Os dados apontam que a clamídia é a infecção sexualmente transmissível (IST) mais prevalente no mundo, com cerca de 92 milhões de novos casos por ano. No Brasil, são relatadas aproximadamente 2 milhões de novas infecções anuais — embora essa estimativa seja imprecisa, uma vez que os estudos disponíveis abrangem apenas populações específicas do país.
A alta disseminação da bactéria causadora da clamídia, a Chlamydia Trachomatis, é atribuída à prática de relações sexuais sem preservativos e facilitada pelo caráter assintomático da doença. Isso porque entre 70 e 80% das mulheres infectadas não apresentam sintomas da infecção e, sem saber que são portadoras do agente infeccioso, elas o transmitem aos seus parceiros.
Por ser uma patologia com alto índice de casos assintomáticos, também impõe um grande desafio para se chegar ao diagnóstico. A ausência de sintomas não significa que a infecção vai entrar em remissão espontânea sem grandes consequências. Ao contrário, a falta de tratamento pode resultar em graves sequelas, incluindo: doença inflamatória pélvica (DIP); infertilidade feminina; gravidez ectópica; abortamento; prematuridade; transmissão da infecção para o neonato durante o parto.
Acompanhe este post e veja outras informações sobre o diagnóstico de clamídia!
Quais são os sintomas da infecção por clamídia?
Nas mulheres, a clamídia normalmente não apresenta sintomas, ou as manifestações são brandas e duram pouco tempo, de modo que não chamam a atenção para a importância da avaliação diagnóstica. Nos homens, o quadro pode ser mais sintomático, dando indícios de que existe algum processo infeccioso no trato genital.
Quando há manifestação de sintomas, os mais comuns, em ambos os sexos, são:
- dor e queimação ao urinar;
- dor abdominal;
- secreção genital;
- coceira e irritação.
Na mulher, o corrimento vaginal apresenta forte odor e coloração amarelada. Outros possíveis sintomas femininos são sangramento intermenstrual, dor durante as relações sexuais e escapes de sangue após o coito. O homem ainda pode apresentar dor e inchaço na bolsa escrotal.
A infecção por clamídia também é causa de infertilidade masculina e costuma estar associada a quadros de inflamação no canal da uretra (uretrite), na próstata (prostatite) e nos epidídimos (epididimite). Cada uma dessas partes do sistema reprodutor tem importante participação no processo de formação do sêmen, além de funções como armazenamento, amadurecimento e transporte dos espermatozoides.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de clamídia requer uma avaliação clínica aprofundada, a fim de coletar dados da história dos pacientes que ajudem a correlacionar os fatores de risco para essa e outras ISTs. Os principais fatores associados são:
- prática habitual de relações sexuais sem preservativos;
- múltiplos parceiros;
- início precoce de vida sexual;
- histórico de outras ISTs.
A falta de conhecimento sobre os riscos de contaminação e sobre as consequências das ISTs também é uma importante questão a investigar. Isso porque, apesar dos avanços da comunidade médica e das ações governamentais voltadas à conscientização da população, ainda existe muita desinformação a esse respeito.
A infecção por clamídia pode ser confirmada por meio de exames de sangue e urina, assim como pela análise das células epiteliais do colo uterino (na mulher) e do canal uretral ou retal (no homem). Atualmente, os métodos de biologia molecular — captura híbrida e testes de amplificação de ácido nucleico — são recursos laboratoriais de escolha para a investigação da clamídia.
Dentre os exames de biologia molecular está o PCR (reação em cadeia da polimerase), um teste genético com alta sensibilidade e especificidade para detectar o agente infeccioso dentro das células do portador.
Quais são as formas de tratamento?
O diagnóstico de clamídia pode ser um desafio, em razão da difícil identificação da doença, mas o tratamento é relativamente simples e consiste na administração de antibióticos da classe das tetraciclinas, como azitromicina e doxiciclina.
É importante que o tratamento medicamentoso seja feito corretamente, visando a anulação definitiva do agente infeccioso. Outro ponto a ressaltar é a necessidade de estender o uso dos fármacos ao parceiro da pessoa infectada.
Apesar de a intervenção farmacológica ser eficaz, uma infecção por clamídia que demorou a ser tratada pode deixar sequelas que não regridem com a ação dos remédios. Para os pacientes que desenvolveram infertilidade em decorrência do processo infeccioso, as técnicas da reprodução assistida são indicadas para aumentar as chances de gravidez.
A fertilização in vitro (FIV) é a principal indicação nos casos de pacientes com sequelas de clamídia. No homem, a inflamação provocada pela doença pode causar aderências cicatriciais nos órgãos reprodutivos, obstruindo a passagem dos espermatozoides e resultando em azoospermia (ausência de células sexuais no sêmen).
Para recuperar a fertilidade masculina, os gametas são retirados diretamente dos testículos ou epidídimos com procedimentos microcirúrgicos e utilizados na fertilização por injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) — técnica na qual as células germinativas do homem são injetadas no interior dos óvulos.
Nas mulheres, a clamídia tende a provocar a doença inflamatória pélvica, a qual envolve processos infecciosos em vários órgãos do sistema reprodutor. Nesse quadro, a salpingite (inflamação das tubas uterinas) e a endometrite (inflamação da camada interna do útero) são as condições mais prejudiciais à fertilidade feminina.
A salpingite pode ocasionar hidrossalpinge, acúmulo de líquido no interior das tubas. Isso faz com que as trompas fiquem impermeáveis e os espermatozoides não consigam avançar até encontrar o óvulo. Quando, ainda assim, a fecundação acontece, existe o risco de o embrião não migrar até o útero e se implantar na própria tuba, dando origem a uma gravidez ectópica.
A endometrite, por sua vez, altera as características do revestimento interno do útero, o endométrio, que é o local onde o embrião deve se implantar para dar início à gestação. Mulheres com diagnóstico de infecção por clamídia e endometrite são indicadas ao teste de receptividade endometrial, técnica aplicada em alguns ciclos de FIV com a finalidade de avaliar se o útero está preparado para receber o embrião.
Ficou alguma dúvida? Leia também nosso texto institucional e saiba mais sobre infecção por clamídia!