A pelve é a estrutura óssea da região do quadril que, entre outras funções, protege os órgãos reprodutores femininos, incluindo o útero, as tubas uterinas e os ovários. É chamada de doença inflamatória pélvica (DIP) o quadro de infecções simultâneas nos órgãos da pelve, sendo que há uma relação importante entre DIP e dor.
Muitas vezes, as mulheres sentem cólicas menstruais intensas e/ou desconforto durante a relação sexual (dispareunia), mas ignoram esses sintomas por acharem que são normais. No entanto, a dor é uma das manifestações mais comuns da DIP e de outras doenças no sistema reprodutor feminino.
Por isso, é necessário ter atenção a ela para identificar as causas e, assim, acessar os tratamentos adequados. Continue a leitura para entender mais sobre o assunto!
Por que a DIP causa dor?
A DIP ocorre quando há migração de microrganismos do trato genital inferior (cervicovaginais) para os órgãos superiores. Entre os agentes etiológicos estão aqueles que causam infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), tais como a gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) e a clamídia (Chlamydia trachomatis).
Em uma minoria dos casos, a doença se desenvolve devido à ascensão de bactérias causadoras de infecções no trato urinário, como a Escherichia coli podendo ser causada também por Mycoplasma ou Ureaplasma. Ainda, a DIP pode ocorrer por efeito da entrada de agentes infecciosos após procedimentos de instrumentação uterina, como parto, biópsia endometrial e inserção de dispositivo intrauterino (DIU).
Independentemente do agente etiológico, a DIP se caracteriza pela presença de infecções simultâneas nos órgãos reprodutivos. Os processos inflamatórios são chamados de cervicite (no colo do útero), endometrite (no endométrio), salpingite (nas tubas uterinas), ooforite (nos ovários) e peritonite (no peritônio pélvico).
Em seu curso agudo, a dor é parte dos três critérios maiores de suspeição da DIP. São eles:
- dor abdominal abaixo do umbigo;
- dor mediante a mobilização do colo uterino, como durante a relação sexual;
- dor quando há palpação da região anexial, onde se localizam as tubas uterinas e os ovários.
Desse modo, há uma importante relação entre DIP e dor, que é indicativa do quadro inflamatório. Quando investigada, a dor muitas vezes é o sintoma inicial responsável pelo diagnóstico precoce e tratamento ágil.
Como é feito o diagnóstico de DIP?
A suspeição de DIP se estabelece quando há a presença de três critérios maiores já citados e ao menos um critério menor, que pode incluir febre, secreção cervical anormal, sangramento intermenstrual e presença de massa pélvica. Devido ao amplo espectro das manifestações, o diagnóstico clínico é dificultado, podendo ser confirmado com exames laboratoriais e de imagem.
Entre os primeiros, estão análises de sangue, urina e secreções endocervicais. Elas permitem rastrear patógenos infecciosos, identificar a presença de leucócitos no exame de sangue ou de proteína C reativa (PCR) elevada, que são sugestivos de quadros inflamatórios e infecciosos.
Os exames de imagem contribuem para a identificação de abscesso tubo-ovariano e para o descarte de diagnósticos diferenciais, incluindo a gravidez ectópica, a endometriose, a apendicite aguda e a torção ovariana.
É importante que a doença seja diagnosticada e tratada em sua fase aguda de inflamação, que pode perdurar por semanas ou, em casos raros, por meses. Boa parte das mulheres que não recebem o tratamento adequado nesse momento desenvolve sequelas da DIP, entre elas, a infertilidade por fator tubário e uterino.
A DIP também provoca infertilidade?
Como dito, a infertilidade é uma das sequelas possíveis da DIP. Isso ocorre devido à obstrução das tubas uterinas e a redução da receptividade endometrial, impactos que levam, respectivamente, à dificuldade de fecundação e de fixação do embrião no útero. Esses dois efeitos também elevam o risco de gravidez ectópica e abortamento.
O tratamento precoce da doença reduz significativamente os riscos de impactos nas funções reprodutivas. Entre as condutas mais indicadas estão o uso de antibióticos de amplo espectro e anti-inflamatórios para diminuição da sintomatologia.
A terapia pode ser realizada por via oral ou intramuscular, com expectativas de melhora das apresentações clínicas em até 3 dias após o início do tratamento. Quando há ausência de resposta aos antibióticos ou estado geral grave, é necessário recorrer à internação hospitalar.
Nos casos em que, mesmo com o tratamento medicamentoso da DIP, a fertilidade feminina permanece comprometida, é possível superar essa disfunção com técnicas de reprodução assistida. Especificamente, a fertilização in vitro (FIV) é a conduta indicada para pacientes inférteis devido a fatores tubários e uterinos.
A técnica consiste na coleta dos óvulos para serem fertilizados em laboratório. Os embriões gerados são mantidos em incubadora por 2 a 7 dias e, então, são transferidos para o útero ou congelados para transferência no ciclo seguinte.
Por envolver recursos avançados para promover a fertilização e o desenvolvimento embrionário inicial fora do útero, a FIV é considerada uma técnica de alta complexidade e apresenta altas taxas de sucesso.
Diante desta leitura, vimos que a relação entre DIP e dor é estreita: em boa parte dos casos da doença, essa é a manifestação mais evidente da inflamação. Desse modo, a atenção à dor é um fator decisivo para o tratamento na fase aguda, reduzindo os riscos de sequelas no aparelho reprodutor.
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