A azoospermia, ausência absoluta de espermatozoides no sêmen ejaculado, constitui uma das principais causas de infertilidade. Aproximadamente 15% a 20% dos homens com problemas de infertilidade e de 1% a 2% de todos os homens apresentam azoospermia.
O sistema reprodutor masculino é formado pelos testículos, epidídimos, próstata, dutos deferentes, vesículas seminais e pênis. Testículos são as glândulas sexuais masculinas e estão localizadas atrás do pênis, no interior da bolsa escrotal, responsável por manter a temperatura adequada para a produção de espermatozoides.
A produção de espermatozoides, ou espermatogênese, ocorre nos túbulos seminíferos, localizados nos lóbulos de cada testículo. Após serem produzidos, são armazenados nos epidídimos, até se tornarem maduros e com maior motilidade, quando são transportados pelos dutos deferentes, duto que representa uma continuação da cauda do epidídimo e, posteriormente ejaculados.
No trajeto, para serem ejaculados, são incorporados ao fluido seminal produzido pelas vesículas seminais e pela próstata para formar o sêmen. Em homens com azoospermia, o sêmen tem aparência norma, no entanto não contém espermatozoides.
Descrita pela primeira vez em 1869, a azoospermia pode ser obstrutiva ou não obstrutiva. A obstrutiva ocorre quando um bloqueio impede o transporte dos espermatozoides para o ejaculado. e a não obstrutiva, quando há diminuição ou ausência da produção, provocada por diferentes condições. No entanto, ainda que resulte em infertilidade, a azoospermia tem tratamento na maioria dos casos.
Entenda mais sobre azoospermia neste texto. Ele destaca as causas que provocam cada tipo, os sintomas que indicam a necessidade de procurar auxílio médico, métodos diagnósticos e tratamento.
Classificações de azoospermia
Obstrutiva
Tem causa genética ou adquirida, que obstruem as vias de drenagem do fluido testicular.
Os processos obstrutivos de causa genética decorrem das anormalidades do desenvolvimento normal do trato reprodutivo, levando a quadros como as agenesias do canal deferente e vesículas seminais e as aplasias, que é o desenvolvimento parcial do órgão.
Já os processos adquiridos são consequências, em especial, de vasectomia, traumas, infecções e como complicações de determinadas cirurgias, como a hidrocelectomia e herniorrafia inguinal.
Na maioria dos casos, entretanto, surgem como consequência de aderências resultantes de inflamações, incluindo a epididimite (do epidídimo) e orquite (dos testículos) – provocadas geralmente por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonorreia.
Não obstrutiva
É provocada por processos que levam à falência na produção espermática pelos testículos. Esta falência que pode ser primária, quando for resultado de processos intrínsecos ao testículo, ou secundária, quando for consequência de alterações externas aos testículos.
A azoospermia não obstrutiva é dividida em pré-testicular e testicular, as causas da diminuição ou falência da produção de espermatozoides, variam de acordo com o subtipo.
Na pré-testicular podem ser genéticas ou hormonais: os testículos são normais, mas não produzem espermatozoides. No entanto, esse tipo é bastante raro.
A testicular, por outro lado, pode resultar de doenças como caxumba, diabetes, insuficiência renal, de danos causados nos testículos por inflamações como a epididimite e a orquite, de alterações nos hormônios reprodutivos, de lesões testiculares ou na virilha e da varicocele, quando há dilatação das veias do cordão espermático que sustenta os testículos provocando o surgimento de varizes.
Na varicocele, por exemplo, as varizes provocam um aumento da temperatura testicular: regulada pela bolsa escrotal, é naturalmente mais baixa do que a do corpo humano, o que favorece a espermatogênese. Ou seja, com o aumento, a produção é comprometida.
Por ser assintomática, a azoospermia tende a ser descoberta quando há dificuldades para engravidar a parceira. Porém, alguns sintomas característicos de algumas causas que podem provocar o problema, podem ajudar a identificá-lo precocemente. Os mais comuns são:
- Dor nos testículos;
- Secreções penianas;
- Inchaço ou nódulo na região testicular;
- Assimetria testicular;
- Dificuldade para ejacular;
- Ejaculação em pequenos volumes;
- Dificuldade em ter ou manter a ereção (disfunção erétil);
- Diminuição da libido;
- Diminuição de pelos faciais e corporais;
- Crescimento anormal da mama (ginecomastia);
- Infecções respiratórias recorrentes;
- Incapacidade de sentir aromas.
É importante procurar auxílio médico se houver a manifestação de qualquer sintoma para que seja feita uma avaliação adequada e indicado o tratamento para a reversão do quadro. O tipo de azoospermia e causa são definidos a partir da realização de diferentes exames.
Métodos para diagnosticar a azoospermia
Diferentes exames são realizados para diagnosticar a azoospermia e determinar a causa. O primeiro a ser solicitado é o espermograma, exame padrão para avaliar a fertilidade masculina, importante para confirmar a ausência de espermatozoides no sêmen.
Também são realizados o teste hormonal e para confirmar a presença de inflamações, identificando o tipo de bactéria, incluindo as sexualmente transmissíveis.
A partir dos resultados diagnósticos e indicação do tipo de azoospermia, é definida a abordagem terapêutica mais adequada para cada paciente.
Conheça os tratamentos indicados para azoospermia
Inicialmente a azoospermia pode ser tratada por medicamentos ou por cirurgia. Quando a causa são distúrbios hormonais, por exemplo, são prescritos medicamentos hormonais para equilibrar os níveis, enquanto os processos inflamatórios são tratados por antibióticos, indicados de acordo com o tipo de bactéria. Se os agentes forem sexualmente transmissíveis a parceira também deverá ser medicada.
A cirurgia é indicada para remoção de aderências, cistos ou tumores e se houver necessidade de reconstruir ou reconectar os dutos obstruídos.
Quando a fertilidade não é restaurada após a cirurgia ou tratamento clínico, recomenda-se a utilização de alguma técnica de extração espermática para posterior realização do tratamento por fertilização in vitro (FIV) com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide). Para casais em que a mulher tem idade avançada, as técnicas de reprodução assistida são recomendadas como primeira alternativa.
A recuperação de espermatozoides pode ser feita diretamente dos epidídimos ou dos testículos, com a utilização de diferentes métodos cirúrgicos: PESA e MESA são os utilizados para recuperá-los do epidídimo e TESE e Micro-TESE, dos testículos:
- PESA, percutaneous epididymal sperm aspiration, ou aspiração percutânea de espermatozoides do epidídimo, utiliza uma agulha acoplada a uma seringa perfura a bolsa escrotal até o epidídimo, aspirando o fluído que pode conter espermatozoides. O procedimento é mais simples, por isso, geralmente é realizado na própria clínica de reprodução assistida com o uso de anestesia local ou com o paciente apenas sob sedação.
- MESA, microsurgical epididymal sperm aspiration ou aspiração microcirúrgica de espermatozoides do epidídimo, é um procedimento cirúrgico, por isso geralmente é realizado em ambiente hospitalar, com a utilização de anestesia geral sedação. A partir de uma incisão na bolsa escrotal os testículos são expostos e o túbulo epididimário que contém maior quantidade de líquido seminal identificado para ser aspirado.
- Na TESE, testicular sperm extraction ou extração de espermatozoides dos testículos, os espermatozoides são coletados por biópsia aberta a olho nu. O procedimento também é realizado em ambiente com o uso de anestesia geral. Os testículos são expostos para extração dos túbulos seminíferos que podem conter espermatozoides.
- A Micro-TESE, microdissection testicular sperm extraction ou extração de espermatozoides por microdissecção testicular, tem apenas como diferencial o uso de um microscópio, que permite melhor avaliação dos túbulos seminíferos.
Nos casos de azoospermia obstrutiva, os espermatozoides são recuperados em praticamente todos os pacientes. Enquanto na azoospermia não obstrutivas, os espermatozoides são recuperados em aproximadamente 50% dos casos.
Após a recuperação, os óvulos são fecundados em laboratório. Na FIV com ICSI, cada espermatozoide é avaliado individualmente por um microscópio potente e depois injetado diretamente no citoplasma do óvulo por um micromanipulador de gametas, aparelho de alta precisão acoplado ao microscópio.
Assim, as chances de fecundação são maiores: a FIV com ICSI apresentam taxas de gravidez que podem chegar a 55%, dependendo da idade da mulher.