A gravidez entre casais homoafetivos é possível mediante os avanços da medicina reprodutiva. A resolução 2294 do Conselho Federal de Medicina (CFM) pontua que “é permitido o uso das técnicas de RA para heterossexuais, homoafetivos e transgêneros” e que os casais homoafetivos femininos podem realizar a gestação compartilhada — o que vamos explicar ao longo deste post.
Desde Maio de 2011, a união estável homoafetiva é reconhecida pela legislação brasileira e qualificada como entidade familiar. Essa conquista social também motivou os casais homoafetivos femininos e masculinos a realizarem mais um sonho: o de ter filhos biológicos. Graças a técnicas como a inseminação artificial e a fertilização in vitro (FIV), a gravidez para esses casais se tornou uma realidade.
Quer entender como isso é possível? Acompanhe este post com atenção!
Quais são as possibilidades de gravidez para os casais homoafetivos?
Tanto os casais homoafetivos femininos quanto os masculinos podem ter filhos biológicos com os tratamentos de reprodução assistida. Para isso, são acrescentadas técnicas de apoio que contornam condições específicas que impedem a gravidez natural, como a doação de gametas e a cessão temporária de útero.
Para os casais masculinos, é indicada exclusivamente a FIV. Assim, utiliza-se a amostra de sêmen de um dos parceiros para fecundar os óvulos recebidos por doação — o casal não poderá ter acesso às informações sobre a identidade da doadora. Após a fecundação, os embriões são transferidos para um útero de substituição, também chamado de cessão temporária de útero (e conhecido como barriga de aluguel, termo inadequado), que deverá ser alguém da família de um dos pacientes.
Já os casais homoafetivos femininos contam com mais alternativas. A gravidez pode acontecer com a FIV ou com a inseminação intrauterina — uma técnica de baixa complexidade. Em ambos os casos, as mulheres também precisam da doação de sêmen de um anônimo.
Como os casais homoafetivos femininos podem ter filhos?
Como mencionamos acima, os casais homoafetivos femininos podem concretizar seu plano de gestação a partir da inseminação artificial ou da FIV. A escolha da técnica mais apropriada depende de fatores como idade materna, condições das tubas uterinas da mulher que pretende gestar, qualidade dos óvulos que serão utilizados etc.
Vamos explorar as duas técnicas mais a fundo!
Inseminação artificial
A inseminação artificial, ou intrauterina, é uma das técnicas mais simples da reprodução assistida e consiste na introdução de uma amostra de sêmen (previamente preparada) diretamente na cavidade uterina da paciente. Dessa forma, encurtamos o percurso dos espermatozoides para facilitar a fertilização do óvulo.
Essa técnica é indicada quando a candidata à gestante é jovem — com menos de 37 anos — tem pelo menos uma das tubas uterinas permeáveis (sem obstrução) e boa reserva ovariana. O tratamento começa com a estimulação ovariana, mas também pode ser feito em ciclos não estimulados quando a paciente ovula regularmente.
A estimulação ovariana é uma técnica que utiliza medicamentos hormonais para que se desenvolvam mais folículos e com isso amadureçam em média de 2 a 5 óvulos, uma vez que, em ciclos naturais, somente um óvulo é liberado a cada mês.
Com ou sem uso de medicamentos, o processo de desenvolvimento dos folículos ovarianos (estruturas que guardam os óvulos) é monitorado por ultrassonografias em série e dosagens hormonais. No dia previsto para a ovulação, uma amostra de sêmen de um doador anônimo, já previamente preparada, é depositada no útero da paciente.
O preparo seminal envolve métodos de capacitação espermática para selecionar somente os espermatozoides com melhor morfologia e motilidade.
As taxas de sucesso com a inseminação intrauterina variam entre 10 a 20%. Os casais homoafetivos femininos podem tentar a gravidez com essa técnica por até três ciclos. Se o tratamento não for bem-sucedido, a FIV é indicada.
Fertilização in vitro
A FIV é uma técnica de alta tecnologia que envolve uma série de procedimentos laboratoriais para que a fertilização aconteça fora do útero. O tratamento passa pelas seguintes etapas: estimulação ovariana, coleta dos óvulos, coleta dos espermatozoides e preparo seminal, fecundação em laboratório, cultivo dos embriões e transferência para o ambiente uterino.
Os casais homoafetivos femininos ainda contam com duas possibilidades dentro da FIV: a participação de somente uma das pacientes ou a gestação compartilhada. Em ambos os casos, o tratamento segue as mesmas etapas, a diferença é que, na gestação compartilhada, é possível utilizar os óvulos de uma das mulheres e transferir os embriões para o útero de sua parceira. Assim, uma é a mãe genética e a outra vive a experiência de gestar o filho.
Primeiramente, a mulher que cederá os óvulos passa pela estimulação ovariana, com o objetivo de obter um bom número de óvulos maduros. Quando estes estão no estágio ideal de desenvolvimento, fazemos a aspiração folicular antes que a ovulação aconteça.
Enquanto os óvulos são analisados por um embriologista, uma amostra de sêmen doado também é preparada. O próximo passo é a fertilização propriamente, o que é feito com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) — técnica em que cada espermatozoide é analisado com a ajuda de um microscópio de alta resolução e injetado diretamente no citoplasma de um óvulo.
Os embriões que se formam com esse processo são mantidos em incubadoras de cultivo por 2 a 7 dias e, por fim, transferidos para o útero da mulher que foi escolhida para gestar. Dessa forma, os casais homoafetivos femininos têm não somente a chance de ter um filho biológico, como podem contribuir juntamente para a realização desse sonho.
Interessante, não é mesmo? Aproveite e leia na íntegra nosso texto sobre fertilização in vitro para entender todos os detalhes dessa técnica!