A medicina reprodutiva é, antes de tudo, uma área que exige escuta, atenção individualizada e cuidado com as particularidades de cada indivíduo e casal que procura ajuda para engravidar. Isso é importante porque as causas da infertilidade conjugal podem ser múltiplas e complexas. Sendo assim, a melhor forma de identificar o caminho mais adequado para cada caso é começar por uma anamnese bem detalhada.
Nesse primeiro momento do atendimento, ocorre muito mais do que uma conversa. Trata-se de um processo técnico e estruturado, com grande relevância clínica, que direciona toda a investigação diagnóstica e, futuramente, a definição do tratamento.
Acompanhe, neste artigo, como a anamnese é feita na reprodução assistida e qual sua importância para o sucesso dos tratamentos!
O que é anamnese?
A anamnese é um procedimento médico inicial bastante norteador, é a primeira etapa do atendimento em qualquer especialidade da medicina. O termo tem origem grega e significa “recordação”, o que reflete bem o seu propósito: trazer à mente informações, colher o histórico de vida e de saúde da pessoa para entender os fatores que possam estar relacionados ao motivo da consulta.
Durante a anamnese, o médico realiza uma entrevista detalhada, abordando tópicos como:
- motivo da consulta (ou “queixa principal”);
- sinais e sintomas percebidos;
- histórico clínico e cirúrgico;
- condições atuais de saúde;
- antecedentes familiares de doenças;
- uso de medicamentos;
- hábitos de vida (alimentação, tabagismo, consumo de álcool etc.).
No contexto da infertilidade, essa escuta deve ser muito cuidadosa, pois a situação envolve aspectos físicos e emocionais que podem interferir no processo reprodutivo. Além disso, como os fatores de infertilidade podem ser femininos, masculinos ou ambos, a avaliação precisa ser ampla e incluir todas as variáveis possíveis.
Como a anamnese é feita na reprodução assistida?
Na reprodução assistida, a anamnese é realizada por especialistas em medicina reprodutiva, que conduzem a entrevista com foco nos aspectos específicos da fertilidade do casal ou da pessoa que busca o tratamento.
Esse processo inclui perguntas voltadas à vida reprodutiva e sexual, tais como:
- tempo de tentativas de gravidez;
- idade do casal, principalmente da mulher;
- frequência das relações sexuais;
- presença de dores, sintomas urinários ou outros sintomas pélvicos;
- padrão menstrual (idade da menarca, regularidade dos ciclos e intensidade do fluxo);
- histórico de gestações (quantas e como evoluíram);
- histórico de abortos espontâneos;
- cirurgias pélvicas pregressas;
- histórico de infecções genitais;
- informações sobre o desenvolvimento puberal;
- uso de métodos contraceptivos no passado;
- uso de medicamentos ou tratamentos médicos específicos, como os oncológicos;
- condições gerais de saúde (por exemplo, presença de doenças crônicas);
- diagnóstico familiar de síndromes genéticas;
- hábitos de vida.
É oportuno esclarecer que no caso de casais heterossexuais, tanto o homem quanto a mulher devem ser avaliados. Para os casais homoafetivos ou pessoas solteiras que desejam ter filhos, a anamnese é adaptada ao contexto reprodutivo, com as devidas orientações quanto à necessidade de doação de gametas, por exemplo.
Em síntese, no contexto da reprodução assistida, a anamnese é o ponto de partida para um acompanhamento realmente individualizado. Veja como ela pode direcionar a investigação diagnóstica e os tratamentos:
Escolha dos exames
A anamnese norteia a solicitação dos exames que serão realizados para investigar as possíveis causas de infertilidade. Normalmente, os primeiros exames indicados incluem:
- espermograma, para o homem;
- dosagens hormonais, ultrassonografia pélvica e histerossalpingografia, para a mulher.
No entanto, a partir das informações obtidas na anamnese, e conforme as hipóteses diagnósticas, também podem ser indicados exames específicos, por exemplo:
- histeroscopia para avaliação da cavidade uterina e biópsia endometrial;
- avaliação da função hormonal masculina;
- teste de fragmentação do DNA espermático;
- ultrassom da bolsa testicular;
- exames imunológicos e genéticos (para ambos) e eventualmente pesquisa de trombofilias e da síndrome do anticorpo antifosfolípide.
Ou seja, a anamnese também é útil para evitar exames desnecessários e orientar uma investigação mais personalizada e eficiente, encurtando o caminho para chegar a um diagnóstico correto.
Definição do tratamento
A anamnese e os resultados de uma avaliação aprofundada têm papéis decisivos na escolha de um tratamento de reprodução assistida, que seja adequado às necessidades de cada casal. A partir disso, é possível responder perguntas norteadoras, como:
- Os fatores de infertilidade podem ser superados com tratamentos de baixa complexidade (coito programado ou a inseminação intrauterina)?
- A fertilização in vitro (FIV) é a melhor alternativa?
- há necessidade de técnicas específicas (por exemplo, ovodoação, barriga solidária ou doação de sêmen)?
- Existe risco aumentado de falhas de implantação ou abortamento?
- O teste genético pré-implantacional (PGT) é recomendável?
- É preciso fazer algum tratamento clínico ou cirúrgico antes de iniciar a técnica de reprodução assistida?
- É necessário adotar algum protocolo diferenciado para intensificar a estimulação ovariana?
Essa avaliação minuciosa ajuda a planejar e individualizar um tratamento seguro e com mais chances de sucesso. Além disso, podemos identificar questões importantes que devem ser acolhidas pela equipe multidisciplinar, incluindo apoio psicológico e nutricional. Logo, a anamnese é a base de toda a jornada diagnóstica e terapêutica na reprodução assistida.
Fique um pouco mais e leia também o texto sobre FIV- fertilização in vitro, que aborda todos os detalhes dessa técnica de alta complexidade!