O dispositivo de microfluidos é um método atual e que representa um importante recurso para melhorar as chances de sucesso nos tratamentos de reprodução humana para casais inférteis por fator masculino.
Até 25% dos casais em idade fértil podem ter dificuldades para engravidar naturalmente, sendo que a infertilidade masculina contribui para aproximadamente 30% desses casos. Para ajudar essas pessoas a vencerem seus desafios, os métodos e tecnologias usados na área de reprodução assistida são constantemente aprimorados.
A infertilidade masculina pode ter diversas causas, como infecções genitais, deficiências hormonais, alterações genéticas e/ou cromossômicas e varicocele, para citar apenas algumas. Antes de aprofundar a investigação diagnóstica para descobrir quais são as causas específicas, um exame de espermograma pode revelar alterações seminais, por exemplo:
- ausência de espermatozoides no sêmen (azoospermia);
- baixa contagem de espermatozoides (oligozoospermia);
- baixo índice de gametas com motilidade progressiva (astenozoospermia);
- baixo percentual de gametas com morfologia normal (teratozoospermia).
Ter técnicas eficientes para garantir a seleção dos espermatozoides de melhor qualidade e em quantidade suficiente é fundamental para o sucesso da reprodução assistida. A má qualidade espermática está associada a falhas de fertilização, formação de embriões frágeis, menores taxas de implantação no útero e risco aumentado para defeitos congênitos.
Leia o artigo completo e entenda como essa técnica de seleção espermática pode melhorar os resultados da fertilização in vitro (FIV)!
O que é dispositivo de microfluidos?
Os fluídos do corpo humano se movimentam por canais extremamente estreitos, com dimensões micrométricas. O dispositivo de microfluidos é uma pequena ferramenta capaz de processar mínimas quantidades de fluídos, o que se mostrou útil para a etapa de preparo seminal na FIV.
O processamento seminal é feito na reprodução assistida para obter uma amostra que contenha somente espermatozoides com potencial de fertilização, portanto, com morfologia e motilidade de acordo com os parâmetros de normalidade.
Os métodos convencionais para selecionar os espermatozoides geralmente envolvem processos de centrifugação e uso de substâncias para remover o plasma seminal, gametas mortos ou imóveis e outras células não germinativas. No entanto, os gametas são frágeis e sua exposição a esse processamento pode causar alguns danos decorrentes de estresse oxidativo.
O dispositivo de microfluidos permite isolar seletivamente os espermatozoides com boa motilidade em uma amostra que não foi submetida a outros métodos de preparo.
Esse sistema de seleção espermática foi desenvolvido com base somente em mecanismos comportamentais de motilidade dos espermatozoides, dispensando o processo de centrifugação e o uso de substâncias que possam causar estresse oxidativo e danos ao DNA das células.
Na progressão natural dos espermatozoides no trato reprodutivo feminino, os gametas também são selecionados de acordo com sua motilidade. A maioria dos que entram não consegue chegar ao local da fecundação, pois há várias barreiras dentro do corpo da mulher que precisam ser superadas — desde as glândulas endocervicais, passando pela cavidade uterina e pela junção intratubária, até encontrar o óvulo após percorrer parte da tuba uterina.
Como a FIV pode ajudar os casais com infertilidade masculina?
A FIV é a técnica mais indicada para casais com fatores de infertilidade masculina, principalmente os mais graves (por exemplo, azoospermia). Trata-se de um tratamento de alta complexidade em que as células reprodutivas femininas e masculinas são coletadas dos órgãos e os óvulos são fertilizados em laboratório.
O preparo seminal e a fertilização por injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) são importantes técnicas para lidar com os fatores masculinos. Se necessário, procedimentos complementares são utilizados na FIV para obter os espermatozoides que não são encontrados em quantidade suficiente no ejaculado.
TESE, Micro-TESE, PESA e MESA são métodos de recuperação espermática utilizados para extrair os espermatozoides dos órgãos reprodutores (testículos e epidídimos) quando o paciente apresenta azoospermia, oligozoospermia e outras condições seminais graves. Nesses casos eventualmente pode ser usada a técnica de microfluidos.
O período de cultivo dos embriões pode durar de 2 a 7 dias. Após essa etapa, a FIV é finalizada com a transferência para o útero ou procede-se com o congelamento dos embriões para transferi-los em outro ciclo reprodutivo.
Qual é a relação entre o dispositivo de microfluidos e o sucesso da FIV?
Como foi mencionado, a seleção natural dos espermatozoides ocorre dentro do corpo feminino, garantindo que somente aqueles com potencial de fertilizar o óvulo cheguem ao local da fecundação. Sendo assim, mais de 100 milhões de gametas masculinos podem entrar no trato genital da mulher, mas poucas centenas deles conseguem terminar sua migração para as tubas uterinas.
Usar uma combinação de métodos para selecionar espermatozoides com real capacidade de fecundação é uma estratégia eficiente na reprodução assistida. Nesse sentido, o dispositivo de microfluidos é um recurso promissor.
Os métodos mais comuns de preparo seminal não conseguem reduzir as taxas de fragmentação do DNA espermático — podem até contribuir para esses danos. Sabe-se que quando há altas taxas de gametas com DNA fragmentado, há um risco potencial de gerar embriões de baixa qualidade.
Na etapa de processamento seminal com o dispositivo de microfluidos, o sêmen não centrifugado é colocado no fluxo de entrada e os gametas com boa motilidade conseguem chegar ao fluxo de saída mantendo a integridade de seu DNA. Em seguida, são cumpridas as demais etapas da FIV: fertilização dos óvulos com ICSI, cultivo embrionário e transferência dos embriões para o útero.
Aproveite e faça a leitura do texto sobre FIV- fertilização in vitro para entender melhor como é esse tratamento!
