Se você chegou neste post é porque quer entender mais sobre anticoncepcional e endometriose. Nós trouxemos essas informações, mas, antes de relacionar, precisamos abordar os dois temas separadamente.
Para começar, é importante lembrar que existem anticoncepcionais de várias formas — orais, injetáveis, anéis vaginais e implantes subdérmicos, para citar alguns. Também é oportuno mencionar os dispositivos intrauterinos (DIU) e os contraceptivos de barreira, isto é, camisinhas masculina e feminina e o diafragma.
Todas essas alternativas são utilizadas por quem deseja evitar uma gravidez não planejada. Além dos que foram citados, que são métodos reversíveis de contracepção, existem as técnicas definitivas, vasectomia e laqueadura, mas como são intervenções definitivas, é necessário o planejamento familiar.
Muitos casais ainda optam pelos métodos comportamentais de anticoncepção, como cálculo do período fértil (tabelinha) e coito interrompido (retirada do pênis no momento do orgasmo, para ejaculação fora do corpo da mulher). Contudo, vale o alerta de que esses métodos não têm alta eficácia, pois há muitos fatores que aumentam a margem de risco.
De todo modo, este post não foi elaborado para comprovar a eficácia dos métodos contraceptivos. Nossa intenção é explicar a relação entre o uso de anticoncepcional e endometriose. Continue a leitura e descubra!
Como os anticoncepcionais agem no corpo da mulher?
Existem várias formas de contracepção, mas vamos agora nos concentrar nos anticoncepcionais hormonais, que interferem de algum modo nas funções reprodutivas femininas para evitar a concepção. Já os métodos de barreira, como a camisinha, impedem que os espermatozoides avancem até o útero e as tubas uterinas, sem afetar o funcionamento do sistema reprodutor do homem ou da mulher.
Os anticoncepcionais hormonais são compostos por estrogênio e progesterona sintéticos, portanto, são similares aos hormônios que agem naturalmente no ciclo menstrual. Essas substâncias inibem a liberação dos hormônios folículo-estimulante (FSH) e luteinizante (LH), que desencadeiam a ovulação.
Sendo assim, os fármacos anticoncepcionais têm a função de manter níveis constantes de estrogênio e progesterona, impedindo a ovulação sem, entretanto, evitar o consumo natural mensal de óvulos. Logo, se nenhum óvulo amadurece e é liberado, não há fecundação e a gravidez não acontece.
O que é endometriose e qual é sua relação com os hormônios?
Endometriose é uma patologia que causa inflamação localizada em várias partes da região pélvica, afetando, com mais frequência, tubas uterinas, ovários, ligamentos uterossacros, bexiga e intestino — muito raramente, também há o acometimento de órgãos extrapélvicos.
Isso acontece porque células do tecido endometrial (que reveste o útero por dentro) se implantam nesses sítios extrauterinos e o sistema de defesa do organismo aciona as citocinas pró-inflamatórias para combater o “agente externo”, isto é, o tecido que não deveria estar ali.
Além de inflamatória, a endometriose é uma condição crônica e hormônio-dependente. Os implantes de endométrio fora do útero respondem à ação dos hormônios reprodutivos, principalmente do estrogênio, assim como acontece dentro do útero.
O estrogênio é o hormônio responsável por estimular a proliferação das células endometriais, deixando o tecido com a espessura adequada para a implantação de um possível embrião. Quando a fecundação não acontece, parte do endométrio se desprende da parede uterina e é expelida como menstruação.
Esse processo de reação aos hormônios, proliferação celular e sangramento também ocorre com o tecido endometriótico, provocando a inflamação nos órgãos afetados.
O uso de anticoncepcional para controlar a endometriose: como funciona?
O manejo clínico da endometriose pode envolver o uso de anticoncepcionais orais de progesterona ou combinados (que levam ambos os hormônios citados acima), DIU à base de progestágenos e outros medicamentos que levam essa composição. Essas opções são apresentadas preferencialmente quando a paciente não tem planos imediatos de gravidez.
Os anticoncepcionais com progesterona diminuem a ação estrogênica no organismo da mulher. Apesar de os dois hormônios trabalharem juntos na preparação natural do útero para a gravidez, a progesterona exerce um efeito antagônico sobre o estrogênio, contendo a proliferação celular e organizando o tecido endometrial por meio da atividade secretória.
Além disso, como vimos, os anticoncepcionais inibem a produção de FSH e LH, hormônios que estimulam o desenvolvimento dos folículos ovarianos para a ovulação. Esses folículos quando estão em crescimento iniciam a produção do estrogênio.
Sendo assim, se não há desenvolvimento folicular com o uso de anticoncepcional hormonal, não há aumento na concentração de estrogênio e, por consequência, as lesões de endometriose ficam controladas.
A gestação tem efeitos similares aos do uso de anticoncepcional na endometriose. Nessa fase, há um bloqueio na função ovulatória, os níveis de estrogênio são moderados e há alta concentração de progesterona até o fim da gravidez.
Apesar dos benefícios da gestação e do anticoncepcional no controle da endometriose, precisamos deixar claro que as lesões da doença não são definitivamente curadas, apenas ficam menos ativas. Dessa forma, há uma redução na inflamação e nos sintomas de dor.
Quando o tratamento medicamentoso falha no controle dos sintomas, bem como nos casos com muitas aderências pélvicas, distorção e comprometimento funcional dos órgãos, a cirurgia é indicada, sendo que, em mulheres que desejam engravidar, realizar a preservação da fertilidade antes, por meio do congelamento de óvulos ou embriões, é indicado.
E quando a portadora quer engravidar, o que fazer?
Uma das principais consequências da endometriose é a infertilidade. A doença afeta várias etapas do processo reprodutivo, portanto, as chances de engravidar espontaneamente são baixas — mas não nulas.
Quando a paciente tem planos de gravidez, não é interessante utilizar anticoncepcionais. Então, as indicações de tratamento incluem cirurgia para remoção do tecido endometriótico e restauração dos órgãos pélvicos, assim como técnicas de reprodução assistida.
Em casos leves, a portadora pode primeiramente tentar a inseminação artificial ou a relação sexual programada com estimulação ovariana. Em estágios avançados de endometriose, principalmente se houver prejuízos nos ovários e obstrução das tubas uterinas, realiza-se a fertilização in vitro (FIV).
Aprofunde seu conhecimento com a leitura do nosso texto principal sobre endometriose!