Será que é verdade que o uso de anticoncepcional causa infertilidade? Essa é uma dúvida muito comum, inclusive entre os casais que enfrentam dificuldade para engravidar. Por isso, é relevante abordarmos esse assunto e esclarecer a questão levantada.
Um casal pode ser infértil por fatores masculinos, femininos ou ambos. Há uma lista extensa de doenças e alterações no sistema reprodutor que levam à dificuldade de engravidar espontaneamente. Entretanto, nem sempre o casal tem ideia de que se enquadra na infertilidade. O diagnóstico vem à tona quando as tentativas de gravidez, após determinado período, não chegam ao resultado esperado.
Vamos mostrar, neste post, qual é a verdadeira relação entre anticoncepcional e infertilidade. Basta prosseguir com a leitura e conferir!
Tipos de anticoncepcional
Anticoncepcional, como o termo sugere, é um método para evitar a concepção e a gravidez. De modo geral, existem diversas formas de contracepção, hormonais e não hormonais, que incluem:
- preservativos sexuais (método de barreira);
- coito interrompido e cálculo do período fértil (métodos comportamentais);
- pílula, injeção, anel vaginal, adesivo cutâneo e implante subdérmico (métodos hormonais);
- vasectomia e laqueadura (métodos cirúrgicos);
- dispositivo intrauterino (DIU), com ou sem liberação de hormônio.
Neste post, estamos considerando principalmente os anticoncepcionais hormonais, dentre os quais se destaca a pílula contraceptiva oral, que ainda é o método mais utilizado pelas mulheres.
Ação do anticoncepcional hormonal no corpo da mulher
O anticoncepcional altera as características dos órgãos reprodutores femininos, inibindo algumas etapas do processo conceptivo. A pílula, por exemplo, impede a ovulação, assim como pode deixar o muco cervical mais espesso e o endométrio inadequado para uma implantação embrionária.
Vamos recordar, resumidamente, como acontece o ciclo reprodutivo feminino para deixar isso mais claro:
- no início do ciclo, na fase folicular, a hipófise secreta hormônios (FSH e LH) que estimulam o crescimento dos folículos ovarianos;
- um dos folículos se desenvolve mais e atinge o tamanho adequado para ovular;
- na metade do ciclo, o aumento na concentração do hormônio LH desencadeia a ovulação, marcada pela ruptura do folículo ovariano e a liberação de um óvulo maduro;
- os resíduos desse folículo formam o corpo-lúteo, glândula secretora dos hormônios estrogênio e progesterona;
- na fase lútea (pós-ovulatória), o revestimento interno do útero (endométrio) é estimulado pelos hormônios do corpo-lúteo e modifica suas características, tornando-se receptivo para um embrião;
- sem fecundação do óvulo e sem implantação do embrião, o corpo-lúteo regride, a liberação hormonal diminui e o endométrio descama — é isso que provoca a menstruação e o começo de outro ciclo.
Note que os hormônios agem de forma alternada: no começo do ciclo, são os hormônios hipofisários, FSH e LH, que estimulam as funções ovarianas; após a ovulação, na segunda metade do ciclo, são os hormônios ovarianos que agem no preparo do útero.
Enquanto os níveis de estrogênio e, principalmente, de progesterona estão elevados, ocorre um mecanismo de feedback negativo no eixo hipotálamo-hipófise, inibindo a liberação de FSH e LH. Sendo assim, um novo ciclo somente tem início quando a concentração dos hormônios ovarianos diminui, permitindo a ação dos hipofisários.
É assim que a pílula anticoncepcional age no corpo da mulher. A composição das pílulas pode levar estrogênio e progesterona ou somente progesterona sintética. Dessa forma, com a ingestão correta do medicamento, a presença constante desses hormônios mantém a secreção de FSH e LH insuficiente para promover uma ovulação, por isso, causa infertilidade transitória.
Anticoncepcional e infertilidade
Já mostramos por que o uso da pílula anticoncepcional causa infertilidade transitória. Agora, vamos à dúvida que muitas pessoas têm: afinal, a mulher que usa anticoncepcionais hormonais pode ficar realmente infértil?
A resposta é simples: não, anticoncepcional e infertilidade permanente é uma relação que não acontece. O que ocorre, em alguns casos, é que o uso de contracepção pode mascarar fatores reais de infertilidade, sobretudo quando estão associados a condições assintomáticas.
Assim, quando o casal suspende o uso dos contraceptivos e inicia suas tentativas, pode surgir a suspeita da infertilidade quando a gravidez demora a ser confirmada. Recomenda-se que após um ano de tentativas, caso a mulher tenha menos de 35 anos ou 6 meses se acima desta idade, o casal procure um médico especialista para investigar suas condições reprodutivas.
Infertilidade e reprodução assistida
Inúmeros fatores, femininos ou masculinos, podem estar por trás da infertilidade conjugal Antes de iniciar um tratamento de reprodução assistida, o casal passa por vários exames e, de acordo com os resultados, define-se a técnica que pode levá-los até uma gravidez.
As técnicas de baixa complexidade são a relação sexual programada e a inseminação artificial. São indicadas quando há fatores brandos a serem contornados, como as disfunções ovulatórias. No entanto, para ter sucesso com esses tratamentos, é preferível que a paciente tenha idade inferior a 35 anos e tubas uterinas saudáveis.
A fertilização in vitro (FIV) é a técnica mais complexa, indicada para casos que requerem uma intervenção minuciosa no processo reprodutivo. Casais com infertilidade masculina grave, idade materna avançada, problemas uterinos ou tubários, entre outras condições, podem ter êxito com esse tratamento de reprodução.
Esclarecemos, portanto, que não há relação verdadeira entre anticoncepcional e infertilidade. Contraceptivos hormonais deixam a mulher infértil, sim, mas de forma temporária, somente durante seu uso. Caso exista dificuldade para engravidar após a interrupção da pílula ou de outra forma de contracepção, isso pode sinalizar a existência de outros problemas reprodutivos.
Conheça outras condições que podem interferir nas chances de gravidez, fazendo a leitura do nosso texto principal sobre infertilidade feminina!