A curetagem é um procedimento realizado após processos de abortamento, para a retirada de material biológico que tenha ficado retido no útero. Nestes casos, o principal objetivo da curetagem é diminuir as chances de infecção após o abortamento, o que poderia contribuir ainda mais para o desenvolvimento de quadro de infertilidade feminina.
Além dessa função, a curetagem também pode ser utilizada para raspar o endométrio, em alguns casos de SUA (sangramento uterino anormal), ainda que outros procedimentos, atualmente, sejam melhores para obter esse material, com menos riscos à saúde uterina, como a histeroscopia.
Realizada sempre em ambiente hospitalar, a curetagem demanda anestesia geral, por ser relativamente invasivo, já que a cureta – instrumento principal deste procedimento – literalmente realiza a raspagem do endométrio.
Esta é abordagem muito comum, embora antiga, para a retirada de restos do abortamento, porém justamente por ser invasiva e oferecer riscos à saúde do endométrio, atualmente recomenda-se recorrer a outros procedimentos, que consigam preservar a integridade deste tecido e com isso a possibilidade que a mulher tenha outras gestações.
O objetivo deste texto é apresentar a curetagem, sua metodologia e momento ideal para fazer, bem como as demais alternativas que podem substituir esta prática.
Quando a curetagem é indicada?
Para compreender melhor quando a curetagem é indicada, vamos entender o que pode acontecer com o endométrio quando a mulher tem um abortamento.
Nem toda perda gestacional é considerada um abortamento, apenas aquelas que ocorrem até a 20ª semana de gestação, e quando a mulher tinha conhecimento prévio de estar grávida. Isso porque muitas vezes a perda gestacional acontece antes mesmo que a mulher manifeste os sintomas da gravidez e tenha realizado o exame que confirma o estado gravídico.
As causas do abortamento podem ser as mais diversas, de origem genética ou adquirida, e a mulher pode apresentar um único evento de abortamento ou aborto de repetição, quando a perda gestacional se repete por três ou mais vezes, embora na maior parte dos casos os abortamentos sejam eventos únicos.
Entre as principais causas de abortamentos, destacamos:
- Embrião geneticamente inviável;
- Uso de substâncias específicas (álcool, drogas, tabaco e cafeína);
- Trombofilia;
- Alterações na tireoide sem controle;
- Hipertensão sem controle;
- Diabetes sem controle;
- Infecções;
- Endometrite;
- Trauma (acidentes e quedas);
- Exposição à radiação.
Dependendo dos motivos pelos quais a mulher passou pelo abortamento, este processo pode manifestar sintomas específicos como sangramento vaginal, normalmente acompanhado de dor pélvica e de corrimento esbranquiçado, ou se manifestar apenas no fim dos sinais típicos da gestação, sonolência, náuseas e vômitos.
Em alguns casos, o conteúdo embrionário e endometrial não é expulso do útero, embora a gestação não esteja mais acontecendo, situação a que chamamos aborto retido. Principalmente nestes casos a curetagem pode ser indicada.
Assim, de forma geral, a curetagem é indicada para a retirada de material restante de alguns casos de abortamentos, mas suas aplicações podem ir além disso.
Casos de SUA (sangramento uterino anormal), que não estejam relacionados a perdas gestacionais, bem como a obtenção de material para biópsia também podem ser abordados pela curetagem, embora atualmente mesmo essas tarefas possam ser desempenhadas por outros procedimentos, como histeroscopia.
Como é feita a curetagem?
É um procedimento delicado que deve ser feito por médico experiente para evitar efeitos adversos e minimizar os riscos. Seu pós-operatório imediato é simples, e a mulher ficar internada apenas para recuperar-se da anestesia.
O procedimento é realizado com a raspagem do endométrio, que recobre a cavidade uterina e onde o embrião fixa-se, com auxílio de um instrumento semelhante a uma colher, chamado cureta.
A cureta é inserida por via transvaginal, sem que seja necessário qualquer corte, e o material recolhido por ela pode ser descartado ou enviado para análise.
Mais informações sobre a curetagem
Como mencionamos, a curetagem ainda é largamente praticada, embora outras técnicas menos invasivas possam realizar as mesmas tarefas, de forma menos arriscada e invasiva, como a histeroscopia e a AMIU (aspiração manual intrauterina).
Muito utilizada na abordagem após abortos, a AMIU é feita por sucção, com sedação. Seu tempo de recuperação é semelhante ao que a acontece na curetagem tradicional, porém a sucção oferece menor risco de dano ao endométrio e perfuração uterina, que são riscos da curetagem.
A curetagem pode provocar infertilidade?
Um dos riscos que a curetagem tradicional oferece é justamente a possibilidade de dano a fertilidade das mulheres, principalmente porque a interação com o endométrio é mais traumática, deixando principalmente cicatrizes e aderências, também chamadas de sinequias, ou, quando extensas, de síndrome de Asherman.
Quando o quadro de abortamento se repete, é importante tentar identificar as possíveis causas para se tentar minimizar os riscos de uma nova perda.
É importante lembrar que, mesmo quando a mulher está passando por tratamentos com reprodução assistida, problemas prévios relacionados à receptividade endometrial e implantação embrionária podem levar a um aumento no risco de abortos e a investigação do quadro é uma oportunidade de planejar melhor os tratamentos, evitando que essas situações angustiantes se repitam.
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