A endometriose é uma doença ginecológica crônica e inflamatória. As lesões endometrióticas são causadas pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio (revestimento interno do útero) fora da cavidade uterina, em diferentes partes da região pélvica. Quando os ovários são afetados, há risco de danos na reserva ovariana.
Essa doença impacta não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e a qualidade de vida. Sendo assim, a endometriose afeta a mulher em muitas dimensões, inclusive por se tratar de uma das principais causas de infertilidade feminina.
Entre as opções de tratamento, a cirurgia pode ser necessária em alguns casos. No entanto, há alguns aspectos que devem ser considerados no planejamento terapêutico, como o possível impacto do procedimento cirúrgico na reserva ovariana.
Neste texto, vamos abordar a relação entre a cirurgia de endometriose e o risco de danos à reserva ovariana, além de estratégias para preservar os óvulos.
Quando a cirurgia pode ser indicada para tratamento de endometriose?
Nem todas as mulheres com endometriose necessitam de cirurgia. O tratamento deve ser individualizado, levando em conta fatores como a gravidade dos sintomas, o desejo de ter filhos e a resposta aos tratamentos clínicos.
A cirurgia pode ser indicada nas seguintes circunstâncias:
- mulheres com dor pélvica crônica ou dores intensas no período menstrual que não melhoram com medicamentos;
- infertilidade associada à presença de endometriomas, que podem comprometer a função ovariana;
- formação de aderências pélvicas que prejudicam o funcionamento dos órgãos lesionados, como bexiga e intestino.
A abordagem cirúrgica de escolha é a videolaparoscopia, uma técnica minimamente invasiva que permite a remoção do tecido endometriótico e a preservação do tecido saudável, sempre que possível.
O que é endometrioma e como ele pode afetar a fertilidade?
O endometrioma é um cisto ovariano resultante de implantes de tecido endometriótico, frequentemente chamado de “cisto de chocolate” devido ao acúmulo de sangue degradado que forma um conteúdo espesso e escuro em seu interior. Essa lesão pode ser encontrada em um ou ambos os ovários e tem forte relação com a infertilidade.
O impacto do endometrioma nas funções ovarianas ocorre principalmente pelos seguintes fatores:
- redução da reserva ovariana — o crescimento do cisto pode danificar o tecido ovariano saudável ao seu redor;
- inflamação crônica — o endometrioma pode gerar um ambiente inflamatório que compromete a foliculogênese (desenvolvimento dos folículos ovarianos) e a qualidade dos óvulos.
O diagnóstico do endometrioma é feito por ultrassonografia pélvica transvaginal ou ressonância magnética. A cirurgia é a principal forma de tratar a endometriose ovariana, mas a indicação depende da avaliação geral do quadro de cada mulher.
Afinal, a cirurgia de endometrioma pode afetar a reserva ovariana? Por quê?
Sim, a cirurgia de endometrioma pode reduzir a reserva ovariana. Durante o procedimento, mesmo que o cirurgião seja experiente, há o risco de remoção parcial ou dano ao tecido ovariano saudável ao redor do cisto, o que provoca a perda de vários folículos que ainda poderiam se desenvolver para liberar um óvulo. Além disso, lesões acidentais podem causar alterações na vascularização do ovário, comprometendo sua função.
A redução da reserva ovariana é particularmente preocupante em mulheres com endometriomas bilaterais, idade avançada ou outros fatores que já limitam a fertilidade. Dosagens hormonais podem mostrar que o hormônio antimülleriano (AMH), marcador da reserva ovariana, diminui após a cirurgia, como também a contagem de folículos antrais realizada por meio da ultrassonografia endovaginal.
Por isso, a decisão pelo tratamento cirúrgico da endometriose no ovário deve ser avaliada cuidadosamente, considerando os benefícios da remoção do cisto e os riscos associados ao impacto na reserva ovariana.
Como fazer preservação da fertilidade antes da cirurgia?
Para mulheres em idade reprodutiva, a preservação da fertilidade é uma estratégia altamente recomendada antes da cirurgia para endometriose, especialmente se houver planos futuros de engravidar. A técnica mais eficaz é o congelamento de óvulos, que permite o armazenamento de gametas saudáveis para uso posterior.
O processo de preservação da fertilidade por meio do congelamento de óvulos envolve:
- avaliação da reserva ovariana e da saúde geral da mulher, incluindo sorologias;
- estimulação ovariana controlada, feita com medicamentos hormonais para que os ovários possam desenvolver múltiplos folículos (protocolos específicos para esta condição são bem definidos);
- aspiração dos folículos ovarianos e coleta dos óvulos maduros;
- congelamento de óvulos por vitrificação.
A preservação da fertilidade é uma estratégia para proteger uma parte dos óvulos diante de uma possível redução da reserva ovariana durante a cirurgia. Congeladas, as células mantêm sua qualidade por tempo indeterminado e podem ser utilizadas assim que a mulher decidir engravidar.
Quando descongelados, os óvulos são fertilizados em laboratório com a técnica de fertilização in vitro (FIV). Os embriões formados passam por um período de cultivo antes de serem transferidos para o útero.
O uso dos óvulos após o congelamento é feito somente no contexto da FIV, uma vez que não é possível colocar essas células novamente nos ovários para que elas sejam liberadas naturalmente com a ovulação.
A FIV também é fundamental no tratamento da infertilidade associada à endometriose quando a doença provoca alterações nas tubas uterinas, como obstrução ou distorção. Com essa técnica, o embrião é colocado diretamente no útero e não precisa passar pela tuba danificada.
A endometriose é uma condição que demanda um manejo cuidadoso e individualizado. É preciso considerar todos os impactos da doença na saúde da mulher, incluindo a redução da reserva ovariana, para chegar às estratégias terapêuticas mais apropriadas.
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