A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a principal causa de infertilidade feminina por anovulação (ausência de ovulação). Além disso, é uma endocrinopatia que afeta a saúde da mulher de outras formas, sendo associada a alterações metabólicas importantes, com risco aumentado para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares.
A SOP tem impacto significativo no funcionamento ovariano, devido à disfunção hormonal que leva à formação dos múltiplos cistos. Os ovários são as gônadas femininas, isto é, são os órgãos do sistema reprodutor responsáveis por desenvolver e liberar os gametas (óvulos) para o processo de fecundação.
Os ovários estão situados no trato reprodutivo superior, um em cada lado do útero. A cavidade uterina faz comunicação direta com as tubas, ou trompas de falópio, através do orifício chamado óstio tubário. Por sua vez, as tubas uterinas se prolongam até bem próximo dos ovários, permitindo a captação do óvulo no momento da ovulação.
Além do desenvolvimento dos óvulos, os ovários têm a função de produzir estrogênio e progesterona, que são os hormônios reprodutivos responsáveis por alterar ciclicamente as características do tecido intrauterino (endométrio), preparando o útero para receber um embrião.
Este post aborda de que forma a SOP causa infertilidade, além de outras repercussões na saúde da mulher. Acompanhe!
O que é SOP?
A SOP é uma alteração endocrinológica complexa que pode provocar anovulação crônica, acompanhada de manifestações clínicas de hiperandrogenismo e da formação de cistos ovarianos. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessariamente uma doença que se origina nos ovários, mas tais órgãos são afetados pelo desequilíbrio hormonal resultante do excesso de andrógenos.
O termo hiperandrogenismo, justamente, se refere aos níveis elevados de hormônios masculinos no corpo da mulher. Permanece de forma consensual a ideia de que esse é o principal marcador da SOP, devido à sua participação de base na fisiopatologia da doença.
A SOP provoca disfunções no sistema reprodutivo, as quais resultam em irregularidades menstruais e dificuldade para engravidar. Há também repercussões estéticas do hiperandrogenismo, como acne, alopecia (queda de cabelo), hirsutismo (crescimento de pelos em áreas faciais e corporais tipicamente masculinas) e deposição de gordura abdominal.
O distúrbio metabólico é outra condição frequentemente associada à SOP. Muitas pacientes diagnosticadas apresentam aumento da gordura abdominal, resistência insulínica, dislipidemia (colesterol elevado) e esteatose hepática não alcoólica (gordura no fígado).
Sabe-se que as manifestações da SOP são desencadeadas pelas alterações hormonais específicas da doença. Entretanto, a gênese dessa endocrinopatia pode ter a participação de fatores genéticos e epigenéticos, ambientais e do estilo de vida, com maior predisposição nos casos de obesidade e sedentarismo.
Por que a SOP causa infertilidade?
SOP e infertilidade estão principalmente relacionadas pela anovulação crônica, mas a doença também pode acarretar fase lútea deficiente, tornando o endométrio inadequado para a implantação de um embrião.
A anovulação ocorre em razão da hipersensibilidade do hormônio luteinizante (LH) ao hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). Em ciclos ovulatórios normais, o hipotálamo secreta GnRH que leva a glândula hipófise a produzir LH e hormônio folículo-estimulante (FSH).
O FSH atua no desenvolvimento dos folículos ovarianos para que um deles chegue ao estágio de maturação ideal e libere um óvulo. O LH é a substância que promove o amadurecimento final e a ruptura folicular, causando a ovulação.
Na SOP, alterações na liberação de GnRH provocam secreção reduzida de FSH, que seria necessário para o desenvolvimento folicular. A escassez de FSH impede a estimulação adequada dos folículos, os quais não crescem e formam os microcistos ovarianos característicos da SOP. Já o LH aumentado estimula as células da teca ovariana a elevar os níveis de andrógenos circulantes, inibindo a ovulação.
A anovulação crônica é um dos critérios diagnósticos da SOP e é a causa dominante da infertilidade feminina. No entanto, a doença também está relacionada a falhas na fase lútea — período do ciclo menstrual marcado pelo aumento na concentração de progesterona para o preparo uterino.
Os níveis insuficientes de progesterona acarretam alterações endometriais que dificultam a interação molecular entre endométrio e embrião. Assim, a baixa receptividade torna o útero desfavorável para o processo de nidação, caso a ovulação e a fecundação aconteçam.
Quais são as opções de tratamento?
O tratamento é definido de acordo com os planos reprodutivos da paciente. O uso de anticoncepcionais ajuda na questão da irregularidade menstrual, assim como a administração de fármacos com ação antiandrogênica ameniza os sinais clínicos de hiperandrogenismo.
Para mulheres com SOP e infertilidade que desejam engravidar é indicada a indução da ovulação, que faz parte do amplo leque de técnicas da reprodução assistida. Esse tipo de tratamento medicamentoso aumenta os níveis de FSH que estão baixos, realizando a estimulação ovariana, de forma que vários folículos possam se desenvolver e amadurecer.
A estimulação hormonal dos ovários e a indução da ovulação são procedimentos iniciais nos três tratamentos de reprodução assistida: relação sexual programada, inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV). Entretanto, o protocolo é diferente, sendo mais intenso na FIV.
Destacamos aqui o papel da reprodução assistida nos casos de SOP e infertilidade, visto que há boas chances de sucesso com essas técnicas. Contudo, é importante que a paciente também assuma uma mudança no estilo de vida. Por exemplo, a perda de 5% a 10% do peso corporal, quando há obesidade ou sobrepeso, pode ajudar na restauração da ovulação natural em boa parte dos casos.
Acompanhe mais informações em nosso texto principal sobre a síndrome dos ovários policísticos!