As pessoas que buscam informações sobre reprodução assistida procuram, principalmente, por temas como fertilização in vitro (FIV), inseminação artificial e infertilidade, mas também há outros assuntos que podemos trazer para esclarecer dúvidas, como a consanguinidade.
Esse é um tema extremamente relevante no contexto da reprodução assistida, pois há técnicas específicas que devem ser realizadas com os cuidados necessários para que não exista consanguinidade, pois isso poderia prejudicar os planos reprodutivos do casal.
As técnicas da medicina reprodutiva e as normas éticas que orientam os serviços de reprodução assistida passam por atualizações constantes. A consanguinidade é um assunto relativamente novo nessa área. Por isso, desenvolvemos este texto e, agora, vamos explicar o conceito e sua importância para o conhecimento de casais que buscam ajuda médica para engravidar. Acompanhe!
O que é consanguinidade?
Consanguinidade significa a afinidade por laços de sangue entre indivíduos que compartilham de genética semelhante, pois são descendentes de algum ancestral em comum. Em vários graus de parentesco existe esse elo, desde pais até primos.
A palavra consanguinidade tem origem no latim, sendo derivada das palavras “con” (mesmo) e “sanguis” (sangue), portanto, significa: do mesmo sangue.
Partindo disso, entende-se que relações consanguíneas são aquelas estabelecidas entre parentes de sangue. Do ponto de vista da genética e da reprodução humana, há riscos envolvidos, pois há maiores chances de combinação de determinados genes recessivos. Conforme o grau de consanguinidade, esses riscos aumentam.
Vale esclarecer que os graus de parentesco incluem: pais e filhos (1º grau); avós e irmãos (2º grau); tios e sobrinhos (3º grau); primos (4º grau).
Quanto mais próximo for o parentesco, mais chances o casal tem de compartilhar genes recessivos. O problema disso é que alguns desses genes estão associados às chamadas doenças autossômicas recessivas. Quando herdados duas vezes, a probabilidade de os descendentes desenvolverem tais anormalidades é muito maior.
Veja alguns exemplos de doenças autossômicas recessivas:
- fenilcetonúria;
- fibrose cística;
- anemia falciforme;
- albinismo;
- atrofia muscular espinhal.
Consanguinidade e reprodução assistida: qual é a relação?
A reprodução assistida é a área da medicina que tem como objetivo possibilitar a gravidez para pessoas e casais que não conseguem ter filhos de modo natural.
São inúmeros os fatores de infertilidade feminina e masculina, muitos deles podem ser superados com os tratamentos principais da reprodução assistida: coito programado ou relação sexual programada com estimulação ovariana; inseminação artificial; fertilização in vitro (FIV).
Grande parte dos tratamentos é feita com os gametas (óvulos e espermatozoides) dos próprios pacientes, mas há casos específicos em que o homem ou a mulher não podem utilizar suas células reprodutivas e precisam contar com doação de óvulos ou sêmen.
A doação de óvulos ou ovodoação é indicada nos seguintes casos:
- mulheres com número insuficiente de óvulos, seja por idade avançada ou por menopausa precoce;
- qualidade insuficiente dos óvulos, inviabilizando a formação de embriões saudáveis e com potencial de implantação;
- alto risco de transmitir doenças genéticas para os descendentes, quando não é possível realizar o teste genético pré-implantacional (PGT);
- reprodução de casais homoafetivos masculinos.
A doação de sêmen tem indicações semelhantes, as quais incluem:
- risco elevado de transmitir anomalias genéticas para os filhos;
- ausência de espermatozoides, não sendo possível obtê-los nem mesmo com técnicas de recuperação espermática;
- gravidez de casais homoafetivos femininos ou mulheres solteiras que querem a reprodução independente.
A relação entre consanguinidade e doação de gametas na reprodução assistida está baseada nas normas atuais do Conselho Federal de Medicina (CFM), que permitem o uso de gametas de parentes, desde que a mulher e o homem que vão dispor, respectivamente, dos óvulos e espermatozoides não tenham laços consanguíneos — a explicação fica mais clara, logo a seguir.
O que dizem as normas do CFM?
As versões anteriores da resolução do CFM sobre as práticas da reprodução assistida determinavam que a doação de gametas e embriões deveria vir somente de doadores anônimos. No documento atual, a resolução de número 2.320/2022, consta que os pacientes também podem receber gametas de parentes, desde que não exista consanguinidade.
A norma diz exatamente o seguinte: “Os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa, exceto na doação de gametas ou embriões para parentesco de até 4º (quarto) grau, de um dos receptores (primeiro grau: pais e filhos; segundo grau: avós e irmãos; terceiro grau: tios e sobrinhos; quarto grau: primos), desde que não incorra em consanguinidade”.
Isso quer dizer que os gametas recebidos não devem ser unidos às células reprodutivas da pessoa com parentesco consanguíneo, mas sim do (a) parceiro (a). Por exemplo, se o casal precisar de doação de óvulos, eles precisam vir de alguma parente da própria mulher, pois como os espermatozoides de seu parceiro serão utilizados, os óvulos não podem ser de alguma familiar do homem.
Com a possibilidade do uso de gametas de parentes, aumentamos as chances dos casais inférteis, que não precisam esperar pelo material de doadores anônimos. Contudo, é fundamental observar os critérios das normas éticas para evitar consanguinidade e, dessa forma, reduzir os riscos de gerar uma criança com algum tipo de doença autossômica recessiva. Visite também o texto sobre FIV – fertilização in vitro e conheça essa técnica de alta complexidade da reprodução assistida!