A palavra “epigenética” já indica uma relação com questões genéticas. Quando falamos em reprodução humana, os fatores genéticos têm um papel central, tanto em gestações espontâneas quanto por técnicas de reprodução assistida.
Genética é o ramo das ciências biológicas que estuda os genes. Estão associadas a isso questões como hereditariedade e variações genéticas dos indivíduos. Portanto, é um campo que tem relação com transmissão e recepção de características (genótipo e fenótipo) de geração para geração.
Genótipo e fenótipo são dois conceitos interligados. O primeiro diz respeito à constituição genética de um indivíduo, ou seja, o conjunto de genes herdados dos progenitores. Já o fenótipo se refere à expressão dos genes e sua interação com o ambiente, o que resulta em características observáveis.
Além do gene, o cromossomo é outro termo fundamental para a compreensão da genética. Um cromossomo carrega de centenas a milhares de genes.
No momento da fecundação do óvulo, na formação de um novo organismo, ocorre a mistura cromossômica com a fusão das células masculina (espermatozoide) e feminina (óvulo). Assim, o novo indivíduo passa a ter um DNA exclusivo ao herdar 23 cromossomos do pai e 23 da mãe — esse conjunto recebe o nome de cariótipo e possui todas as informações que determinam as características de cada pessoa.
Agora que você já tem uma ideia do que é genética e sua importância para a reprodução humana, continue a leitura deste post e entenda o conceito de epigenética!
O que é epigenética?
A epigenética é um conceito que tem sio muito discutido na comunidade científica atual. O prefixo “epi” vem do grego e significa “sobre, acima”. Sendo assim, o termo quer dizer “sobre a genética”. Tem relação próxima com os genes, mas trata-se de uma camada a mais para entendermos a complexidade da biologia humana.
Em síntese, a epigenética é o ramo das ciências biológicas que estuda as mudanças reversíveis na expressão dos genes. Isso significa que há componentes que podem alterar a leitura gênica, sem mudar a sequência do DNA — então, não é sobre quais são os genes, mas sobre o que eles estão fazendo, isto é, como eles são lidos e como se expressam.
Segundo a epigenética, a expressão gênica pode ser ajustada por influências do ambiente em que o indivíduo vive, mas sem alterar o genoma. Nesse sentido, tem sido estudada a influência disso nas principais doenças da modernidade, tais como câncer, obesidade, diabetes, desordens neurológicas, vícios, depressão, disfunções comportamentais e até traumas emocionais vivenciados pelos pais, configurando uma “memória epigenética”.
Apesar dos avanços para a compreensão desse conceito, ainda há muitas lacunas e um amplo espaço para o aprendizado sobre como a epigenética influencia tais fatores.
As mudanças químicas associadas à epigenética permitem que alguns genes permaneçam ativos, enquanto inibe a expressão de outros, influenciando na fisiologia e no comportamento dos descendentes. Veja, por exemplo, os irmãos gêmeos monozigóticos idênticos, que contêm a mesma sequência de DNA, mas podem apresentar diferenças significativas até em relação à saúde.
Seja nos filhos concebidos em uma gestação espontânea, com heranças genéticas de seus pais biológicos, seja nos filhos gerados por técnicas de reprodução assistida, que podem envolver material genéticos de terceiros, a epigenética tem importante influência.
Qual é o papel da epigenética nas gestações por reprodução assistida?
Um ponto muito interessante sobre como a epigenética influencia as gestações por reprodução assistida é que mesmo os filhos gerados por doação de gametas ou embriões podem herdar características dos pais não genéticos.
Há várias situações em que o casal é indicado ao tratamento com fertilização in vitro (FIV) e precisa de doação de óvulos, de sêmen ou de embriões para engravidar. Esse contexto em que se usa material biológico de terceiros é chamado de reprodução assistida heteróloga.
Como ainda há muito desconhecimento das pessoas em relação a isso, pode haver apreensão sobre como é a gravidez e como será o vínculo com a criança.
Por isso, se o casal conhecer um pouco do conceito de epigenética poderá entender que os futuros pais podem, de alguma forma, contribuir geneticamente, visto que a expressão gênica pode ser modificada a partir da interação com o ambiente.
No caso da mulher que engravida com a doação de óvulos ou embriões, isso é ainda mais interessante, pois não se trata somente de heranças do convívio. Há pesquisas em andamento que investigam uma possível interação genética com a mãe durante a gestação ou mesmo antes da completa implantação do embrião no útero, o que parece estar associado a moléculas do organismo materno que são parcialmente absorvidas pelo embrião.
Mesmo que ainda exista uma margem ampla para os estudos sobre epigenética, um fato é certo na gestação com doação de gametas ou embriões: a comunicação materno-fetal é indiscutível. Os fatores emocionais e as conversas com a criança, enquanto ela ainda está em vida intrauterina, influenciam grandemente o vínculo afetivo, que, futuramente, terá impactos nos aspectos físicos e cognitivos.
Vemos, então, que as informações trocadas durante a gestação entre os organismos de mãe e filho — independentemente de ter sido por concepção espontânea ou por reprodução assistida heteróloga — são importantes nas modificações epigenéticas. Além disso, vale lembrar que a contribuição dos pais para o desenvolvimento dos filhos vai muito além da herança genética, pois é a convivência e o fortalecimento contínuo dos vínculos que vai estruturá-los.
Gostaria de conhecer mais técnicas de reprodução assistida? Siga este link e saiba o que é fertilização in vitro com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (FIV ICSI).