A receptividade endometrial é um dos fatores principais para uma gravidez acontecer, assim como a qualidade do embrião e a idade materna, que está relacionada à quantidade de óvulos da reserva ovariana. No entanto, algumas doenças tornam o útero menos receptivo, deixando a mulher infértil. Diante desse risco, viemos falar sobre endometrite, infertilidade e reprodução assistida.
Para começar, lembramos que o endométrio é o tecido que reveste o útero internamente. Esse tecido passa por modificações celulares e moleculares ao longo do ciclo menstrual, estimulado por ações proliferativas e secretórias dos hormônios reprodutivos, estrogênio e progesterona. Tudo isso é necessário para a receptividade endometrial, que significa a capacidade uterina de receber o embrião e permitir sua implantação.
Continue a leitura, saiba o que é endometrite e entenda por que essa doença pode causar infertilidade!
O que é endometrite?
Endometrite é a inflamação do tecido endometrial, o que acontece quando a camada interna do útero é lesionada, seja por ação de microrganismo infeccioso, seja por danos mecânicos. Inicialmente, isto é, em sua fase aguda, a doença pode apresentar sintomas. Contudo, pode evoluir para uma condição crônica e silenciosa, mas muito arriscada para a fertilidade.
A causa mais comum de endometrite é a ação microbiana. Nesses casos, o principal agente etiológico é o causador de clamídia, uma infecção sexualmente transmissível (IST) de alta prevalência. Outras doenças dessa natureza, como a gonorreia, também podem lesionar o endométrio, bem como outros órgãos reprodutores.
Inflamações simultâneas no trato reprodutivo feminino caracterizam a doença inflamatória pélvica (DIP), uma condição grave associada à infertilidade, que pode causar obstrução tubária, baixa receptividade endometrial, gravidez ectópica e dor pélvica crônica, entre outras complicações.
Quando se trata de um quadro de DIP, além de endometrite, a mulher pode apresentar cervicite, salpingite, ooforite e peritonite pélvica — são inflamações respectivas no colo do útero, nas tubas uterinas, nos ovários e na membrana peritoneal.
As causas mecânicas das lesões endometriais incluem procedimentos médicos intrauterinos, como:
- curetagem pós-aborto;
- cesariana;
- parto normal prolongado;
- cirurgias por histeroscopia, como para retirada de pólipo e mioma submucoso;
- biópsia endometrial;
- colocação de dispositivo intrauterino (DIU).
Esses procedimentos podem lesionar o endométrio, assim como facilitam a migração de patógenos do trato inferior para o superior.
Quanto aos sintomas, nem sempre estão presentes, mas a mulher pode sentir: dor na parte inferior do abdome, secreção vaginal, sangramento intermenstrual e dor à mobilização uterina, sentida durante o ato sexual e no exame ginecológico. A presença de pólipos e miomas submucosos é frequentemente associada à endometrite.
Por que a endometrite é uma causa de infertilidade?
O endométrio, enquanto revestimento interno da parede uterina, é o local onde ocorre a nidação ou implantação do embrião, fenômeno que marca o início da gravidez. Isso somente pode acontecer quando o tecido endometrial está receptivo, o que depende de atividade hormonal, boa vascularização e condições moleculares que favoreçam a sincronização fisiológica com o embrião.
Qualquer fator que prejudique a receptividade endometrial pode resultar em infertilidade. É isso que ocorre nos casos de endometrite. A inflamação no endométrio deixa o útero desfavorável para a nidação e a evolução da gravidez. Assim, além de causar falhas de implantação, a doença aumenta o risco de abortamento espontâneo.
Por se tratar de uma condição, geralmente, assintomática quando avança para o estágio crônico, a mulher nem sempre desconfia do diagnóstico de endometrite — muitas pessoas, inclusive, desconhecem essa doença. Sendo assim, a confirmação surge após a investigação da infertilidade ou do aborto de repetição.
A histeroscopia com estudo imuno-histoquímico como CD138 e outros facilitam o diagnóstico.
Como é o tratamento da endometrite?
Após confirmação diagnóstica, a endometrite deve ser tratada antes de uma nova tentativa de gravidez, tanto de forma espontânea quanto por reprodução assistida. O tratamento é feito com medicamentos antibióticos e anti-inflamatórios e precisa ser corretamente seguido para anular o potencial patogênico dos microrganismos envolvidos.
Em casos de endometrite crônica, as sequelas no endométrio não são revertidas com a medicação — ainda assim, o tratamento medicamentoso é necessário. Dessa forma, mulheres que desenvolveram infertilidade podem buscar os serviços de reprodução assistida para ter mais chances de engravidar.
A infertilidade por fator uterino, como acontece na endometrite, pode ser superada com a fertilização in vitro (FIV), técnica de alta complexidade da reprodução assistida. Assim, o processo reprodutivo é minuciosamente controlado, passando pelas seguintes etapas: estimulação ovariana, punção dos óvulos, coleta de uma amostra de sêmen e preparo seminal, fecundação, cultivo dos embriões e transferência para o útero.
Além das etapas principais, a FIV pode incluir técnicas complementares, de acordo com os fatores de infertilidade de cada paciente. Mulheres com histórico de endometrite, por exemplo, são indicadas a realizar o endometrial receptivity array (ERA) ou teste de receptividade endometrial.
O teste ERA tem por objetivo avaliar as condições endometriais, do ponto de vista molecular, e estabelecer o período do mês mais apropriado para a transferência dos embriões para o útero. Esse período do ciclo reprodutivo com maior receptividade endometrial é chamado de “janela de implantação”. Ele pode ser associado ao EMMA e ALICE para determinação da flora endometrial, assim como presença de bactérias.
Dessa forma, vemos que a reprodução assistida dispõe de ferramentas importantes para mulheres com endometrite e infertilidade, bem como para os casais que apresentam outros diversos fatores que dificultam a gravidez espontânea.
Veja outros aspectos associados a dificuldades reprodutivas em nosso texto sobre infertilidade feminina!