A formação dos órgãos reprodutores femininos ocorre ainda nas primeiras semanas de vida intrauterina. Falhas no desenvolvimento embrionário podem resultar em anomalias, como é o caso do útero didelfo — um tipo de malformação uterina que pode causar infertilidade e complicações na gestação.
Existem outros tipos de anomalias anatômicas que também interferem nas funções uterinas. Neste post, daremos atenção ao útero didelfo.
Continue a leitura, saiba o que é essa malformação, como ela ocorre, quais as consequências para a saúde da mulher e quais as possibilidades de tratamento.
Útero didelfo
O útero didelfo, ou duplo, é uma anomalia uterina congênita caracterizada pela formação de dois hemiúteros e dois colos uterinos, embora, em alguns casos, as duas cavidades se unam ao mesmo cérvix. Em determinadas situações, mulheres com essa condição também apresentam duplicação da parte superior da vagina.
Malformações uterinas são decorrentes de falhas na etapa de desenvolvimento embrionário. Apesar de ser um achado clínico pouco comum, esse tipo de alteração anatômica tende a afetar o funcionamento normal do útero, levando a problemas de fertilidade e complicações gestacionais.
As duas cavidades do útero didelfo podem apresentar tamanhos similares ou distintos (uma maior que a outra), e cada hemiútero é ligado à uma tuba e um ovário. O diagnóstico precoce é importante para abreviar os sintomas e reduzir os riscos da gravidez.
Quais as causas e consequências dessa malformação uterina?
Assim como o útero didelfo, existem outras anomalias na anatomia uterina que prejudicam a fertilidade feminina. Essas malformações são congênitas, o que significa que são causadas ainda durante a vida intrauterina.
Até a sétima semana da formação embrionária, as gônadas ainda são indiferenciadas, isto é, não existe definição do sexo biológico no embrião. Em torno da nona semana de desenvolvimento fetal, ocorre a diferenciação dos ductos de Müller para dar origem às características sexuais.
No caso das meninas, a fusão desses ductos forma os órgãos do aparelho reprodutor, como útero, tubas uterinas e parte interna da vagina. O útero didelfo, portanto, é resultado de falhas completas na fusão dos canais müllerianos.
A principal consequência do útero didelfo para a saúde feminina é o risco aumentado de problemas obstétricos. O espaço limitado dos hemiúteros não impede a concepção, mas pode provocar abortamentos, restrição no crescimento fetal, perdas gestacionais no segundo trimestre e parto prematuro.
Outras anomalias uterinas causadas por malformações müllerianas são:
- útero unicorno: o órgão passa por desenvolvimento incompleto e sua estrutura se apresenta pela metade, fazendo ligação à uma única tuba uterina;
- útero bicorno: ocorrem falhas parciais na fusão dos ductos, resultando na divisão da parte superior do órgão — que apresenta o formato de coração, e não o de uma pera, como é na estrutura uterina normal;
- útero septado: é dividido por uma membrana que forma uma parede longitudinal, se estendendo por toda a cavidade uterina ou apenas parcialmente.
Existem sintomas?
Os sinais e sintomas das malformações uterinas variam conforme o tipo de anomalia. O útero didelfo pode não ter manifestações sintomáticas para algumas mulheres, enquanto outras podem experimentar incômodos como:
- oligomenorreia (menstruação com frequência irregular e/ou fluxo escasso);
- dismenorreia (cólicas menstruais intensas);
- sangramento uterino disfuncional;
- dispareunia (dor durante a relação sexual).
Contudo, esses indícios também fazem parte da sintomatologia de várias doenças ginecológicas e podem ser confundidos com outros quadros. Sendo assim, se não houver um diagnóstico precoce de malformações uterinas, o problema acaba sendo identificado somente diante de abortos de repetição e avaliação da infertilidade.
Um ponto que favorece a investigação diagnóstica do útero didelfo é a dificuldade no uso de absorventes internos, sobretudo quando há duplicação da vagina. Nesses casos, os absorventes não são eficientes para estancar o fluxo menstrual, uma vez que o sangramento continua a ocorrer pelo segundo canal vaginal.
Durante a gravidez, também é possível levantar a suspeita de útero didelfo devido ao sangramento, que pode persistir na cavidade não grávida. Em casos raros, a mulher pode passar por um evento chamado superfetação, em que uma gestação é iniciada no segundo hemiútero, depois que o primeiro já tem uma gravidez em desenvolvimento.
Como tratar?
Para reduzir o risco de abortamentos e outras dificuldades gestacionais, é aconselhável que a mulher procure acompanhamento médico e realize a avaliação diagnóstica de malformações uterinas antes de engravidar.
Além dos exames físicos, a paciente também é orientada a passar por histeroscopia — principal método para avaliar e tratar problemas uterinos. Exames auxiliares são a ultrassonografia tridimensional, a histerossalpingografia e a ressonância magnética.
O tratamento cirúrgico é indicado em boa parte dos casos. O objetivo é corrigir a estrutura uterina, preservar a fertilidade da mulher e minimizar possíveis incômodos. No entanto, as cirurgias ficam reservadas aos casos de perdas gestacionais frequentes. Pacientes assintomáticas ou com outros fatores de infertilidade não devem ser submetidas a intervenções cirúrgicas sem necessidade extrema.
Mulheres com útero didelfo e dificuldade de engravidar podem tentar o tratamento com a FIV (fertilização in vitro) — depois de realizadas as avaliações necessárias para verificar o nível de comprometimento do órgão. Em casos mais graves, com alto risco de perdas, uma possibilidade para a tentante é o útero de substituição.
Para mais informações sobre as condições que dificultam a gravidez, leia nosso texto institucional sobre a infertilidade feminina!