A criopreservação de óvulos é uma técnica que revolucionou a área da reprodução humana assistida, oferecendo às mulheres possibilidades para preservar a fertilidade e ter mais autonomia para conduzir seus planos de maternidade.
A técnica consiste em estimular os ovários, coletar os óvulos e congelá-los. Depois disso, eles podem ficar armazenados por anos, até que a mulher esteja pronta para engravidar. Trata-se de uma opção diante de condições médicas, como tratamentos oncológicos, ou pode ser feita de forma preventiva, considerando os impactos do avanço da idade na fertilidade feminina.
Na área de reprodução humana, além da criopreservação de óvulos, é possível congelar sêmen, embriões e outros materiais biológicos, como tecido germinativo extraído das gônadas (ovários ou testículos). A técnica mais utilizada atualmente é a vitrificação, que envolve o congelamento ultrarrápido com índices mínimos de danos celulares.
Este texto aborda as indicações e os procedimentos necessários para a criopreservação de óvulos.
Indicações para a criopreservação de óvulos
O congelamento de óvulos pode ser feito em dois contextos: preservação social da fertilidade e preservação oncológica da fertilidade. Sendo assim, é indicado para mulheres que querem ou precisam postergar a gravidez.
Entenda melhor!
Preservação social da fertilidade
A criopreservação de óvulos no contexto da preservação social é uma conduta preventiva para mulheres que optam por adiar a maternidade principalmente para depois dos 35 anos.
As gestações tardias têm sido cada vez mais comuns. Se no passado, as mulheres engravidavam na casa dos 20 anos, hoje, muitas preferem ter filhos depois dos 30 ou até dos 40 anos. Isso se deve aos múltiplos papéis femininos na sociedade moderna, como possibilidades de carreira e responsabilidade parcial ou total sobre as finanças da casa.
Além disso, no cenário atual, vemos que há mais liberdade quanto à decisão de se casar ou não. Sendo assim, os relacionamentos afetivos estão menos duradouros, de forma que algumas mulheres chegam à idade crítica para a fertilidade sem terem um parceiro que queira construir família.
Com o avanço da idade, há uma redução da reserva ovariana e um declínio na qualidade dos óvulos. Com isso, o risco de formar embriões com alterações cromossômicas é maior, fator esse que pode levar a falhas no desenvolvimento embrionário, falhas de implantação do embrião no útero, abortamento de repetição e, em alguns casos, nascimento de uma criança com síndrome.
Quanto mais jovem a mulher for na época em que realizar a criopreservação de óvulos, mais chances terá de congelar células com boa qualidade para tentar uma gravidez, no futuro. Preferencialmente, o congelamento deve ser feito antes dos 35 anos, pois após essa idade a redução da qualidade oocitária ocorre de forma mais acentuada.
É importante ressaltar que não existe uma idade máxima. Isso deve ser discutido com o especialista após criteriosa avaliação da reserva ovariana.
Preservação oncológica da fertilidade
Como o termo explica, a preservação oncológica da fertilidade feminina é indicada quando a mulher precisa realizar tratamentos de câncer (quimioterapia, radioterapia e cirurgia para remoção dos ovários afetados por tumores).
Muitas pacientes oncológicas não sabem dessa possibilidade. É responsabilidade do médico oncologista informar sobre os possíveis impactos das terapias na fertilidade futura e alertar para o tratamento preventivo com a criopreservação de óvulos.
Além dos tratamentos de câncer, a preservação da fertilidade por razões médicas pode ser feita antes de cirurgias para tratar doenças benignas nos ovários, como a retirada de endometrioma (cisto de endometriose ovariana). O procedimento cirúrgico também pode causar perda de tecido germinativo saudável em torno do cisto, levando à redução da reserva ovariana.
Outra indicação é para pacientes com risco de falência ovariana prematura (menopausa antes dos 40 anos). Mulheres com síndromes genéticas associadas a essa condição ou com história familiar de menopausa precoce devem ser informadas sobre a possibilidade de criopreservar seus óvulos enquanto há tempo.
Procedimentos para criopreservar os óvulos
A criopreservação de óvulos segue as etapas de estimulação ovariana, análise das células e congelamento. Primeiramente, a paciente realiza a avaliação da reserva ovariana para que seja definido o protocolo mais apropriado de estímulo hormonal.
A estimulação é feita com fármacos de ação semelhante à dos hormônios endógenos que estimulam o ciclo ovulatório natural. Os folículos ovarianos crescem em resposta ao estímulo e esse processo é acompanhado por ultrassonografias pélvicas e dosagens hormonais.
Quando a mulher está prestes a ovular, realiza-se o procedimento de aspiração folicular para que os óvulos sejam identificados e coletados em laboratório. Depois disso, as células são analisadas e colocadas em contato com substâncias crioprotetoras para iniciar o congelamento.
A criopreservação por vitrificação é feita de forma rápida, segura e eficaz. Os óvulos são mergulhados em tanques de nitrogênio líquido, onde permanecem em temperatura de -196 graus. As células podem ficar congeladas por anos sem perder sua qualidade, até o momento em que a mulher decidir tentar a gravidez. A taxa de sobrevivência dos óvulos congelados chega a ser superior a 90%, na maioria dos casos.
Gravidez após o congelamento dos óvulos
Quando houver intenção de engravidar utilizando os óvulos criopreservados, é dada continuidade às etapas da fertilização in vitro (FIV). Esse é o caminho, pois não é possível recolocar os óvulos nos ovários para que a mulher tenha a ovulação natural.
Então, os óvulos são descongelados e fertilizados em laboratório com espermatozoides do parceiro ou de um doador de sêmen. Após alguns dias de cultivo em incubadora para acompanhamento do desenvolvimento inicial dos embriões, é feita a transferência para o útero.
A criopreservação de óvulos tem o benefício de oferecer mais tempo à mulher que não quer ou não pode engravidar por enquanto. Assim, suas células reprodutivas estarão seguras e com a qualidade preservada para quando chegar o momento ideal de se tornar mãe.