Mesmo quando ocorrem separadamente, no entanto, as duas doenças, têm potencial para afetar a fertilidade, especialmente quando a endometriose se instala nas tubas e nos ovários e quando o tratamento para a hidrossalpinge demora para ser feito, favorecendo a formação de cicatrizes no interior das tubas.
Neste artigo, vamos explicar detalhadamente como essas duas condições inicialmente distantes podem estar relacionadas, além de mostrar quais são as formas de tratamentos e as opções que a reprodução assistida oferece, em caso de infertilidade.
Boa leitura!
O que é endometriose?
A endometriose é uma doença inflamatória crônica, predisposta geneticamente – ainda que suas causas exatas estejam em estudo pela medicina – e caracterizada principalmente pelo surgimento de células do endométrio fora de sua localização normal, ou seja, fora da parede interna do útero e mais comumente na cavidade peritoneal.
Considerada uma das doenças ginecológicas mais comuns, a endometriose afeta aproximadamente de 10% a 25% das mulheres em idade reprodutiva e pode causar dor intensa, cólicas menstruais severas e infertilidade como seus principais sintomas.
Por ser uma doença estrogênio-dependente, os focos de endometriose respondem à dinâmica hormonal do ciclo menstrual como o endométrio original, tornando-se inflamados e vulneráveis ao sangramento quando as taxas de estrogênio estão mais altas. Esse mecanismo é responsável pela maior parte dos sintomas da endometriose, bem como pelo processo inflamatório local derivado da doença.
O conjunto de sintomas da endometriose varia também de acordo como a localização dos focos endometrióticos, que podem estar aderidos ao peritônio (tecido de preenchimento do abdômen e que reveste os órgãos pélvicos), às tubas e ovários (tendo a infertilidade como principal sintoma), bexiga e intestinos (afetando também as funções urinária e intestinal) e aos ligamentos uterossacros.
O que é hidrossalpinge?
Já a hidrossalpinge é caracterizada por um acúmulo de líquido nas tubas uterinas que resulta de um processo inflamatório geralmente causado por uma infecção, que frequentemente deriva do contato com bactérias causadoras de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), como a clamídia.
O acúmulo de líquido da hidrossalpinge provoca obstrução das tubas uterinas, impedindo a captação e transporte do óvulo e, com isso, levando à infertilidade.
Existe relação entre endometriose e hidrossalpinge?
Embora endometriose e hidrossalpinge sejam condições distintas, pode haver uma interrelação entre elas quando os implantes de endometriose estão localizados nas tubas uterinas.
Isso acontece porque a inflamação causada pela endometriose torna a tuba uterina afetada mais vulnerável a infecções, favorecendo a instalação de bactérias como aquelas que provocam a hidrossalpinge. Também a endometriose pode obstruir a trompa, facilitando o acúmulo de líquido, distensão e, consequentemente ,hidrossalpinge.
Endometriose e hidrossalpinge têm relação com infertilidade?
Sim, as duas condições podem estar associadas à infertilidade, principalmente se a endometriose afeta as tubas.
Isso porque quando a endometriose afeta as tubas uterinas pode provocar inflamação e também a formação de cicatrizes e aderências que causam distorções anatômicas nessas estruturas, obstruindo a passagem no interior desses ductos – o que dificulta e até mesmo impede a passagem do óvulo após a ovulação ou a saída do embrião para o útero.
Embora a hidrossalpinge tenha origens diferentes da endometriose, o acúmulo de líquido nas tubas que caracteriza a doença também tem potencial tanto para obstruir a passagem do óvulo e do embrião pelas tubas, como para a formação de cicatrizes que também podem obstruir as tubas. Quando a hidrossalpinge não leva à obstrução, existe o aumento do risco de gravidez ectópica devido à perda da contratilidade da trompa afetada.
A infertilidade associada à endometriose pode ocorrer, ainda, quando os implantes se alocam nos ovários, formando o que chamamos endometrioma – um cisto preenchido por sangue e células endometriais que prejudica a ovulação e danifica a reserva ovariana, sendo por isso uma das formas mais graves de infertilidade derivada da endometriose.
Endometriose e hidrossalpinge: tratamento e reprodução assistida
Considerando que as causas da endometriose e da hidrossalpinge são diferentes, o tratamento para cada uma dessas doenças é também diverso.
A principal abordagem da hidrossalpinge é a administração de antibióticos que combatem a infecção e, nos casos mais graves, pode haver a necessidade de drenar o líquido acumulado – o que pode ser feito por cirurgia.
Já no caso da endometriose, o tratamento é mais complexo, podendo lançar mão de anti-inflamatórios para combater os sintomas e medicação hormonal para interromper o crescimento dos implantes endometrióticos.
A cirurgia para endometriose é uma possibilidade, porém a fragilidade natural das tubas pode restringir a indicação da cirurgia, que tem potencial para deixar cicatrizes que continuam obstruindo as tubas.
Em ambos os casos, quando a cirurgia é indicada, deve ser discutida a opção de congelamento de óvulos ou embriões previamente, pois qualquer cirurgia ovariana ou anexial pode diminuir de forma contundente a reserva ovariana.
Em ambos os casos a infertilidade, no entanto, pode ser permanente, fazendo com que a mulher com endometriose ou hidrossalpinge que deseja engravidar possa receber indicação para FIV (fertilização in vitro), uma vez que essa é a única técnica capaz de superar as limitações impostas pela obstrução tubária.
Na FIV, a mulher recebe uma medicação hormonal para estimular a ovulação de múltiplos óvulos em um mesmo ciclo, que podem ser coletados para fertilização em ambiente laboratorial, produzindo embriões que são posteriormente colocados diretamente no útero – dispensando o papel condutor das tubas nos processos que levam à gestação.
É importante ressaltar que, no caso da hidrossalpinge, a doença deve ser tratada antes dos procedimentos da FIV, já que a infecção pode também afetar o útero, diminuindo consideravelmente as chances de sucesso do tratamento para engravidar.
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