Adenomiose e endometriose são duas doenças ginecológicas que podem provocar sintomas e trazer prejuízos à qualidade de vida da mulher, inclusive causando infertilidade feminina. Ambas as condições têm relação com o endométrio — que é o tecido que reveste o útero internamente — mas apresentam características distintas e afetam diferentes partes do corpo feminino.
Primeiramente, precisamos relembrar como o útero é formado para facilitar o entendimento sobre adenomiose e endometriose. Histologicamente, a parede uterina é dividida em 3 camadas:
- endométrio — parte interna do órgão e local onde ocorre a implantação do embrião;
- miométrio — tecido muscular e de maior espessura, que ocupa a camada intermediária da parede do útero;
- serosa ou perimétrio — tecido fino que recobre o órgão na cavidade pélvica.
Como é comum haver dúvidas sobre essas doenças, vamos agora esclarecer o que é endometriose, o que é adenomiose e quais são as diferenças entre elas. Acompanhe!
O que é endometriose?
A endometriose é caracterizada pela presença de implantes de endométrio fora da cavidade uterina. Os sítios mais comuns são aqueles que se situam próximo ao útero, como ligamentos uterossacros, tubas uterinas, ovários, intestino e bexiga. Algumas portadoras também apresentam lesões extrapélvicas, mas são casos bem raros.
O tecido endometriótico causa inflamação nas áreas afetadas. Isso ocorre porque o endométrio responde à ação cíclica do hormônio estrogênio e suas células se proliferam. Dentro do útero, o tecido aumenta de espessura para receber um possível embrião, mas descama e causa a menstruação quando não há gravidez. Da mesma forma, o endométrio ectópico (fora do útero) cresce e sangra, ativando a reação inflamatória.
Além de ser uma condição estrogênio-dependente e inflamatória, a endometriose é considerada uma doença crônica, uma vez que não há cura definitiva. Apesar disso, existem tratamentos eficazes para controlar os sintomas e restaurar a qualidade de vida e a fertilidade da portadora. As abordagens terapêuticas incluem uso de medicamentos hormonais, reprodução assistida e cirurgia.
As apresentações clínicas da endometriose são variáveis, mas os sintomas mais relatados são:
- dor pélvica crônica;
- cólicas menstruais intensas;
- dor na relação sexual;
- dor para urinar e evacuar durante o período menstrual, quando há lesões na bexiga e no intestino.
A infertilidade também é um sinal de endometriose. A doença pode afetar o sistema reprodutor de várias maneiras. Os mecanismos envolvidos dependem da forma de endometriose, que é classificada em 3 tipos:
- peritoneal superficial;
- ovariana (endometrioma);
- infiltrativa profunda.
O que é adenomiose?
A adenomiose é caracterizada pela presença de células endometriais dentro do miométrio — que, como vimos, é a camada intermediária do útero, adjacente ao endométrio. É mais comum entre os 30 e os 50 anos, principalmente em multigestas (mulheres que já engravidaram mais de uma vez).
Quase metade das portadoras de adenomiose não apresenta sintomas. Quando o caso é sintomático, a principal manifestação é o sangramento uterino anormal, devido à alteração da contratilidade uterina. Cólicas menstruais e dor pélvica também estão presentes, assim como distensão abdominal em razão do aumento do volume uterino.
O tratamento medicamentoso nem sempre é bem-sucedido, embora possa ajudar no controle do fluxo menstrual. Eventualmente, a abordagem definitiva é a histerectomia — cirurgia para retirada parcial ou total do útero. Contudo, essa opção não é viável para mulheres que ainda desejam ter filhos.
Apesar de ser apontada como uma condição que modifica a estrutura uterina, ainda são necessários mais estudos para estabelecer a correlação entre adenomiose e infertilidade. Até o momento, são sugeridos alguns mecanismos que podem afetar a função reprodutiva e até levar ao abortamento, como:
- processo inflamatório uterino;
- distorção da arquitetura endometrial;
- transporte inadequado do óvulo para o útero;
- ambiente que prejudica a migração dos espermatozoides;
- falha de implantação;
- hiperatividade do miométrio.
Afinal, quais são as diferenças entre endometriose e adenomiose?
Endometriose e adenomiose têm algumas semelhanças. As duas são inflamatórias e estrogênio-dependentes, mas são doenças bem diferentes. A primeira costuma ter mais impactos na fertilidade e na qualidade de vida da portadora, enquanto a outra é, muitas vezes assintomática, e afeta principalmente mulheres que já têm filhos. Contudo, são duas condições que precisam de atenção.
A grande semelhança entre endometriose e adenomiose é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina. No entanto, como vimos, o endométrio ectópico afeta outros órgãos da pelve na endometriose. Já na adenomiose, as lesões se limitam à camada intermediária do próprio útero.
Alguns sintomas também são semelhantes nas duas doenças, como dor pélvica e cólicas menstruais. Já o sangramento abundante, que é a principal manifestação na adenomiose, não acontece na endometriose — embora muitas pessoas tenham a informação equivocada de que essa patologia altera o fluxo menstrual.
Outra diferença importante está na faixa etária das portadoras. A endometriose pode ter seus primeiros sinais e sintomas ainda na adolescência, mas o diagnóstico pode levar anos para ser fechado, dependendo da progressão dos sintomas e das tentativas de gravidez. A adenomiose é mais comum por volta dos 40 anos, quando muitas mulheres já não têm mais intenção de engravidar.
Quando essas doenças provocam infertilidade e a portadora deseja ter filhos, a reprodução assistida pode ajudar. A fertilização in vitro (FIV) é a técnica mais indicada para os casos de adenomiose e endometriose avançada. Apesar de serem condições desafiadoras, pacientes que recorrem a esse tipo de tratamento têm boas chances de confirmar uma gravidez.
Leia mais um texto para entender como funciona a fertilização in vitro, quando é indicada e quais são as etapas para realizar o tratamento!