Laparoscopia é uma abordagem cirúrgica destinada ao tratamento de diversas doenças na região abdominal e pélvica. A técnica é frequentemente indicada na clínica ginecológica, na cirurgia bariátrica, no tratamento de apendicite e de hérnias abdominais, entre outras situações.
Essa abordagem também leva o nome de videolaparoscopia, termo referente ao uso de equipamentos de vídeo que permitem à equipe cirúrgica acompanhar o procedimento em um monitor, em tempo real. Isso é possível graças aos sistemas modernos de fibra óptica e microcâmeras que são introduzidas na cavidade peritoneal por meio de pequenas incisões no abdômen.
Inicialmente, a laparoscopia era utilizada somente como ferramenta diagnóstica. Suas aplicações tiveram início ainda na primeira década do século XX. Foi somente na década de 80 que a técnica passou a ser realizada com caráter cirúrgico — a princípio, somente para tratar doenças ginecológicas, mas logo representou uma opção importante no tratamento de afecções abdominais.
A laparoscopia trouxe um novo conceito cirúrgico, menos invasivo e com menos riscos que a cirurgia convencional aberta (laparotomia). Continue a leitura e conheça melhor essa técnica!
Quando a laparoscopia é indicada?
A laparoscopia é indicada para intervir em diversas doenças na região abdominal e pélvica, como: retirada de órgãos inflamados, a exemplo de vesícula, apêndice e baço; remoção de tumores; tratamento de hérnias etc. Também é uma técnica importante para procedimentos específicos como laqueadura, reversão de laqueadura e cirurgia bariátrica.
Na área ginecológica, em específico, a laparoscopia tem papel fundamental para determinar e tratar as causas de dor pélvica crônica e infertilidade. Nesse contexto, devemos mencionar as seguintes condições:
Endometriose
A endometriose acontece devido à presença de endométrio (tecido que reveste a parede uterina internamente) fora do útero. Os implantes de tecido endometriótico podem causar inflamação localizada em várias partes da região pélvica, chegando a formar aderências (cicatrizes).
As aderências provocam distorção anatômica e podem comprometer a função dos órgãos afetados. Assim, a laparoscopia é realizada para: remover os implantes de endometriose; restaurar a anatomia e a função dos órgãos pélvicos; amenizar a inflamação e os sintomas da doença; melhorar a fertilidade.
Mioma
Miomas são tumores que se originam na camada intermediária do útero (miométrio) e oferecem risco mínimo de malignidade, mas podem crescer de modo anormal, causando infertilidade e compressão dos órgãos adjacentes ao útero.
Os miomas são classificados conforme a direção que tomam enquanto crescem: o intramural se desenvolve no próprio miométrio; o subseroso cresce na direção externa do útero, se projetando para a cavidade pélvica; o submucoso avança para a parte interna do órgão, alterando a arquitetura do endométrio.
A laparoscopia é indicada para o tratamento dos miomas intramurais e subserosos. Já os submucosos são tratados com a histeroscopia cirúrgica, que permite a visualização direta da cavidade uterina ao inserir os instrumentos pelo canal vaginal.
Cistos ovarianos
A laparoscopia também é indicada para a remoção de cistos ovarianos. Diferentes tipos de cistos podem se formar nos ovários, interferindo no processo de foliculogênese e ovulação. Alguns, como o endometrioma (cisto de endometriose ovariana), colocam em risco a reserva ovariana, que se refere à quantidade de ovócitos primários armazenados.
Obstrução tubária por hidrossalpinge
As tubas uterinas podem ser obstruídas por aderências de endometriose, bem como por processos infecciosos que levam à hidrossalpinge (acúmulo de líquido no interior das tubas). A infecção por clamídia ou gonorreia, por exemplo, pode se espalhar por vários órgãos, causando a doença inflamatória pélvica (DIP), com quadro de salpingite (inflamação das tubas) e hidrossalpinge.
Gravidez ectópica
A DIP e a endometriose também aumentam o risco de gravidez ectópica, que ocorre quando o embrião não consegue chegar à cavidade do útero e se implanta na própria tuba uterina. Quando esse tipo de gestação é diagnosticado nas primeiras semanas, o tratamento medicamentoso pode ajudar. Entretanto, quando há a ruptura da gravidez ectópica, a laparoscopia é necessária para remover o concepto.
Histerectomia
Histerectomia é a cirurgia para remoção parcial ou total do útero. A laparoscopia é indicada com essa finalidade quando o útero da paciente está severamente prejudicado por alguma doença, e o tratamento conservador não é efetivo.
Como é o procedimento cirúrgico com laparoscopia?
A cirurgia por laparoscopia é realizada com anestesia geral. Os detalhes do procedimento dependem das características do problema que será tratado, mas, de modo geral, a operação é feita a partir de pequenas incisões próximas ao umbigo — diferentemente da laparotomia que requer um grande corte no abdômen.
São necessários cerca de 5 pequenos furos, com apenas 2 a 3 cm cada. Por eles, são introduzidos os trocartes — objetos cilíndricos que facilitam a colocação dos demais instrumentos cirúrgicos, como pinças, tesouras etc.
A região abdominal é insuflada com gás carbônico para facilitar a visualização e a manipulação das estruturas internas. O laparoscópio — tubo fino e alongado de fibras óticas e que contém microcâmera em sua extremidade — é, então, introduzido pelo trocarte para captar as imagens do procedimento, que são transmitidas em um monitor de vídeo, permitindo a intervenção necessária.
O abdômen não é exposto durante a cirurgia, assim como a perda de sangue é menor. Em resumo, a laparoscopia apresenta as seguintes vantagens:
- menor índice de complicações e infecções;
- procedimento cirúrgico de menor duração;
- menos tempo de internação;
- menor dor pós-cirúrgica;
- rápida recuperação;
- preservação estética na área dos cortes.
A laparoscopia normalmente alcança os resultados terapêuticos esperados. No entanto, pacientes que trataram doenças associadas à infertilidade podem ainda precisar da reprodução assistida para aumentar as chances de gravidez. O tratamento é definido com base em investigação detalhada do casal e pode incluir diferentes técnicas, sendo a fertilização in vitro (FIV) a mais indicada nos casos de endometriose avançada, mioma e obstrução tubária.
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