Capacitação seminal é um procedimento importante na avaliação da fertilidade masculina e nos tratamentos de reprodução assistida. Isso porque o homem pode ter milhões de espermatozoides em uma amostra, mas nem todos eles são capazes de fertilizar um óvulo.
Para começar, é preciso esclarecer uma dúvida: quando falamos em fertilidade masculina, é comum surgir confusão entre os termos “sêmen”, “esperma” e “espermatozoides”. Embora relacionados, eles têm diferenças importantes.
O sêmen, que também pode ser chamado de esperma, é o líquido ejaculado, composto por espermatozoides e fluidos produzidos por diferentes glândulas do sistema reprodutor masculino. Já os espermatozoides são os gametas, as células reprodutivas do homem, cuja função é fertilizar o óvulo para dar origem a uma nova vida.
Neste artigo, vamos falar sobre o sêmen, abordando os aspectos avaliados no espermograma e, principalmente, a capacitação seminal, uma técnica fundamental em tratamentos de reprodução assistida. Acompanhe!
Qual é o exame que avalia o sêmen?
O espermograma é o exame que analisa o sêmen, considerando seus aspectos macroscópicos e microscópicos. É realizado a partir de uma amostra de esperma, geralmente obtida por masturbação em ambiente controlado.
Os aspectos macroscópicos avaliados com o espermograma são referentes às características físicas do sêmen, incluindo: volume de líquido ejaculado; coloração do fluído; tempo de liquefação; aglutinação; viscosidade.
Já os aspectos microscópicos dizem respeito aos parâmetros de:
- concentração espermática — número de espermatozoides por mililitro de sêmen e na amostra total;
- motilidade espermática — capacidade de movimentação dos espermatozoides;
- morfologia espermática — formato e estrutura dos espermatozoides;
- vitalidade — percentual de gametas vivos na amostra.
Adicionalmente, o espermograma pode incluir testes complementares, como a capacitação seminal. Isso é importante porque alguns resultados do exame convencional revelam normozoospermia, ou seja, não identificam nenhuma alteração, mas com a capacitação podemos ver qual é a real quantidade de espermatozoides com potencial fecundativo.
Entretanto, essa informação é apenas auxiliar, não servindo de parâmetro para tomadas de decisão na conduta médica, uma vez que o que acontece em laboratório (in vitro) não necessariamente representa o que acontece no útero (in vivo).
O que é capacitação seminal?
A capacitação seminal é um procedimento laboratorial que visa selecionar os espermatozoides mais saudáveis e com maior potencial de fertilização. Para isso, são empregados métodos específicos:
- lavagem simples — os espermatozoides são separados do plasma seminal e de outros resíduos e células não germinativas presentes no sêmen;
- gradiente descontínuo de densidade — utiliza soluções com diferentes densidades para selecionar os espermatozoides móveis e morfologicamente normais, descartando os demais gametas e componentes do sêmen;
- swim-up — aproveita a capacidade dos espermatozoides móveis, selecionando aqueles que conseguem nadar para a camada superior de meio de cultivo.
O objetivo da capacitação seminal é obter uma amostra precisa, contendo somente os espermatozoides capazes de desempenhar sua função.
Qual é a importância da capacitação seminal na reprodução assistida?
A capacitação seminal tem grande relevância nos tratamentos de reprodução assistida. Nessa etapa, é possível otimizar a amostra de sêmen para utilização em uma inseminação artificial ou na fertilização in vitro (FIV).
Para casais com fatores masculinos brandos de infertilidade, como alterações moderadas na concentração, motilidade ou na morfologia dos espermatozoides, a capacitação ou preparo seminal aumenta as chances de sucesso na inseminação artificial, que é um tratamento de baixa complexidade — caso a mulher seja jovem (menos de 35 anos) e tenha tubas uterinas saudáveis.
Na inseminação artificial, após a coleta e o preparo do sêmen, os espermatozoides capacitados são inseridos dentro do útero da paciente durante o período ovulatório (após estímulo hormonal da mulher ou não).
Isso ajuda a aumentar a concentração de espermatozoides móveis, os quais devem se locomover até as tubas uterinas para realizar a fertilização do óvulo. As taxas de sucesso variam de 15% a 20% por ciclo.
Na FIV, a capacitação seminal é realizada antes da fertilização dos óvulos em laboratório. Os gametas selecionados são utilizados na injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), técnica em que um único espermatozoide é injetado dentro de cada óvulo para favorecer o evento da fertilização. As taxas de sucesso podem chegar a mais de 50% por ciclo. Essa etapa é especialmente importante em casos de infertilidade masculina grave, quando há poucas células viáveis no sêmen.
Quando há uma baixa recuperação de espermatozoides móveis após a capacitação seminal, esses resultados ajudam a determinar a abordagem mais adequada. Nesse caso, por exemplo, pode-se optar pelas técnicas de recuperação espermática, que permitem obter os gametas diretamente dos órgãos reprodutores masculinos, onde são produzidos (nos testículos) ou armazenados (nos epidídimos).
As técnicas de recuperação espermática — PESA e MESA, TESE e Micro-TESE — são indicadas principalmente quando o homem apresenta azoospermia, condição caracterizada pela ausência de espermatozoides no sêmen. No entanto, de acordo com a avaliação do especialista, também podem ser uma alternativa para melhorar a obtenção de gametas viáveis em casos de alterações graves na motilidade ou na morfologia espermática.
Como você viu, a capacitação seminal é uma ferramenta importante para a avaliação do potencial reprodutivo masculino, assim como é uma etapa essencial nos tratamentos de reprodução assistida. Assim, com o acompanhamento médico adequado, é possível superar obstáculos da fertilidade masculina — e feminina —, aumentando as chances de um resultado positivo.
Complemente a leitura que você acabou de fazer com o próximo texto, que explica em detalhes como o espermograma é realizado!
