Endométrio e endometriose estão relacionados, mas a doença não afeta exatamente o útero. Os principais locais afetados pelas lesões endometrióticas são os órgãos e tecidos que estão próximos ao útero, como peritônio, tubas uterinas, ovários, ligamentos uterossacros, região retrocervical, intestino e bexiga.
A endometriose é uma doença crônica e inflamatória que acomete várias partes da região pélvica e tem estreita relação com a infertilidade feminina. Além de interferir nas chances de gravidez espontânea, essa patologia traz sérios prejuízos à qualidade de vida da portadora devido aos sintomas dolorosos que pode provocar.
Mulheres que percebem alterações ginecológicas, como cólicas menstruais intensas, ou que vem tentando engravidar e não conseguem devem buscar avaliação médica. A endometriose necessita de atenção. Quanto antes a portadora chegar ao diagnóstico e realizar o tratamento, mais chances de ter uma gravidez saudável, controlar os demais sintomas e restaurar sua qualidade de vida.
Neste post, vamos explicar o que é endométrio, qual sua relação com a endometriose e outras informações sobre o assunto. Confira!
O que é endométrio?
O endométrio é o tecido que reveste o útero internamente. Sua função é abrigar o embrião durante as primeiras semanas de gravidez, garantindo sua nutrição até que a placenta esteja completamente formada para assumir esse papel. Também é a descamação do tecido endometrial que dá origem ao sangramento menstrual.
Os hormônios estrogênio e progesterona, produzidos nos ovários, são responsáveis por preparar o útero para a gestação. De forma cíclica, essas substâncias agem no corpo feminino da seguinte maneira: o estrogênio ativa a proliferação das células, aumentando a espessura do endométrio para que um embrião consiga se prender, enquanto a progesterona aumenta a receptividade endometrial.
Se não houver fecundação nem um embrião para se implantar, o tecido endometrial descama e é eliminado do útero em forma de menstruação.
Afinal, qual é a relação entre endometriose e endométrio?
A endometriose é caracterizada pela presença de células semelhantes às do endométrio fora do útero. Essas células se implantam em outras partes da região pélvica, respondem à ação do estrogênio, se proliferam e sangram, causando inflamação local e, nos estágios avançados, formam aderências cicatriciais que distorcem a anatomia dos órgãos lesionados.
Normalmente, as lesões provocam sintomas dolorosos e interferem nas funções dos órgãos. Por exemplo, quando o endométrio ectópico se aloja no ovário forma cistos que prejudicam a reserva ovariana (número de óvulos guardados) e a foliculogênese (processo de desenvolvimento dos folículos que guardam os óvulos). Já as tubas uterinas podem sofrer distorção e obstrução.
Os impactos da doença também são percebidos nas funções intestinais e urinárias, quando as lesões endometrióticas afetam intestino e bexiga. Nesses casos, a portadora apresenta alterações antes e durante o período menstrual, como dor para evacuar e urinar, aumento da frequência urinária, diarreia ou prisão de ventre e sangramento retal.
Importante deixar claro que a doença não afeta propriamente o útero. A relação é que a endometriose é um endométrio fora da cavidade uterina, ou melhor, é a inflamação decorrente da presença desse tecido em locais em que ele não deveria existir.
Como a endometriose pode afetar a fertilidade?
Na endometriose, há uma série de mecanismos que podem provocar infertilidade. Antes de explicar os fatores envolvidos, é oportuno explicar que a doença é classificada em três tipos: peritoneal superficial, ovariana e infiltrativa profunda.
Em mulheres com endometriose superficial, as lesões são encontradas pelo peritônio, mas sem implantes profundos. A membrana peritoneal tem a função de revestir os órgãos da cavidade pélvica. Nesse tipo de endometriose, apesar de as lesões serem superficiais, há uma inflamação pélvica abrangente. Assim, a liberação de substâncias pró-inflamatórias pode afetar a foliculogênese, a migração dos espermatozoides, a qualidade dos óvulos e a fertilização.
Na endometriose ovariana, também chamada de endometrioma, o tecido endometriótico e os resíduos de sangramento cíclico formam endometriomas, que são cistos preenchidos por uma substância espessa e de coloração achocolatada. Por se formar próximo ao córtex do ovário, onde se localiza a reserva ovariana, esse tipo da doença oferece um risco acentuado à fertilidade.
A endometriose infiltrativa profunda é a mais agressiva quanto à sintomatologia e ao comprometimento funcional dos órgãos. Nessa condição, o endométrio ectópico penetra no peritônio e se infiltra nos órgãos. A presença de aderências pode distorcer ou obstruir as tubas uterinas, prejudicando a captação e o transporte do óvulo e a passagem dos espermatozoides.
Como lidar com a infertilidade?
Algumas portadoras de endometriose conseguem engravidar naturalmente. Entretanto, em grande parte dos casos, é preciso fazer tratamento para restaurar a fertilidade.
A cirurgia para remoção dos implantes de endométrio ectópico é indicada quando a paciente apresenta sintomas intensos e quando há presença de aderências e comprometimento anatômico e funcional dos órgãos. Entretanto, é fortemente indicado pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia que a portadora congele óvulos ou embriões antes da cirurgia.
É possível que a gravidez aconteça de forma espontânea após o tratamento cirúrgico, mas isso depende de fatores como idade da mulher, estado da reserva ovariana e permeabilidade tubária. Pacientes com mais de 35 anos, presença de endometrioma e obstrução das tubas uterinas têm mais chances de engravidar com a fertilização in vitro (FIV).
A FIV é uma técnica avançada de reprodução assistida, indicada para os casos mais graves de infertilidade feminina e masculina, que alcança bons resultados no tratamento de mulheres com endometriose em estágio grave. Em condições mais leves, também é possível optar pela indução da ovulação associada ao coito programado.
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