A infertilidade masculina é uma condição que pode estar associada a alterações nos parâmetros seminais, que incluem o número, a motilidade e a morfologia dos espermatozoides.
Tanto a astenozoospermia (alterações na motilidade espermática) quanto a teratozoospermia (alterações na morfologia espermática) são alterações que prejudicam o bom desempenho do espermatozoide no trato reprodutivo feminino, dificultando a concepção natural.
Neste artigo, vamos falar sobre esses dois parâmetros seminais específicos, sua influência na fertilidade masculina e as possibilidades de tratamento.
Entenda o que são parâmetros seminais
Parâmetros seminais são os critérios utilizados para avaliar a qualidade e a fertilidade do sêmen e incluem:
- Volume;
- pH;
- Viscosidade;
- Liquefação;
- Concentração;
- Motilidade;
- Morfologia;
- Vitalidade;
- Contagem de leucócitos.
Morfologia do espermatozoide
A morfologia espermática é um parâmetro que refere-se ao formato e estrutura dos espermatozoides. Um espermatozoide normal é constituído por três partes principais:
- Cabeça (formato oval e regular, contendo o núcleo com o material genético (DNA);
- Peça intermediária (contém as mitocôndrias, que fornecem energia para a movimentação);
- Cauda (estrutura que possibilita a propulsão do espermatozoide e sua locomoção no trato reprodutivo feminino).
A morfologia espermática é importante no processo de fecundação por vias naturais por diversos motivos. A forma adequada da cabeça do espermatozoide ajuda a penetração no óvulo, permitindo a junção com a zona pelúcida para posterior entrada do material genético masculino.
A peça intermediária é essencial na vitalidade e na motilidade do espermatozoide e a cauda, por sua vez, é responsável pela propulsão e direção do movimento – como veremos a seguir.
Motilidade do espermatozoide
Já a motilidade espermática refere-se à capacidade de movimentação dos espermatozoides, fundamental para que esses possam transitar no trato reprodutivo feminino até encontrar o óvulo.
O movimento do espermatozoide é gerado pela vibração do flagelo ou cauda: esse movimento é impulsionado por um complexo sistema de microtúbulos e proteínas motoras, ligados à peça intermediária, que permitem ao flagelo se contrair e se estender de maneira coordenada, criando ondas que o impulsionam através do fluido seminal e do ambiente do corpo feminino, em direção ao óvulo.
Essas barreiras naturais do trato reprodutivo feminino, são importantes para a seleção natural, fazendo com que apenas os espermatozoides com boa motilidade consigam alcançar o óvulo, e somente os gametas mais vigorosos e saudáveis tenham a chance de participar da fertilização.
Alterações na morfologia e motilidade dos espermatozoides podem causar infertilidade masculina?
Astenozoospermia e teratozoospermia são duas condições relacionadas a alterações na qualidade espermática que se referem especificamente a problemas na motilidade e na morfologia dos espermatozoides e pode afetar de forma determinante a fertilidade masculina.
Astenozoospermia
A astenozoospermia é caracterizada pela baixa motilidade dos espermatozoides e inclui não somente a capacidade dos espermatozoides de se moverem, mas também de o fazerem de maneira eficiente e direcionada: a motilidade progressiva.
Os espermatozoides podem ser classificados de acordo com três tipos de motilidade:
- Motilidade progressiva e linear: os espermatozoides se movem para frente de forma direta e eficiente;
- Motilidade progressiva, mas não linear: os espermatozoides se movem para frente, mas de maneira irregular ou em zigue-zague;
- Sem motilidade progressiva: os espermatozoides podem se mover, mas não conseguem se deslocar de maneira eficaz para frente, ou permanecem imóveis.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma amostra de sêmen é considerada normal quando pelo menos 32% dos espermatozoides apresentam motilidade progressiva. Valores abaixo desse limiar indicam astenozoospermia.
Teratozoospermia
Teratozoospermia é uma condição caracterizada por uma alta proporção de espermatozoides com morfologia anormal. As anomalias na morfologia podem incluir cabeças malformadas, peças intermediárias anormais e caudas defeituosas ou inexistentes.
Espermatozoides com morfologia anormal podem apresentar problemas de motilidade (quando a teratozoospermia está associada à astenozoospermia) e, com isso, ter dificuldade para nadar de forma eficiente, mas também de encaixar na zona pelúcida e penetrar o óvulo, o que pode até mesmo inviabilizar a fecundação.
Segundo a OMS, uma amostra de sêmen é considerada normal do ponto de vista morfológico quando pelo menos 30% dos espermatozoides apresentam morfologia adequada: quando esse percentual é inferior, a condição é classificada como teratozoospermia.
Na rotina das clínicas de reprodução, utiliza-se mais frequentemente um critério mais rigoroso, chamado de Krüger, segundo o qual é desejável pelo menos 4% de espermatozoides ovais. A diferença dos critérios se deve à metodologia de análise, sendo que na OMS os espermatozoides são analisados a 400 aumentos e no Krüger, a 1000 aumentos.
Exames importantes para infertilidade masculina
Os problemas associados à motilidade e morfologia dos espermatozoides podem ser identificados por alguns exames, e o espermograma – um exame laboratorial que fornece informações importantes sobre os parâmetros seminais – é um dos procedimentos centrais.
No entanto, embora ofereça um panorama detalhado sobre o sêmen, o espermograma não é um exame diagnóstico porque não é possível, só com ele, determinar a causa exata da infertilidade. O real papel do espermograma é direcionar a indicação de exames complementares que possam aprimorar a identificação das causas da infertilidade.
Entre os principais exames complementares, destacamos avaliação hormonal, espermocultura e o ultrassom testicular com ou sem Doppler, que analisa os ductos testiculares e o fluxo sanguíneo local, sendo indicado quando há suspeita de obstrução nestes ductos e varicocele.
O teste de fragmentação do DNA espermático, que avalia a integridade do material genético dos espermatozoides, também pode ser utilizado em alguns casos.
Como a reprodução assistida pode ajudar?
Algumas condições que afetam a saúde dos espermatozoides, prejudicando sua morfologia e motilidade podem ser abordadas por tratamentos primários – como a varicocele (não em todos os casos), cuja correção pode restabelecer a espermatogênese normal e melhorar a qualidade espermática –, mas outras condições podem receber indicação para reprodução assistida.
Neste caso, técnicas como a FIV (fertilização in vitro) e a IA (inseminação artificial) são as mais indicadas, pois ambas permitem o aprimoramento da amostra de sêmen pelo preparo seminal – em que uma amostra de sêmen é processada em laboratório para selecionar os espermatozoides mais saudáveis e com melhor capacidade de fertilização.
Na IA, os espermatozoides preparados são introduzidos diretamente no útero da mulher durante o período fértil, normalmente após a indução da ovulação, aumentando as chances de que os gametas masculinos encontrem o(s) óvulo(s) e ocorra a fertilização dentro do corpo da mulher, enquanto na FIV, o preparo seminal costuma ser combinado com a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), que envolve a seleção de um único espermatozoide saudável para ser injetado diretamente no óvulo.
Nas situações mais complexas, em que o acesso a espermatozoides saudáveis não pode ser contornado pelo preparo seminal, a reprodução assistida pode ser feita com ajuda das técnicas de recuperação espermática, especialmente úteis quando há obstrução dos ductos espermáticos ou produção anormal de espermatozoides.
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