O letrozol na reprodução assistida tem sido considerado uma opção eficaz e segura para induzir a ovulação em mulheres com disfunções ovulatórias, principalmente decorrentes da síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Pertencente ao grupo dos inibidores de aromatase, o letrozol, embora seja importante para os tratamentos de reprodução, é indicado como terapia hormonal adjuvante para mulheres com câncer de mama, doença que é frequentemente estimulada por estrogênios.
Os hormônios estrógenos são produzidos nos ovários e têm funções importantes no corpo feminino, como a proliferação das células endometriais (da parte interna do útero), mecanismo que aumenta a espessura do tecido intrauterino para que um embrião possa se implantar.
Outras funções estrogênicas incluem o desenvolvimento das características sexuais secundárias femininas, como o crescimento das mamas, a produção do muco cervical, a lubrificação vaginal e a manutenção óssea.
Apesar de suas importantes funções, esse hormônio também está envolvido na fisiopatologia de algumas doenças femininas estrogênio-dependentes, como o câncer de mama e a endometriose, devido à sua ação proliferativa.
O letrozol age no bloqueio da enzima aromatase, que participa da produção estrogênica, e reduz os níveis de estrogênio circulante, auxiliando no controle da progressão das células tumorais nos casos de câncer de mama.
Da mesma forma, o letrozol inibe a secreção estrogênica no ciclo menstrual, permitindo que ocorra uma liberação endógena maior dos hormônios FSH e LH (folículo-estimulante e luteinizante), os quais estimulam o processo de ovulação.
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Reprodução assistida e estimulação ovariana
A reprodução assistida é a área da medicina que ajuda os casais que não conseguem engravidar espontaneamente a superarem seus fatores de infertilidade. Define-se como infértil o casal que não inicia ou não leva a termo uma gestação, após 1 ano de relações sexuais regulares sem contracepção.
Tanto a mulher quanto o homem podem ser inférteis. Na investigação da infertilidade feminina, as principais causas encontradas são as disfunções ovulatórias, as quais são mais comumente causadas pela SOP, mas também existem outros fatores endócrinos que levam à anovulação.
Quando tem um problema ovulatório, significa que a mulher não ovula todos os meses. A ovulação pode acontecer de forma infrequente, caracterizando irregularidades menstruais, como intervalos mais longos que o normal entre um ciclo e outro. Nos casos de anovulação crônica, a mulher pode ficar vários meses seguidos sem ovular e sem menstruar.
O casal que apresenta somente a disfunção ovulatória como fator de infertilidade pode engravidar com um protocolo simples de estimulação ovariana e indução da ovulação associado à relação sexual programada (RSP), sempre respeitando quantos filhos o casal deseja ter, assim como a idade da mulher.
Quando outros problemas de fertilidade são diagnosticados, e mesmo que a mulher tenha ovulação normal, a estimulação ovariana também é a primeira etapa do tratamento de reprodução. Os protocolos de estímulo variam conforme a técnica escolhida, que pode ser a RSP, a inseminação artificial (IA) ou a fertilização in vitro (FIV).
O princípio biológico da estimulação ovariana é baseado no aumento da concentração do hormônio FSH, responsável pelo desenvolvimento dos folículos dos ovários. A administração dos medicamentos começa entre o 3º e 5º dia após o início da menstruação. Com exames seriados de ultrassonografia pélvica e dosagens hormonais, o crescimento folicular é monitorado.
Dessa forma, é possível prever o dia da ovulação e administrar o hormônio hCG, que tem estrutura e ação semelhantes às do LH, para provocar a maturação final dos óvulos, a ruptura folicular e a ovulação — assim acontece nas técnicas de baixa complexidade (RSP e IA).
Na FIV, o processo de estimulação ovariana é realizado com protocolos mais complexos (doses mais altas de medicação), com o objetivo de captar um grande número de células reprodutivas. Diferentemente das técnicas de baixa complexidade, a paciente não chega a ovular, pois é feita a aspiração do líquido folicular e os óvulos são coletados para serem fertilizados em laboratório.
Importância do letrozol na reprodução assistida
O letrozol é um dos principais medicamentos utilizados na reprodução assistida com o objetivo de estimular as funções dos ovários. Outros fármacos com a finalidade semelhante são o citrato de clomifeno, o tamoxifeno e as gonadotrofinas injetáveis.
O citrato de clomifeno foi a primeira medicação utilizada para estimulação ovariana e oferece resultados ligeiramente inferiores aos do letrozol. Ele inibe o efeito de feedback negativo sobre o hipotálamo, permitindo maior liberação do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), que, por sua vez, estimula a hipófise a secretar mais FSH.
Um detalhe importante é que o citrato de clomifeno, devido aos seus efeitos antiestrogênicos, pode ter resultado deletério sobre o endométrio. Isso pode ser traduzido pela espessura inadequada do tecido endometrial, fator que interfere no processo de implantação embrionária.
O letrozol, embora também tenha a ação de aumentar a liberação endógena de FSH, não tem efeitos antiestrogênicos, apresentando-se como uma opção vantajosa para as características endometriais e as chances de implantação e gravidez.
O uso do letrozol na reprodução assistida tem contribuído para bons desfechos reprodutivos, apesar de ser classificado como um fármaco off-label para a estimulação ovariana — significa que não é a indicação formal do fabricante, pois seu principal objetivo terapêutico é o tratamento do câncer de mama.
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