Útero bicorno é um tipo de malformação que pode levar à infertilidade feminina. Essa anormalidade uterina não interfere no processo de fecundação, mas a alteração da anatomia do órgão pode dificultar a evolução da gestação.
O útero é um órgão do trato reprodutivo superior feminino. É nele que o embrião se implanta para começar a gravidez e o feto se desenvolve, recebendo nutrição por meio do sangue materno até o dia do parto.
Além de sua função fundamental na gestação, o útero participa do ciclo menstrual. Suas características são alteradas com o estímulo dos hormônios reprodutivos: o estrogênio aumenta a espessura do endométrio, revestimento interno da parede uterina, e a progesterona melhora a receptividade endometrial. Na ausência de um óvulo fertilizado para se implantar, o tecido endometrial descama e provoca a menstruação.
Quando a gravidez acontece, o feto necessita de espaço intrauterino adequado para prosseguir com seu desenvolvimento ao longo dos 9 meses. Entretanto, alterações como o útero bicorno podem aumentar o risco de intercorrências obstétricas.
Continue a leitura para entender melhor a relação entre útero bicorno e infertilidade!
Como o útero é formado?
O útero é o maior órgão do sistema reprodutor feminino. Mede aproximadamente 8 cm de comprimento e 5 cm de largura, sendo mais largo em sua porção superior e estreito na parte inferior, o que confere ao órgão o formato semelhante ao de uma pera de cabeça para baixo.
Em estado gravídico, a grande capacidade de expansão do útero permite que ele alcance cerca de 35 cm de altura. Isso é possível em razão de sua constituição anatômica e histológica.
Anatomicamente, o órgão apresenta três partes: fundo do útero, corpo do útero e colo uterino ou cérvix/cérvice. Em sua porção superior, estão ligadas as tubas uterinas, uma de cada lado, que fazem a comunicação dos ovários com a cavidade do útero. Já o colo uterino é contíguo ao canal vaginal.
Quanto à sua histologia, o útero é constituído por uma parede espessa com três camadas: superfície serosa ou perimétrio, miométrio (camada muscular intermediária) e a parte interna que, como já vimos, é o endométrio.
O útero, assim como os demais órgãos, se forma ainda no período intrauterino, durante o desenvolvimento do feto feminino. Estruturas embrionárias chamadas ductos de Müller passam por fusão e reabsorção para dar origem ao útero, às tubas uterinas e ao terço superior da vagina. Quando há falhas nesse processo, a menina nasce com malformações, as quais são diagnosticadas somente na vida adulta, na maioria dos casos.
O que é útero bicorno?
O útero bicorno é uma malformação decorrente de fusão incompleta dos ductos de Müller. É caracterizado por uma divisão parcial no corpo uterino, que começa na porção superior e se aprofunda até uma parte da cavidade, deixando o órgão na forma de um desenho de coração.
Há dois fundos uterinos (cornos) nesse tipo de útero, por isso chamado de bicorno. Eles podem ser simétricos, mas geralmente um lado é maior que o outro. As duas partes da cavidade se unem ao nível do istmo — passagem estreita que conecta o corpo e o colo uterino — portanto, terminam em um só cérvix.
O útero bicorno e o útero septado são comumente confundidos. O segundo resulta de falhas na reabsorção do septo entre os ductos de Müller, deixando uma parede de tecido (um septo) na cavidade do órgão, que pode ser removida cirurgicamente para restaurar sua anatomia (hoje em dia esta cirurgia está sendo reavaliada). Já o útero bicorno é dividido por uma fenda externa na cúpula uterina.
As malformações uterinas são condições incomuns. Acredita-se que menos de 5% das mulheres inférteis tenham alguma anormalidade dessa natureza. Como, em sua maioria, são casos assintomáticos, nem sempre são diagnosticados. A busca por diagnóstico ocorre principalmente em situação de infertilidade e abortamento de repetição.
Outras malformações uterinas são os úteros do tipo: unicorno; septado; didelfo; arqueado. Em situações bastante raras, ocorre agenesia e a mulher nasce sem útero, tubas uterinas e terço superior da vagina.
O útero bicorno pode causar infertilidade?
Algumas das malformações uterinas podem ter algum impacto nas chances de gravidez. A fecundação pode ocorrer normalmente, desde que exista pelo menos uma tuba uterina em perfeitas condições e comunicante com a cavidade do útero. Da mesma forma, a implantação do embrião no endométrio dificilmente é prejudicada. A infertilidade está principalmente relacionada à dificuldade de manter uma gestação até o final.
O útero bicorno, em específico, é compatível com fertilidade normal em boa parte dos casos. Mais da metade das mulheres que apresentam essa anomalia consegue progredir com a gravidez. Entretanto, isso requer diagnóstico precoce e acompanhamento pré-natal rigoroso.
Os riscos obstétricos para mulheres com malformações uterinas incluem aborto espontâneo, restrição do crescimento intrauterino, nascimento prematuro e problemas no parto, como apresentação anômala do feto e cesariana de emergência.
Assim, útero bicorno e infertilidade estão relacionados pelos seguintes fatores:
- redução da cavidade uterina;
- dificuldade de distensão do órgão;
- possíveis alterações na vascularização e na musculatura uterina;
- endométrio menos desenvolvido que o normal;
- insuficiência cervical.
Existe tratamento para útero bicorno?
O útero bicorno é diagnosticado por ultrassonografia tridimensional (3-D), ressonância magnética ou videolaparoscopia. A histerossalpingografia e a histeroscopia, técnicas específicas de avaliação intrauterina, não podem distinguir entre útero septado e bicorno.
O tratamento cirúrgico deve ser evitado mesmo em pacientes com aborto recorrente ou tardio, o que ocorre em até 30% dos casos de útero bicorno. A cirurgia é chamada de metroplastia, feita por via laparoscópica, e consiste em fazer uma ressecção em cunha entre os dois cornos e suturá-los, formando uma cavidade sem divisão. Contudo, a técnica nem sempre alcança os benefícios esperados na fertilidade espontânea.
A reprodução assistida também tem papel importante no tratamento de pacientes com útero bicorno e infertilidade. A técnica indicada é a fertilização in vitro (FIV), que pode, inclusive, ser realizada com útero de substituição (barriga de aluguel) quando não é possível corrigir a malformação e existe grande risco de abortamento.
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