As técnicas de reprodução assistida têm avançado significativamente, ampliando as possibilidades para casais com infertilidade. Nos últimos anos, novas tecnologias surgiram com a finalidade de superar fatores específicos, como as alterações no endométrio. Nesse contexto, surgiram os testes EMMA e ALICE.
O endométrio é a camada interna do útero, local onde o embrião deve se implantar para estabelecer o início de uma gravidez. O tecido endometrial passa por modificações durante o ciclo menstrual, estimulado pelos hormônios estrogênio e progesterona, para ficar receptivo à implantação embrionária.
Diversas condições podem alterar a receptividade endometrial, causando infertilidade feminina e risco aumentado para abortamento, uma delas é a endometrite crônica. Trata-se de uma inflamação no endométrio, muitas vezes silenciosa, que passa despercebida até o momento em que a mulher tenta engravidar.
Continue sua leitura para entender qual é o objetivo dos testes EMMA e ALICE e em quais situações podem ser indicados!
O que é EMMA?
EMMA (Análise Metagenômica do Microbioma Endometrial) é um teste molecular que tem o objetivo de avaliar o perfil das bactérias que habitam o endométrio. Existem as que podem fazer bem ao ambiente intrauterino e as que reduzem a receptividade endometrial.
O teste é feito com a tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS). Por meio do EMMA, é possível verificar a porcentagem de lactobacilos presentes para saber se o microbioma endometrial é propício para a implantação de um embrião.
O microbioma é o ambiente do nosso organismo que tem trilhões de microrganismos vivos, não apenas bactérias. Quando tudo está em ordem, há um estado de eubiose, mas quando há desequilíbrio ou excesso de agentes microscópicos indesejáveis, temos uma disbiose.
Ouvimos muito falar em flora intestinal e até em microbiota vaginal. Já o útero, por muito tempo, foi visto como um local estéril, que não poderia ser afetado por patógenos. No entanto, com os avanços dos estudos científicos, foi compreendido que existe uma população que habita o endométrio, contendo microrganismos que podem ajudar ou prejudicar a fertilidade.
Bactérias patológicas criam um ambiente intrauterino ruim, pois secretam toxinas que ativam o sistema imunológico. As células de defesa agem para afastar os agressores, mas há o dano colateral de deixar o local inflamatório. Assim, a cavidade endometrial fica hostil aos gametas e embriões.
Entretanto, não basta prevenir a proliferação dos microrganismos ruins, também é importante verificar a presença dos bons, como os lactobacilos, que ajudam no equilíbrio do microbioma e aumentam a defesa contra os patógenos.
O que é ALICE?
Enquanto o EMMA faz o rastreio da quantidade de bactérias boas, o teste ALICE (Análise de Endometrite Crônica Infecciosa) pesquisa as bactérias que mais causam endometrite crônica. Também é um teste molecular, feito com a tecnologia NGS.
A endometrite crônica é uma inflamação silenciosa que acomete o endométrio. Embora não cause dores intensas que motivem a busca por avaliação médica, é uma condição associada à dificuldade de engravidar e aos abortamentos de repetição.
O teste ALICE é baseado em: extração do DNA bacteriano, amplificação e sequenciamento do gene das bactérias que mais causam endometrite. De acordo com o resultado, o antibiótico mais efetivo é prescrito.
A endometrite crônica é uma doença que nem sempre é devidamente investigada, em razão da falta de sintomas. Pode ser causada por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia, ou por invasão de bactérias comuns do trato genital inferior, devido a procedimentos e cirurgias intrauterinas, que podem facilitar a subida desses microrganismos.
Quando os testes EMMA e ALICE podem ser indicados?
Os testes EMMA e ALICE ainda são extremamente controversos na literatura médica e vêm passando por evoluções, entretanto podem ser benéficos para qualquer mulher que esteja com dificuldade de engravidar, inclusive as que já passaram por tratamentos de reprodução assistida. As pacientes com falhas repetidas de implantação embrionária em ciclos de fertilização in vitro (FIV), por exemplo, podem receber indicação.
Mulheres com história de abortamentos recorrentes também são elegíveis a essa testagem. Tanto para tentativas de reprodução espontânea quanto para os tratamentos com FIV, os testes EMMA e ALICE podem ser indicados.
O primeiro passo para a realização dos testes é a biópsia endometrial. Para isso, o ginecologista realiza o procedimento via vaginal e coleta fragmentos do tecido intrauterino com uma cânula fina. O material, então, é enviado para o laboratório de análises.
A biópsia deve ser realizada entre os dias 15 e 25 do ciclo menstrual ou após 5 dias de terapia hormonal com progesterona. Isso porque as variações hormonais do ciclo influenciam a proliferação das bactérias.
Para pacientes que vão realizar a FIV, os testes EMMA e ALICE aparentemente não estão indicados em uma primeira ou segunda transferência, pois, como dito anteriormente, ainda há controvérsias, devendo ser discutidas entre a paciente e a equipe que a acompanha as vantagens e desvantagens destes métodos. Após os testes confirmarem que o útero está favorável à implantação, com microbioma saudável e livre de endometrite, realiza-se a transferência.
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