Normalmente, a mulher em idade fértil tem períodos menstruais todo mês, a menos que utilize algum medicamento que interrompa o sangramento cíclico, como os contraceptivos de uso contínuo. A ausência de menstruação, cujo termo clínico é amenorreia, também pode ser causada por disfunções ovulatórias — vale adiantar que uma das principais causas é a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Se não houver nenhuma condição que interfira nesse processo fisiológico, o ciclo menstrual ocorre mensalmente, passando por três fases: folicular, ovulação e fase lútea. Os ciclos regulares duram cerca de 28 dias e são regulados por 4 hormônios: FSH (folículo-estimulante), LH (luteinizante), estrogênio e progesterona.
A menstruação é fundamental para a fertilidade. A regularidade dos períodos menstruais é um sinal de que a mulher tem ovulação frequente, logo se há liberação de óvulo também há chances de fecundação e gravidez. Portanto, se você deseja engravidar, precisa ficar atenta aos sinais de irregularidades, principalmente amenorreia.
Confira agora como a menstruação acontece, quais são as causas de amenorreia e as possibilidades de tratamento!
Por que a menstruação acontece?
A menstruação marca o início de um ciclo reprodutivo, é um processo que se repete mês após mês para preparar o corpo feminino para uma possível gravidez. Isso acontece ao longo de toda vida fértil da mulher — desde o primeiro sangramento menstrual (menarca) até a menopausa.
No início do ciclo, os hormônios FSH e LH são secretados pela glândula hipófise e ativam a função ovariana para que os folículos se desenvolvam. Um dos folículos cresce mais que os outros, amadurece e libera o óvulo que mantém armazenado — é o momento que conhecemos como ovulação.
Na fase pós-ovulatória, ou fase lútea, uma estrutura ovariana chamada corpo-lúteo é formada a partir dos resíduos do folículo que liberou o óvulo. A função do corpo-lúteo é produzir estrogênio e progesterona.
A ação estrogênica é o que faz o tecido interno do útero (endométrio) ficar com maior espessura após a ovulação. Da mesma forma, a progesterona melhora a receptividade intrauterina. Juntos, esses dois hormônios reprodutivos deixam o útero em condições adequadas para acolher um embrião.
Na maioria dos ciclos, não há fecundação nem embrião para se implantar no endométrio. Com isso, não existe a produção do hormônio da gravidez (hCG) e o corpo-lúteo regride. Assim, os níveis de estrogênio e progesterona diminuem, o tecido endometrial passa por um processo de descamação e a menstruação acontece.
O que é amenorreia?
Amenorreia é a ausência de menstruação. Não se trata de um diagnóstico, mas de um sintoma que pode estar associado a diferentes doenças. É uma queixa comum nos consultórios de ginecologia, além de motivar a busca por avaliação especializada por se tratar de um sinal de infertilidade.
Os casos de amenorreia são classificados como primários ou secundários. A condição é definida como primária quando:
- a menina atingiu 14 anos e não menstrua, assim como não apresenta características de desenvolvimento sexual secundário, como crescimento das mamas e pelos púbicos;
- a menina apresenta desenvolvimento sexual secundário, mas ainda não tem menstruação aos 16 anos.
A amenorreia secundária é marcada pela ausência de 3 ciclos menstruais consecutivos. Outra irregularidade menstrual é a oligomenorreia, caracterizada pelo intervalo prolongado entre um ciclo e outro, normalmente superior a 35 dias.
O que pode causar amenorreia?
A amenorreia é uma condição fisiológica natural durante a gestação e a amamentação exclusiva, bem como antes da menarca e na pós-menopausa. Contraceptivos orais ou injetáveis de uso contínuo também podem suprimir as menstruações.
Dentre as disfunções que causam alterações no padrão menstrual, podemos identificar causas hipotalâmicas, hipofisárias, gonadais e outras.
Os problemas que afetam o hipotálamo provocam falhas na secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), o qual estimula a hipófise a produzir FSH e LH. As causas de amenorreia hipotalâmica incluem magreza excessiva, anorexia nervosa, prática excessiva de exercícios físicos, estresse emocional e lesões orgânicas, como tumores.
A amenorreia hipofisária é decorrente de distúrbios na glândula hipófise, responsável por secretar os hormônios que acionam a função ovariana. Aqui, estão associados: o hipotireoidismo, a hiperprolactinemia derivada de tumores na hipófise, o uso de medicações psicotrópicas e danos/traumas hipofisários.
As causas gonadais de amenorreia incluem: disgenesia gonadal, apresentada por mulheres com alterações genéticas como a Síndrome de Turner; falência ovariana prematura (FOP) ou menopausa precoce, que pode decorrer de anomalias cromossômicas, tratamento com quimioterapia, doenças autoimunes, síndrome dos ovários policísticos, entre outros processos patológicos.
A amenorreia pode ainda ser provocada por obstáculos nos órgãos, isto é, mesmo que o processo hormonal cíclico e a descamação endometrial aconteçam normalmente, a menstruação não é exteriorizada. A condição também é chamada de criptomenorreia e as causas possíveis são: sinequias — tecido cicatricial que obstrui a cavidade uterina; malformações congênitas, como formação rudimentar do útero, septo uterino transverso, agenesia cervical ou agenesia da parte superior da vagina.
A causa mais comum de amenorreia, no entanto, é a síndrome dos ovários policísticos. Essa é uma alteração endócrina de prevalência significativa entre as mulheres com idade fértil. É caracterizada pelo excesso de hormônios andrógenos (masculinos) no corpo da mulher, o que leva à anovulação crônica hiperandrogênica. A ausência de ovulação se traduz, clinicamente, por ausência de menstruação ou irregularidade no ciclo menstrual.
Quais são as possibilidades de tratamento e gravidez nesses casos?
Cada caso deve ser individualmente avaliado para receber a prescrição correta de tratamento, com base nas causas identificadas. A maior parte dos problemas associados à amenorreia demanda intervenção medicamentosa para normalizar o ciclo hormonal. Condições específicas, como sinequias uterinas, podem precisar de cirurgia. Algumas situações não podem ser revertidas, como as alterações cromossômicas e as malformações mais graves.
A reprodução assistida é indicada para as pacientes que não conseguem engravidar naturalmente. Como a amenorreia está fortemente associada à anovulação, a estimulação ovariana com indução da ovulação pode ajudar. No entanto, uma avaliação detalhada do casal é necessária. Dependendo dos fatores de infertilidade identificados, a fertilização in vitro (FIV) é a melhor indicação.
Aproveite para ler nosso texto sobre infertilidade feminina para saber quais outras condições podem interferir nas funções reprodutivas da mulher!