Um homem saudável, cujo esperma apresente boa qualidade, pode doar seu sêmen com o objetivo de ajudar um casal com dificuldades de reprodução a ter filhos. Essa doação é uma ação voluntária.
A possibilidade de fazer o tratamento de reprodução assistida com doação de sêmen, óvulos ou embriões não é recente, já sendo realizada há várias décadas. Receber gametas doados para engravidar é algo que ampliou o leque para os casais com infertilidade, visto que em muitos casos a gravidez não acontece por ausência ou baixa qualidade das células reprodutivas.
A doação de sêmen é usada em tratamentos com fertilização in vitro (FIV) ou inseminação artificial, dependendo das causas de infertilidade e da idade materna. Antes de todo tratamento de reprodução assistida, realiza-se uma avaliação detalhada da fertilidade para se chegar à escolha das técnicas mais apropriadas.
Este texto explica: quem pode doar sêmen; quem pode fazer o tratamento para engravidar com doação de sêmen; e como são realizadas as técnicas de reprodução assistida, nesses casos.
Quem pode doar sêmen?
Os principais requisitos para ser doador são:
- ter idade entre 18 e 45 anos;
- ser saudável e não ser portador de infecção sexualmente transmissível (IST) ou alteração genética.
Para atestar suas boas condições de saúde, o doador passa por vários exames, como sorologias e testes genéticos. O espermograma também é fundamental, pois trata-se da principal ferramenta para analisar as características seminais, como concentração (quantidade) e qualidade (morfologia e motilidade) dos espermatozoides.
Legislação para ser doador
Para que a doação de sêmen seja realizada, além dos critérios acima, é obrigatório um contrato formal, confidencial e sem custos, firmado entre o centro autorizado e o doador. Ou seja, o contrato deve ser embasado nos conceitos de:
- formalidade — deve ser elaborado por escrito;
- confidencialidade — a doação geralmente é anônima, portanto, os dados dos doadores devem ser confidenciais;
- gratuidade — a doação é uma prática altruísta, deve ser gratuita.
Quanto ao critério de anonimato, há exceções. Na maioria dos casos, os receptores não têm acesso à identidade do doador, e vice-versa. Entretanto, em algumas situações, também é permitido que os gametas sejam doados por parentes de até 4º grau, desde que não incorra em consaguinidade.
Na doação de sêmen para um casal heteroafetivo, por exemplo, o doador pode ser da família do homem, pois como serão utilizados os óvulos da paciente, haveria consanguinidade se o material genético viesse por parte de parentes dela.
Nos casos que envolvem a doação de gametas de um conhecido, os procedimentos pré-tratamento também podem incluir avaliação psicológica e consulta jurídica.
O que é um banco de sêmen?
O banco de sêmen é um local que armazena amostras de sêmen doadas de forma anônima, por homens com idades entre 18 e 45 anos e com sua fertilidade comprovada, para serem disponibilizadas a casais em tratamento de reprodução assistida.
Essas amostras são obtidas pela masturbação e armazenadas em temperaturas baixas, utilizando-se um processo denominado criopreservação. O sêmen pode ser preservado nessas condições por tempo indeterminado, sem que sua capacidade de fertilização seja afetada.
Todos os doadores de sêmen devem passar por sorologias e cultura seminal antes da coleta e 6 meses depois, como forma de garantir, segundo as normas da ANVISA, a segurança do processo de doação.
Como fazer a escolha em um banco de sêmen?
O cadastro do doador é encaminhado à clínica sem a identificação pessoal. Aos casais que buscam o tratamento, no entanto, é fornecido o registro das características físicas do doador para que possam fazer a seleção do sêmen mais adequado às suas próprias características (com possíveis semelhanças fenotípicas).
Para quem é indicado o tratamento de reprodução com doação de sêmen?
A utilização de sêmen doado é indicada nos seguintes casos:
- mulheres que desejam ter filho em produção independente;
- casais homoafetivos femininos;
- casais cujo membro masculino tem distúrbios graves na produção de espermatozoides e não responde aos tratamentos convencionais, nem mesmo às técnicas de recuperação espermática (nas quais os gametas masculinos são extraídos diretamente dos órgãos reprodutores);
- casais com histórico de falhas em ciclos de FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI);
- homem com risco elevado de transmitir doenças genéticas — embora em grande parte dos casos, atualmente, seja possível evitar alterações gênicas e cromossômicas nos embriões com o teste genético pré-implantacional (PGT).
Como é o tratamento de reprodução com doação de sêmen?
A reprodução assistida com doação de sêmen pode envolver técnicas de baixa ou alta complexidade, conforme as características, fatores de infertilidade e objetivos de cada mulher ou casal.
Entenda abaixo quais são os procedimentos de cada técnica!
Inseminação artificial
A inseminação artificial ou intrauterina é uma técnica de baixa complexidade. A fertilização do óvulo ocorre no local habitual, na tuba uterina, e são necessárias poucas intervenções para promover as etapas iniciais da reprodução.
O tratamento pode ser realizado com estimulação ovariana ou em ciclos ovulatórios naturais (não estimulados). O estímulo é feito com fármacos hormonais de ação semelhante à dos hormônios produzidos no próprio organismo, com o objetivo de promover o desenvolvimento de aproximadamente 3 folículos ovarianos, aumentando as chances de que um deles libere um óvulo maduro.
Por meio de exames de ultrassonografia pélvica e dosagens hormonais, é possível prever o dia da ovulação. Então, a amostra obtida por doação de sêmen, que se encontra criopreservada, é descongelada, preparada e introduzida na cavidade uterina da paciente.
A inseminação artificial tem critérios para ser indicada, como: idade materna de, no máximo, 35 anos e tubas uterinas desobstruídas.
FIV
A FIV é uma técnica de alta complexidade, que envolve mais etapas que a inseminação artificial, assim como é indicada para um leque maior de condições de infertilidade feminina e masculina.
O processo também começa com estimulação ovariana, mas com um protocolo mais intenso (empregando doses mais altas de medicação hormonal), pois o objetivo é estimular o desenvolvimento de um número maior de folículos e, assim, obter múltiplos óvulos maduros.
Nesse caso, a mulher não chega a ovular, os óvulos são coletados por meio de um procedimento de punção. Em laboratório, eles são identificados no líquido folicular e separados para a etapa da fertilização.
A amostra recebida por doação de sêmen é descongelada e os espermatozoides são utilizados para fertilizar os óvulos por injeção intracitoplasmática, que consiste em introduzir cada gameta masculino dentro de um feminino com o auxílio de um microscópio potente e um instrumento de micromanipulação.
Depois disso, os embriões que se formam ficam em período de cultivo, no qual eles são monitorados diariamente em incubadora para que um embriologista acompanhe seus estágios de desenvolvimento.
A última etapa da FIV é a transferência dos embriões para o útero, que pode ser realizada quando eles têm 2 ou 3 dias desenvolvimento (fase de clivagem) ou entre 5 e 7 dias (fase de blastocisto).
A FIV é uma técnica complexa e oferece boas chances de resultados positivos, seja utilizando somente gametas do casal que deseja engravidar, seja com doação de sêmen.