Parece simples engravidar — afinal, é algo que acontece naturalmente com a maioria dos casais —, mas não é tão simples assim. A reprodução humana é um processo complexo e que passa por várias etapas, portanto, depende de uma série de fenômenos biológicos, incluindo produção e liberação dos gametas, fecundação, clivagem do zigoto e implantação embrionária.
O processo reprodutivo começa, de fato, com a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Depois disso, ocorre o desenvolvimento pré-embrionário que leva ao estágio de blastocisto, quando o óvulo fecundado apresenta um agrupamento numeroso de células. Nessa fase, pode acontecer a implantação do embrião no revestimento interno da parede uterina (endométrio).
A implantação embrionária, ou nidação, é o marco inicial da gravidez. A partir daí, ainda há um longo caminho pela frente. São nove meses para que se formem todos os tecidos e sistemas orgânicos do novo ser humano.
Entenda agora, de forma mais detalhada, como ocorre o desenvolvimento inicial do embrião e o que é exatamente a clivagem do zigoto!
O que é fecundação?
Fecundação é o momento em que o espermatozoide (gameta masculino) penetra no óvulo (gameta feminino) para formar o zigoto. O contato inicial entre as duas células marca apenas o início do processo de fertilização.
O óvulo é uma célula bem maior que o espermatozoide. Isso permite que centenas de gametas masculinos façam contato com a célula feminina, mas somente um penetra a zona pelúcida (membrana que circunda o óvulo) e, de forma fisiológica, realiza a fecundação.
O processo de fertilização se completa com a fusão cromossômica, isto é, a mistura genética dos gametas. É isso que forma um novo indivíduo com um DNA único.
Vale lembrar que a fecundação depende do bom funcionamento das gônadas (ovários e testículos). São esses órgãos que desenvolvem e liberam os gametas, por isso precisam estar saudáveis e respondendo regularmente ao estímulo natural dos hormônios gonadotróficos.
O que é clivagem do zigoto?
O zigoto é a primeira célula do novo ser, originada da fusão do espermatozoide com o óvulo. Essa estrutura pré-embrionária herda 23 cromossomos maternos e 23 paternos, cumprindo o cariótipo normal da espécie humana que é de 46 cromossomos — sendo 22 pares autossômicos (que determinam as características gerais do indivíduo) e um par de cromossomos sexuais (que definem o sexo biológico).
Um dia após a fecundação, começa a fase de clivagem do zigoto, caracterizada por divisões mitóticas consecutivas. Esse período do desenvolvimento pré-embrionário também é chamado de segmentação e resulta na multicelularidade do embrião.
As células resultantes da clivagem do zigoto são chamadas de blastômeros. A cada 24 horas, aproximadamente, ocorre uma nova divisão celular, dobrando o número de blastômeros. Assim, entre o 4º e o 5º dia após ser gerado, o zigoto apresenta de 16 a 32 células, atinge o estágio de mórula. A chegada à cavidade uterina pode variar de 2 a 6 dias.
Lembrando que o óvulo é liberado pelo ovário e a fecundação acontece na tuba uterina. Durante a clivagem do zigoto, as células embrionárias permanecem protegidas pela zona pelúcida, permitindo seu deslocamento através da tuba em direção ao útero.
Entre o 5º e o 7º dia de desenvolvimento, o embrião chega ao estágio de blastocisto e está fisiologicamente pronto para se implantar no endométrio. A essa altura, já existe um grande número de células que formam uma massa celular interna com blastômeros bem compactados. Essa massa é o embrioblasto, parte que dará origem ao embrião propriamente. Já o trofoblasto, camada celular externa do blastocisto, formará a placenta.
Como é o desenvolvimento embrionário na reprodução assistida?
As técnicas de reprodução assistida são indicadas para casais que ficam inférteis por vários fatores. As pessoas ainda têm muitas dúvidas em relação a como essas técnicas funcionam. Uma das dúvidas diz respeito justamente ao desenvolvimento embrionário: será que é diferente?
Na verdade, o embrião se desenvolve da mesma forma na gestação espontânea e na reprodução assistida, ou seja, também passa pelas etapas de clivagem do zigoto, estágios de mórula e de blastocisto antes de se implantar no endométrio.
A diferença nesses tratamentos está no que acontece antes da formação do zigoto, isto é, em como os gametas são obtidos e como a fecundação acontece. Para entender melhor, precisamos relembrar que as técnicas de reprodução assistida incluem:
- relação sexual programada (RSP) e inseminação intrauterina (IIU), ambas de baixa complexidade;
- fertilização in vitro (FIV), de alta complexidade.
Na RSP e na IIU, a fecundação ocorre na tuba uterina, assim como na reprodução natural, e as etapas seguintes são aquelas que já descrevemos. A diferença nesses tratamentos está apenas no estímulo ao desenvolvimento dos óvulos.
Além disso, na IIU, também é feito o preparo seminal para introduzir uma amostra processada de sêmen no útero da paciente, contendo somente espermatozoides com boa morfologia e motilidade — portanto, com potencial de fertilização.
Já na FIV, que é uma técnica complexa e com vários procedimentos, a estimulação ovariana e a preparação seminal também são realizadas. Depois disso, os óvulos são fertilizados em laboratório e o desenvolvimento embrionário inicial ocorre em incubadora com time-lapse, que permite a observação ininterrupta dos embriões.
Assim, um embriologista pode acompanhar o processo de clivagem do zigoto e avaliar a qualidade embrionária, identificando aqueles que podem se desenvolver até o estágio de blastocisto. Os embriões com maior potencial de implantação, então, são transferidos para o útero materno.
Quer conhecer de forma detalhada essa complexa técnica da reprodução assistida? Visite nosso texto sobre fertilização in vitro!