O aumento no número de gestações tardias, assim como de casos de infertilidade feminina em decorrência da idade, levou a medicina reprodutiva a pensar na importância da preservação social da fertilidade. Isso permite que a mulher tenha uma margem de tempo maior para realizar seus objetivos pessoais e profissionais antes de se tornar mãe.
Houve um tempo em que a trajetória de vida feminina seguia um curso pré-definido pela sociedade, o que incluía casar jovem, engravidar (múltiplas vezes) e viver exclusivamente em prol do marido e dos filhos. Hoje, vemos um contexto bem diferente, um cenário de múltiplas escolhas, onde a mulher pode protagonizar sua história e decidir se quer ou não formar uma família.
Vários fatores podem levar a mulher moderna a protelar a gravidez: espaço conquistado no mercado de trabalho; oportunidades de estudo; escolhas pessoais; diversidade de relacionamentos e de vida social; e até a dificuldade em firmar uma relação no contexto atual. Contudo, grande parte das mulheres ainda nutre o sonho de ser mãe e a busca por essa realização pode começar tarde, quando a fertilidade feminina já está em declínio.
Partindo dessa contextualização, agora vamos explicar o que acontece com o corpo da mulher com o passar do tempo e como a preservação social da fertilidade pode ajudar a engravidar após uma certa idade. Acompanhe!
O que ocorre com a fertilidade da mulher ao longo dos anos?
Ao contrário do homem, que produz espermatozoides ao longo da vida, a mulher já nasce com uma quantidade de óvulos armazenados — o que é chamado de reserva ovariana. Quando inicia sua vida fértil, a partir da primeira menstruação (menarca), essa reserva passa a diminuir de forma gradual até cessar completamente, o que ocorre na menopausa.
Em cada ciclo menstrual, vários folículos contendo oócitos em seu interior começam a se desenvolver e um deles amadurece até o ponto de ovulação. Assim ocorre, mês após mês, configurando uma redução progressiva no número de gametas femininos. A partir dos 35 anos, as chances de uma gravidez natural diminuem cada vez mais, não só pelo déficit da reserva ovariana, mas também pelo impacto na qualidade dos óvulos.
Em gestações em idade tardia, o comprometimento da qualidade oocitária representa um risco aumentado para alterações no número de cromossomos do embrião, problema chamado de aneuploidia. Isso pode tanto gerar uma criança com síndromes cromossômicas quanto interferir no processo reprodutivo, ocasionando falhas de implantação e abortamento.
O que é preservação social da fertilidade?
A preservação social da fertilidade é uma técnica de apoio nos tratamentos de fertilização in vitro (FIV), indicada para mulheres que desejam adiar a gravidez — focamos na fertilidade feminina, devido ao declínio mais rápido da vida reprodutiva, mas os homens também podem passar por esse procedimento.
A FIV é uma técnica de alta complexidade da reprodução assistida e envolve uma sequência de etapas que controlam o processo de concepção. Pessoas com diversos fatores de infertilidade podem aumentar suas chances de conseguir ter um filho a partir desse tipo de tratamento.
Para realizar a preservação da fertilidade, o mais adequado é que a mulher o faça antes dos 35 anos, quando a reserva ovariana ainda está alta, assim como a qualidade dos óvulos encontra-se melhor. Com essa técnica, a paciente tem a opção de congelar seus óvulos. O congelamento é feito com métodos avançados de criopreservação e não oferece risco à vitalidade ou à integridade do material biológico.
Quais são as etapas da preservação social da fertilidade?
A preservação social da fertilidade segue as etapas da FIV, mas o processo é interrompido para o congelamento do material e, posteriormente, retomado quando a mulher decide engravidar.
O primeiro passo é a realização de uma série de exames, incluindo dosagens hormonais e avaliação da reserva ovariana. Para o homem, o principal exame é o espermograma que avalia a quantidade de espermatozoides no sêmen, bem como a morfologia e a motilidade dos gametas.
Tendo potencial ovárico para conseguir um bom número de óvulos, a mulher segue para a estimulação ovariana, outra importante técnica da reprodução assistida. O objetivo é estimular os ovários a desenvolverem múltiplos gametas viáveis para a fertilização, o que é feito com a administração de medicamentos hormonais. Antes que a ovulação de fato aconteça, os óvulos são puncionados, analisados por um embriologista e congelados em seguida.
A preservação social da fertilidade masculina é mais simples e baseia-se na coleta seminal, preparação dos espermatozoides e congelamento. Caso os pacientes optem por congelar os embriões já formados, outras etapas da FIV também são realizadas, são elas:
- coleta do esperma e preparo seminal;
- fertilização dos óvulos;
- cultivo dos embriões.
O desenvolvimento dos embriões é acompanhado por 2/3 dias (fase de clivagem) ou 5/6 dias (estágio de blastocisto) — o protocolo de cultivo é individualizado. Depois disso, os embriões são criopreservados até a retomada do tratamento.
O que acontece quando a mulher decide engravidar?
Quando a mulher decide que é hora de ser mãe, o processo da FIV tem continuidade. Se a opção foi pelo congelamento dos óvulos, todas as demais etapas ainda são realizadas — coleta e preparação seminal, fertilização e cultivo embrionário, além da transferência para o útero. Caso os embriões tenham sido congelados, basta fazer o descongelamento e transferi-los para o ambiente uterino.
É fundamental realizar o preparo endometrial com medicamentos hormonais a fim de tornar o útero receptivo para o momento da implantação do embrião.
Não há um tempo limite para manter os gametas ou embriões congelados.
Agora, reforce suas informações com a leitura do nosso texto específico sobre fertilização in vitro!