulheres com endometriose. A terapêutica mais indicada dependerá da manifestação ou não de sintomas, da sua intensidade e do desejo de engravidar, caso a paciente apresente infertilidade.
O tratamento hormonal, por exemplo, normalmente é realizado com anticoncepcionais orais, capazes de controlar os sintomas. No entanto, evidentemente não é uma opção para mulheres que têm a intenção de engravidar.
Já a cirurgia, realizada por laparoscopia, é capaz de restaurar a fertilidade da paciente, permitindo em alguns casos uma gravidez natural após a remoção de aderências tubárias e outros focos de endometriose.
No entanto, quando a cirurgia é realizada para remover os endometriomas, existe o risco de que o procedimento prejudique a reserva ovariana, afetando ainda mais a fertilidade da mulher.
Nos casos em que a paciente se submeteu à cirurgia e mesmo assim não obteve sucesso em conseguir uma gravidez natural, ou até mesmo em mulheres que não passaram por cirurgia, de acordo com a avaliação médica, é possível utilizar técnicas de reprodução assistida.
A técnica mais complexa e indicada na maior parte dos casos é a fertilização in vitro (FIV), pois ao realizar a fecundação em laboratório, ela elimina a necessidade das tubas uterinas durante a concepção, uma vez que os embriões gerados são colocados diretamente no útero.
Além disso, o primeiro passo de uma FIV é sempre a estimulação ovariana, tratamento à base de hormônios realizado com o objetivo de que mais óvulos se desenvolvam em um único ciclo, o que auxilia mulheres com baixa reserva ovariana e/ou distúrbios ovulatórios causados pela doença.
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