A adenomiose é uma alteração frequentemente diagnosticada em mulheres com mais de 40 anos que já tiveram filhos. No entanto, nos últimos anos tem sido registrada sua presença em mulheres durante a fase reprodutiva.
Ainda que seja benigna, provoca diferentes sintomas que podem impactar a qualidade de vida das mulheres portadoras, sendo necessário um plano de tratamento clínico ou cirúrgico, de acordo com cada caso.
Para saber como a adenomiose interfere na fertilidade e quais são os tratamentos disponíveis, continue a ler este texto.
O que é adenomiose?
A adenomiose é a presença de tecido endometrial na camada intermediária muscular do útero chamada de miométrio.
O crescimento do tecido endometrial no miométrio estimula a formação de pequenas bolsas, levando ao aumento do fluxo menstrual, que pode ainda ser prolongado, cólicas, dor durante as relações sexuais (dispareunia), inchaço e pressão abdominal, impactando a qualidade de vida das mulheres portadoras.
Historicamente a adenomiose foi identificada a partir de relatos histológicos após a histerectomia (cirurgia para a retirada do útero). Porém, com a evolução da tecnologia de imagem, alguns exames como a ultrassonografia e a ressonância magnética (RM), tornaram possível a sua identificação.
Por outro lado, o cenário epidemiológico também mudou e, embora o principal fator de risco seja idade superior a 40 anos e multiparidade, é cada vez mais diagnosticada em mulheres jovens, com manifestação de dor, podendo estar associada à infertilidade em alguns casos, ainda que possa ser somente uma coincidência.
Diferentes estudos relatam sinais de adenomiose a partir da realização de exames de ultrassonografia, assinalando uma prevalência de cerca de 20,9% na população em geral, enquanto os valores variam de 10% a 35% nos relatos histológicos após a histerectomia.
Apesar do aprimoramento dos métodos diagnósticos a conscientização ainda é baixa. Além disso, em algumas pacientes, a adenomiose coexiste com outras condições ginecológicas, como endometriose e miomas uterinos, sugerindo que possa ser somente uma situação de coincidência.
Entre 15% a 57% dos casos leiomiomas uterinos e adenomiose coexistem no mesmo útero e mulheres com as duas condições têm maior probabilidade de dor pélvica. Um conjunto de dados cirúrgicos também demonstra a prevalência de adenomiose em mulheres com endometriose, em percentuais que variam entre 20% a 80%, de acordo com a pesquisa realizada.
Embora a relação com infertilidade ainda não seja claramente estabelecida e questionada por diversos autores, alguns estudos sugerem a possibilidade de redução nas taxas de implantação: devido a possíveis mudanças na receptividade endometrial resultando em falhas na implantação e abortamento. Esses estudos, entretanto, carecem de confirmação.
Outras teorias para associar a presença da adenomiose com infertilidade são:
- As pequenas bolsas formadas no miométrio causam hipermobilidade uterina irregular e descontrolada, inibindo o transporte de espermatozoides até as tubas uterinas e prejudicando o movimento do embrião e sua capacidade de implantar, além de interferir na formação da placenta;
- Uma disfunção da zona funcional, limite entre o miométrio e o endométrio, provoca uma área maior de sangramento e inflamação, dificultando a subida dos espermatozoides, inibindo a fecundação e causando falhas na implantação do embrião.
Quando apresenta um ou poucos focos localizados em diferentes pontos do miométrio a adenomiose é classificada como focal, ou como difusa se numerosos focos espalharem. Geralmente ocorre predominantemente na parede posterior do útero.
Como a adenomiose é tratada?
O tratamento da adenomiose apenas se tornou possível com a introdução de novos compostos médicos e de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas e tem como propósito a redução dos sintomas provocados pela doença.
Medicamentos hormonais, por exemplo, podem ser prescritos como opção para controlar sintomas como fluxo menstrual abundante e cólicas. Eles possibilitam o equilíbrio dos níveis hormonais, resultando em uma diminuição dos sintomas.
Se os sintomas impactarem a qualidade de vida ou não houver resposta ao tratamento clínico, o tratamento cirúrgico é a melhor opção. No entanto, é indicado apenas quando a mulher deseja engravidar e, eficaz, nos casos em que a adenomiose não penetrou profundamente no miométrio. O objetivo é a eliminação do tecido ectópico por ablação endometrial, normalmente realizada por vídeo-histeroscopia cirúrgica.
Esse tratamento, entretanto, não tem comprovação científica de sua eficácia, devendo ser considerado apenas em casos selecionados e considerando-se a relação de risco-benefício.
Mulheres que não podem ou desejam ser submetidas à cirurgia têm como opção a embolização da artéria uterina (EAU), um procedimento não cirúrgico também recomendado quando não há a intenção de engravidar. Nele, uma substância esclerosante é injetada nas artérias uterinas para obstruir o fluxo sanguíneo.
Quando indicado em casos que a adenomiose está associada ao fator de infertilidade, o tratamento por FIV é realizado em diferentes etapas e prevê a fecundação de óvulos e espermatozoides em laboratório e a transferência dos embriões formados para o útero, aumentando, dessa forma, as chances de a gravidez ocorrer: é a técnica de reprodução assistida que apresenta os percentuais mais altos de gravidez bem-sucedida por ciclo de realização.
Toque aqui e saiba mais sobre a adenomiose.