A reprodução assistida reúne várias técnicas voltadas ao tratamento de casais inférteis. Desde as primeiras aplicações clínicas, houve um significativo avanço da tecnologia e da ciência, tornando possível o desenvolvimento e o aprimoramento de vários recursos no campo da medicina reprodutiva — um deles é a vitrificação.
A técnica que vamos apresentar neste post é uma modalidade específica da criopreservação. Os termos podem não ser tão conhecidos pelo público em geral, mas estão associados às práticas de congelamento de óvulos, sêmen e embriões. Nesse leque de técnicas complexas da reprodução assistida, também falaremos sobre preservação social da fertilidade.
Faça sua leitura atentamente, pois agora vamos apresentar detalhes sobre vitrificação e sua importância na reprodução assistida, abordando também as técnicas relacionadas.
O que é vitrificação e quando a técnica é necessária?
A vitrificação é um método de congelamento ultrarrápido que faz parte da criopreservação — técnica utilizada para preservar a vitalidade e a qualidade das células quando os materiais biológicos são mantidos em temperaturas extremamente baixas (196 graus negativos).
Na área da reprodução humana assistida, a criopreservação é necessária para fazer o congelamento de óvulos, sêmen e embriões, além de tecidos gonádicos (dos ovários e testículos). A vitrificação é a modalidade mais empregada atualmente para congelar esses materiais.
Para criopreservar as células e tecidos, substâncias crioprotetoras são adicionadas para evitar a formação de cristais de gelo e consequentes danos intracelulares. Com a vitrificação, os gametas e embriões mudam de estado em poucos minutos. O descongelamento também é rápido e feito somente no momento em que é dada continuidade ao processo de reprodução assistida.
Veja em quais situações a vitrificação é realizada!
Preservação social da fertilidade
A preservação social da fertilidade é uma alternativa para mulheres que querem adiar a maternidade para depois dos 35 anos. Os homens também podem fazer essa escolha, mas a fertilidade feminina sofre os impactos da passagem do tempo bem mais rápido que a masculina.
Nota-se, na sociedade moderna, que a mulher tem muito mais oportunidades para trabalhar, estudar, escolher seus parceiros ou mesmo realizar outros projetos pessoais — um cenário bem diferente do que era no passado, quando a vida da mulher era centralizada em constituir família e cuidar dos filhos e do lar.
Com essas mudanças sociais, a gravidez tardia passou a ser uma condição frequente. A busca pelos serviços de reprodução assistida também aumentou e vemos que muitos casos são de infertilidade feminina pelo fator da idade materna. Isso porque, com o passar dos anos, a reserva ovariana diminui (quantidade de óvulos armazenados), bem como a qualidade das células reprodutivas.
Diante disso, vemos a importância de oferecer à mulher a possibilidade de fazer a preservação social da fertilidade por meio do congelamento de óvulos. As etapas necessárias são:
- realização de exames — por exemplo, avaliação da reserva ovariana, sorologias e testes genéticos;
- estimulação ovariana com medicamentos hormonais, para desenvolver vários óvulos em um mesmo ciclo;
- aspiração dos folículos ovarianos antes da ovulação e coleta dos óvulos em laboratório;
- análise das células e vitrificação.
Preservação da fertilidade por razões médicas
A vitrificação também pode ser indicada quando a fertilidade dos pacientes está em risco por motivos médicos, como diante da necessidade de um tratamento oncológico ou de cirurgias que possam alterar o funcionamento das gônadas.
A princípio, essa possibilidade era destinada sobretudo aos pacientes com diagnóstico de câncer, por isso a técnica é chamada de preservação oncológica da fertilidade. Terapias como quimioterapia e radioterapia são eficazes para destruir as células cancerígenas, mas também podem afetar as células saudáveis, interferindo em algumas funções do organismo, de forma temporária ou definitiva. Assim, o congelamento de óvulos e espermatozoides é uma importante indicação para esses pacientes.
A criopreservação de gametas e embriões também é uma opção para quem vai se submeter a uma cirurgia para retirada das gônadas, devido a tumores e outras doenças graves, ou se houver risco de lesionar esses órgãos. É o caso da cirurgia de endometrioma — um tipo de endometriose que acomete os ovários.
Já vimos acima as etapas que precedem o congelamento de óvulos. Os procedimentos para congelar o sêmen são ainda mais simples. A amostra de esperma é coletada, normalmente por masturbação, e submetida a técnicas de preparo seminal, com o objetivo de identificar os espermatozoides móveis e com morfologia normal. Os gametas selecionados permanecem em tanques de nitrogênio líquido até que precisem ser utilizados.
Vale esclarecer que o congelamento de óvulos somente pode ser feito para utilizá-los futuramente em um tratamento com fertilização in vitro (FIV). Já o sêmen criopreservado — se cumprir os parâmetros de concentração, motilidade e morfologia — também pode ser utilizado na inseminação artificial.
Congelamento de embriões durante ou após a FIV
Durante os tratamentos com FIV, a vitrificação é útil em várias situações. A principal delas é o congelamento dos embriões remanescentes, isto é, aqueles que não foram transferidos em um ciclo de FIV. Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), é permitida a transferência de até 2 embriões para mulheres com idade limite de 37 anos e de até 3 embriões para pacientes com mais de 37 anos.
Não raro, um número maior de embriões consegue chegar ao final do ciclo de FIV. Quando isso acontece, eles são criopreservados e o casal deve decidir o que fazer: preservar para novas tentativas de gravidez no futuro ou doar.
Não podemos finalizar este post sem falar sobre a técnica freeze-all, que consiste em congelar todos os embriões gerados em um ciclo de FIV. Isso é feito nos seguintes casos:
- risco de síndrome do hiperestímulo ovariano (SHO);
- problemas endometriais, como baixa espessura (“endométrio fino”);
- indicação para o teste genético pré-implantacional (PGT);
- indicação para o endometrial receptivity array (ERA) — teste de receptividade endometrial.
Agora que você sabe um pouco mais sobre vitrificação, leia na íntegra nosso texto sobre criopreservação e complemente suas informações!