A reprodução assistida é um campo da medicina que tem revolucionado a maneira como as pessoas geram seus filhos, ampliando as possibilidades para aqueles que não conseguem formar uma família do modo natural. Nesse contexto, pessoas solteiras e casais homoafetivos podem realizar o sonho de serem mães/pais biológicos — inclusive, optando pela gestação compartilhada.
Os casais homoafetivos enfrentaram (e enfrentam) diversos desafios, mas também tiveram importantes conquistas sociais e legais nas últimas décadas, como os direitos de se casar, adotar filhos, herdar e compartilhar bens. Hoje, a reprodução assistida também traz muitas possibilidades a esses casais para conceber filhos biológicos.
Neste texto, vamos explicar o que é gestação compartilhada e quem, exatamente, tem essa opção. Leia e descubra!
O que é gestação compartilhada?
Primeiramente, vale mencionar quais são as técnicas empregadas para promover a gravidez entre pessoas homoafetivas. Para as mulheres, há mais opções; para os homens, o processo é de maior complexidade, mas também é possível com os procedimentos apropriados.
Os casais homoafetivos femininos podem engravidar com a inseminação artificial ou com a fertilização in vitro (FIV). Em ambas as situações, é necessário utilizar a doação de sêmen. Assim, o embrião é gerado com o óvulo de uma das mulheres e o espermatozoide de um doador anônimo.
Os casais masculinos só podem gerar um filho biológico com a FIV. Utiliza-se os gametas de um dos parceiros para fecundar os óvulos de uma doadora e os embriões são transferidos para uma cedente temporária de útero. Portanto, o tratamento necessita de duas técnicas complementares: a doação de óvulos e o útero de substituição, denominado antigamente de barriga de aluguel.
A gestação compartilhada é uma alternativa que permite que as duas pessoas participem ativamente no processo de geração de seu filho. Isso é possível somente nos tratamentos com FIV, mas não para todos os casais. Veja, a seguir, quem tem essa opção.
Quem pode fazer a gestação compartilhada?
Somente casais homoafetivos femininos podem fazer a gestação compartilhada. Não se trata exatamente de uma indicação, mas de uma possibilidade, que é limitada a essas pacientes na reprodução assistida.
Não há outra circunstância que possibilite a gestação compartilhada, pois os outros casais (heteroafetivos ou homoafetivos masculinos), obviamente, não têm essa opção devido à constituição biológica masculina.
Na gestação compartilhada, uma das parceiras cede os óvulos e a outra o útero, por isso é possível que as duas participem ativamente do processo de gerar um filho. Uma será a mãe genética e a outra terá a experiência da gravidez.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da resolução que orienta as práticas da reprodução assistida, afirma que: “É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva feminina. Considera-se gestação compartilhada a situação em que o embrião obtido a partir da fecundação do(s) oócito(s) de uma mulher é transferido para o útero de sua parceira”.
Para começar o tratamento de reprodução, as duas mulheres precisam passar por uma avaliação médica aprofundada. Com base nos resultados, o médico e o casal decidem qual delas poderá usar seus óvulos e qual poderá gestar.
Considera-se adequada para utilizar os óvulos, a mulher com idade até 37 anos, boa reserva ovariana e sem anomalias genéticas com alto risco de transmissão para os descendentes. Já a candidata à gestante precisa ter o útero saudável, livre de doenças estruturais, malformações congênitas ou alterações que prejudiquem a receptividade do endométrio (tecido interno do útero).
Como isso acontece?
A gestação compartilhada requer as etapas normais da FIV. O primeiro procedimento é a indução hormonal para o desenvolvimento dos óvulos, feito com a técnica de estimulação ovariana. A mulher escolhida para usar seus gametas recebe medicações orais ou injetáveis e é monitorada com exames seriados. No momento adequado, realiza-se a aspiração dos folículos ovarianos, os óvulos são identificados no líquido folicular e coletados em laboratório.
A fertilização é feita utilizando os espermatozoides de um doador, depois que a amostra do material passa pelos procedimentos de preparo seminal. No dia seguinte, avalia-se quantos óvulos foram fecundados e estes ficam em incubadora para cumprir o período de cultivo, que permite a observação do desenvolvimento embrionário.
Na etapa final, os embriões são transferidos para o útero da outra mulher, a parceira da mãe genética (a que usou seus óvulos). Antes de receber os embriões, a paciente passa pelo preparo endometrial com medicações hormonais, a fim de deixar o útero o mais receptivo possível para favorecer a implantação embrionária.
As taxas de sucesso da FIV variam de acordo com alguns fatores, como qualidade dos embriões, receptividade endometrial e, principalmente, idade materna — nesse caso, considera-se a idade da mãe genética. Em casais com bom prognóstico, as chances de gravidez podem passar de 52%.
Diante de um resultado positivo no teste de gravidez, as duas mulheres terão a experiência de gerar um filho, cada uma à sua maneira. Por isso, a possibilidade de fazer a gestação compartilhada na FIV tem motivado cada vez mais o interesse dos casais homoafetivos femininos.
Quer entender melhor como a FIV funciona? Leia nosso texto sobre fertilização in vitro!