A tireoide é uma das principais glândulas do corpo humano, presente em homens e mulheres com funções muito parecidas. Localizada na região frontal do pescoço, próxima à traqueia, é semelhante a um escudo, o que é, inclusive, a origem do seu nome, que vem de thyreos, escudo em grego.
A tireoide, assim como os ovários e testículos, é estimulada e inibida por hormônios produzidos no sistema nervoso central, mais especificamente pelo hipotálamo e hipófise.
O hipotálamo produz TRH (hormônio liberador de tireotropina) principalmente de forma pulsátil, embora parte da produção esteja também ligada ao ciclo circadiano, o que estimula a hipófise a produzir TSH (hormônio estimulador da tireoide), um hormônio que age diretamente na secreção de T3 e T4, na tireoide.
A regulação da secreção desses hormônios é feita principalmente com feedback negativo disparado por altas concentrações hormonais: quando o TSH atinge uma concentração máxima, inibe a produção de TRH, da mesma forma que o aumento em T3 e T4 leva à inibição do TSH.
Os hormônios T3 e T4 agem principalmente no metabolismo corporal como um todo, já que têm receptores em diversos órgãos alvo, regulando a temperatura corporal, a função cardiovascular, a respiração, o sono e a disposição, além de influenciar a fertilidade.
A ampla ação da tireoide no corpo de homens e mulheres faz com que os distúrbios dessa glândula manifestem sintomas em diversos sistemas ao mesmo tempo, como é o caso do hipotireoidismo, que causa diminuição na disposição, aumento do sono e infertilidade.
Acompanhe a leitura do texto a seguir e entenda melhor como identificar os principais sintomas do hipotireoidismo e de que forma a medicina reprodutiva pode ajudar a contornar a infertilidade provocada por essa condição.
Entenda as diferentes alterações da tireoide
Por ser uma glândula com atuação ampla sobre praticamente todos os aspectos do metabolismo humano, como mencionamos, as alterações na tireoide podem afetar diversos sistemas simultaneamente.
As formas mais conhecidas de alterações tireoidianas são:
- tireoidite (inflamação/ infecção da tireoide);
- bócio;
- câncer de tireoide;
- exposição à radiação;
- medicamentos;
- hipertireoidismo;
- hipotireoidismo.
O hipertireoidismo é uma das alterações mais comuns da tireoide e consiste basicamente no aumento anormal da produção de hormônios T3 e T4. Como os hormônios tireoidianos estão relacionados ao controle do metabolismo do corpo, os principais sintomas do hipertireoidismo se manifestam na diminuição do sono, perda de peso e hiperatividade geral.
Associado tanto a quadros de hipertireoidismo como hipotireoidismo, o bócio é simplesmente o aumento da glândula tireoide, na maior parte das vezes para suprir deficiências de iodo, um dos elementos formadores dos hormônios tireoidianos T3 e T4.
Já a tireoidite, que indica a presença de processos inflamatórios na tireoide, é causada na maior parte das vezes por uma condição autoimune, a tireoidite de Hashimoto, com potencial para destruir totalmente a tireoide, se não tratada.
A tireoidite de Hashimoto é uma das principais causas de hipotireoidismo, que, por sua vez, está intimamente associado à infertilidade masculina e feminina.
Hipotireoidismo
De forma geral, no hipotireoidismo observa-se uma diminuição na produção de T3 e T4 e, em algumas situações, também um rebaixamento da calcitonina, produzida pelas paratireoides e que atuam especificamente sobre o metabolismo do cálcio.
A diminuição dos hormônios tireoidianos, pode ter duas causas principais: a deficiência nutricional de iodo e a tireoidite de Hashimoto, embora a doença autoimune seja uma causa mais frequente do hipotireoidismo no Brasil, se comparada a casos provocados pela deficiência de iodo.
Como identificar o hipotireoidismo
O fechamento de uma diagnóstico de hipotireoidismo depende diretamente da avaliação dos sintomas relatados pelo homem ou mulher acometidos pela doença, com a confirmação do quadro por exames laboratoriais e de imagem.
Ainda que não seja comum, é possível que o hipotireoidismo não manifeste sintomas tão claros no início, que podem inclusive ser confundidos com outras condições médicas, como a depressão, obesidade e exaustão.
Sintomas gerais do hipotireoidismo
Como a função dos hormônios T3 e T4 é estimular o metabolismo, qualquer rebaixamento na concentração destes hormônios provoca uma diminuição geral no metabolismo, levando a sinais como:
- fadiga excessiva;
- sono excessivo;
- depressão;
- aumento de peso;
- letargia;
- intolerância ao frio;
- constipação intestinal;
- infertilidade.
Sintomas de infertilidade e hipotireoidismo
A relação exata entre a infertilidade e o hipotireoidismo ainda está sendo estudada, embora seja um consenso a associação dos dois distúrbios: a maior parte das pessoas com hipotireoidismo apresenta dificuldades para ter filhos.
A origem dessa relação parece estar relacionada aos processos de feedback negativo dos hormônios tireoidianos no controle da hipófise e na participação específica do hormônio T4 no rompimento do folículo maduro, para a ovulação.
Na medida em que a produção de TSH é inibida na hipófise, outras atividades dessa glândula também parecem ser afetadas por esse controle, incluindo a produção das gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante).
Como as gonadotrofinas são fundamentais para disparar a cadeia hormonal que leva à ovulação nas mulheres, e à espermatogênese (formação dos espermatozoides) nos homens, a interferência do controle tireoidiano sobre a hipófise pode afetar esses processos.
Na mulher, o hipotireoidismo pode inibir, além dos processos da ovulação, também o preparo endometrial, levando a um quadro de anovulação e amenorreia e, consequentemente, à infertilidade.
Já nos homens, observa-se a presença de alterações espermáticas, como a oligozoospermia (diminuição na concentração de espermatozoides no sêmen) e aumento nas taxas de alterações morfológicas dessas células.
A mulher que já tem o diagnóstico de hipotireoidismo quando engravida, deve realizar o tratamento da doença com rigor, já que as baixas concentrações dos hormônios tireoidianos também afetam o desenvolvimento do bebê, que pode nascer com problemas neurológicos.
Diagnóstico e tratamento do hipotireoidismo
Após o acolhimento dos sintomas relatados, normalmente na primeira consulta, alguns exames podem ser solicitados para fechar o diagnóstico de hipotireoidismo, geralmente procedimentos que envolvem a dosagem dos hormônios TSH e T4, mais facilmente dosados no sangue.
As dosagens hormonais são feitas com uma amostra de sangue venoso, coletada da forma tradicional, com o puncionamento de veias nos braços.
Além dos exames laboratoriais, dependendo das origens do quadro de hipotireoidismo, é possível que exames de imagem também sejam solicitados para identificar possíveis nódulos tireoidianos, que podem ter participação no quadro geral.
O tratamento do hipotireoidismo é feito com medicamentos hormonais, normalmente semelhantes ao hormônio T4.
Hipotireoidismo, infertilidade e reprodução assistida
Dependendo do avanço no quadro geral de hipotireoidismo, que resulta da ausência de tratamento para essa condição, a infertilidade pode ser permanente em homens e mulheres.
Como, nestes casos, a diminuição no potencial reprodutivo se deve a problemas na produção de gametas, a técnica de reprodução assistida mais indicada é a FIV (fertilização in vitro).
Isso porque na FIV é possível realizar a seleção de espermatozoides viáveis, seja pelo preparo seminal, seja pela possibilidade de recuperação espermática.
Além disso, a FIV também permite a realização de protocolos mais intensos de estimulação ovariana, levando ao amadurecimento de folículos para a fecundação em laboratório.
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