A gravidez é um processo que mexe muito com o corpo da mulher, pois envolve mudanças em vários sistemas para se adequar à fisiologia gestacional. Os sistemas reprodutor, endócrino, cardiovascular, respiratório, hematopoiético, digestório e urinário estão entre os que têm suas funções modificadas para dar conta das duas vidas — da mãe e do feto.
O processo não é complexo apenas quando a gravidez inicia. As etapas que ocorrem antes da implantação do embrião no útero também envolvem diversas funções dos órgãos reprodutores, incluindo foliculogênese (desenvolvimento dos folículos que contêm os óvulos), ovulação, fecundação e desenvolvimento embrionário. Somam-se a isso as atividades que ocorrem no trato reprodutivo masculino para permitir a produção e a liberação dos espermatozoides.
Muitas pessoas têm dúvida se a gravidez obtida por reprodução assistida é diferente da que ocorre de forma espontânea. Se você também tem essa dúvida, acompanhe o texto até o fim e descubra!
O que caracteriza a fertilidade e a infertilidade conjugal?
Para começar, vamos explicar por que alguns casais buscam os serviços de reprodução assistida para engravidar. Essa área da medicina trabalha com técnicas específicas para superar diferentes fatores de infertilidade masculina e feminina.
A fertilidade é caracterizada pela capacidade de reprodução. Isso depende da ação dos hormônios e das condições anatômicas e funcionais dos órgãos reprodutores. Por sua vez, o conceito de infertilidade se refere à dificuldade para se reproduzir naturalmente.
Assim, um casal é considerado infértil quando tenta a gravidez por pelo menos um ano — mantendo relações sexuais regularmente e sem uso de qualquer método contraceptivo —, mas não consegue chegar a resultados positivos. Para mulheres com mais de 35 anos, considera-se o tempo de 6 meses de tentativas, visto que a idade materna avançada representa um dos fatores de infertilidade feminina.
São inúmeras as condições que podem deixar um casal infértil, incluindo distúrbios hormonais, infecções no trato genital, alterações genéticas, doenças estruturais e defeitos congênitos nos órgãos reprodutores, entre tantas outras. Somente uma avaliação diagnóstica detalhada pode confirmar quais são as causas da infertilidade conjugal.
Existe diferença na gravidez espontânea e por reprodução assistida?
Gravidez espontânea e por reprodução assistida envolvem os mesmos processos, antes e depois da implantação embrionária, portanto, não há diferença. Inclusive, os riscos de uma gestação medicamente assistida também existem quando a concepção acontece naturalmente.
O que ocorre é que, com a reprodução assistida, existe um controle das etapas que antecedem a gravidez. Alguns procedimentos são realizados para aumentar as chances de fecundação, mas nada é sintético. São utilizados os óvulos e espermatozoides do próprio casal — ou de doadores anônimos, se necessário — e o percurso desses gametas é facilitado.
Entenda como a gravidez espontânea e por reprodução assistida acontecem!
Gravidez espontânea
A gestação natural ocorre por meio de relação sexual realizada no período fértil da mulher, ou seja, em torno do dia em que o óvulo é liberado. De modo resumido, as etapas são essas:
- os espermatozoides são colocados no corpo feminino com a ejaculação, devendo, então, migrar para o trato reprodutivo superior;
- após o processo de foliculogênese, que é estimulado pelos hormônios da glândula hipófise, um óvulo maduro é liberado para ser fecundado;
- no momento da ovulação, a tuba uterina se movimenta e faz a captação imediata do óvulo;
- os espermatozoides encontram o óvulo no interior da tuba e um deles realiza a fecundação;
- os núcleos das células masculina e feminina se fundem e geram o zigoto;
- o zigoto passa por consecutivas divisões celulares (fase de clivagem) até alcançar o estágio de blastocisto — nessa fase, o óvulo fecundado já se encontra na cavidade do útero, tendo sido transportado pelos movimentos musculares da tuba uterina;
- o blastocisto é pluricelular e consegue estabelecer a sincronização fisiológica com as células da camada interna do útero (endométrio), permitindo a implantação embrionária e marcando o começo da gravidez.
Gravidez por reprodução assistida
Na reprodução assistida, o casal pode passar por técnicas de baixa complexidade (com fecundação em ambiente natural, no corpo da mulher) ou de alta complexidade (com fertilização em laboratório). A escolha da técnica depende da gravidade da infertilidade.
Disfunções ovulatórias e outros casos simples podem ser solucionados com baixa complexidade, que inclui relação sexual programada (RSP) e inseminação intrauterina (IIU). São tratamentos preferencialmente indicados para mulheres com menos de 35 anos e sem obstrução tubária.
Na RSP, o único procedimento médico realizado é a estimulação ovariana, que requer a administração de medicação hormonal para desenvolver mais óvulos. Então, o crescimento dos óvulos é acompanhado com exames de ultrassonografia pélvica e dosagens hormonais. Conforme a previsão do dia da ovulação, o casal precisa programar suas relações sexuais para os dias aproximados.
A IIU, mais conhecida como inseminação artificial, também pode ser feita com estimulação ovariana ou em ciclos não estimulados, caso a mulher ovule normalmente. A diferença é que também é feito o preparo seminal, isto é, uma amostra de sêmen é processada com técnicas de capacitação espermática.
Em seguida, na IIU, os espermatozoides dentro do padrão de normalidade, quanto aos aspectos de morfologia e motilidade, são colocados diretamente no útero da paciente, de onde devem seguir para as tubas uterinas e encontrar o óvulo.
Por fim, temos a técnica de alta complexidade, a fertilização in vitro (FIV), indicada para casos que necessitam de um controle mais sofisticado, como idade materna avançada, baixa reserva ovariana, obstrução tubária e alterações masculinas graves.
A FIV é a que mais difere da reprodução espontânea. Isso porque, enquanto na RSP e na IIU o óvulo é fecundado no corpo da mulher, na FIV isso acontece em ambiente laboratorial. Também são cumpridas as etapas de estimulação ovariana e preparo seminal. Depois disso, os óvulos são fertilizados, mantidos em incubadora durante os primeiros dias de desenvolvimento e, então, transferidos para o útero materno para a implantação.
E no pré-natal, há alguma diferença?
Não há diferença. Tendo acontecido de forma espontânea ou por reprodução assistida, a gravidez requer o acompanhamento pré-natal do começo ao fim. Essa assistência é fundamental para monitorar a saúde materna e o desenvolvimento fetal, garantindo, dessa forma, que tudo transcorra de forma saudável e com risco mínimo de intercorrências obstétricas.
Aproveite e visite o texto sobre fertilização in vitro (FIV), o qual contém informações completas para explicar cada etapa da técnica!