Muitas doenças podem afetar o útero, uma delas é a adenomiose. Trata-se de uma condição inflamatória e hormônio-dependente que pode causar sintomas incômodos à mulher. Acredita-se, ainda, que a patologia tenha mecanismos associados à infertilidade feminina, embora não existam provas definitivas dessa relação.
Na adenomiose, ocorre o crescimento de células do endométrio dentro do miométrio. Esses nomes se referem a duas camadas da parede uterina. Apesar de os tecidos endometrial e miometrial constituírem o mesmo órgão, eles têm funções distintas. Sendo assim, as lesões causadas por essa doença podem afetar o funcionamento adequado do útero.
Existem semelhanças fisiopatológicas entre a adenomiose e a endometriose — inclusive, as duas podem coexistir —, mas são doenças diferentes. Na adenomiose, as células endometriais se implantam no tecido adjacente, o miométrio. Já na endometriose, os fragmentos de endométrio são encontrados fora do útero, em órgãos como intestino, bexiga, tubas uterinas e ovários.
Leia mais e entenda com mais clareza a relação entre adenomiose, endométrio e infertilidade!
O que é endométrio?
O endométrio é a camada interna da parede do útero. Suas importantes funções incluem: receber e nutrir o embrião, em caso de gravidez; descamar de forma cíclica para causar a menstruação, e depois se renovar para outra possibilidade de implantação embrionária.
A camada endometrial passa por mudanças durante as fases do ciclo menstrual. O hormônio estrogênio estimula o crescimento das células e aumenta a espessura do tecido, enquanto a progesterona age melhorando a receptividade do endométrio para que um embrião possa se implantar.
Se não houver fertilização do óvulo e implantação embrionária, o endométrio descama, causando a menstruação, pois ocorre uma queda nos níveis dos hormônios que fazem o preparo endometrial.
Na adenomiose, tanto o endométrio quanto os fragmentos endometriais que se infiltram no miométrio crescem ao longo do ciclo menstrual. Entretanto, as células que estão fora de seu local normal desencadeiam uma reação inflamatória.
Dessa forma, a adenomiose é considerada uma doença hormônio-dependente, assim como a endometriose e os miomas uterinos, que sofrem influência principalmente do estrogênio.
Como a adenomiose afeta o endométrio e a fertilidade?
Antes de falar sobre os possíveis impactos da adenomiose, é importante explicar as diferenças entre as funções do endométrio e do miométrio. Como já dito, o tecido endometrial é o revestimento interno do útero e tem relação com a implantação embrionária e com a menstruação.
Por sua vez, o miométrio é a camada intermediária do útero e é constituído por tecido de musculatura lisa, sendo responsável pela contratilidade uterina — importante para as contrações de parto — e a capacidade de expansão do útero na gravidez.
A adenomiose é frequentemente apontada como uma possível causa de infertilidade. No entanto, os dados ainda são inconclusivos. Há estudos que abordam a associação dessa patologia com resultados negativos nas taxas de gravidez e de nascidos vivos, além de aumentar o risco de aborto espontâneo e prejudicar os tratamentos com fertilização in vitro (FIV).
Embora a relação entre adenomiose e infertilidade não esteja definitivamente estabelecida, acredita-se que a doença tenha os seguintes mecanismos:
- aumento de marcadores inflamatórios e estresse oxidativo no ambiente uterino;
- alteração na receptividade do endométrio e na expressão das moléculas de adesão, importantes para a implantação embrionária;
- distorção anatômica da cavidade endometrial;
- contratilidade uterina anormal, o que aumenta o risco de abortamento e parto prematuro.
Um ponto importante quando falamos em adenomiose e infertilidade é que, classicamente, os fatores de risco para a doença incluem: mulheres com mais de 40 anos; multíparas (que passaram por duas ou mais gestações); pacientes que passaram por cesariana ou outra cirurgia uterina. Entretanto, o diagnóstico tem sido cada vez mais comum em mulheres jovens e com intenção de ter filhos.
Como é o tratamento?
Para definir o tratamento, é preciso considerar o desejo de gravidez, a idade da mulher e a intensidade dos sintomas.
A doença é assintomática em até um terço das mulheres diagnosticadas. Quando há sintomas, podem ser intensos e prejudicar a qualidade de vida. Os mais comuns são sangramento uterino anormal e cólicas menstruais, agravadas pela alteração na contratilidade uterina.
O tratamento medicamentoso tem a finalidade de controlar os sintomas. Mulheres que não querem engravidar podem fazer uso de fármacos hormonais, como anticoncepcionais orais combinados e dispositivo intrauterino (DIU) à base de progesterona.
A histerectomia (cirurgia para remoção parcial ou total do útero) é uma alternativa para a cura definitiva da adenomiose em mulheres com idade avançada e que não querem ter mais filhos.
O tratamento da adenomiose com o objetivo de engravidar ainda é controverso. As opções são: as técnicas de reprodução assistida, tratamento medicamentoso e, excepcionalmente, a cirurgia. Pesquisas mais conclusivas sobre uma estratégia ideal ainda são necessárias.
Na reprodução assistida, a FIV é uma possibilidade quando há fatores uterinos envolvidos. Procedimentos adicionais podem ser indicados nos casos de adenomiose, como o uso de fármacos agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH-a) ou letrozol para melhorar as chances de implantação.
Confira também o texto institucional para saber mais sobre adenomiose!