Menstruação retrógrada e infertilidade podem estar relacionadas em alguns casos, no entanto, há várias considerações que temos a fazer sobre essa relação. Para começar, podemos lembrar qual é a importância do ciclo menstrual para a capacidade reprodutiva da mulher.
O ciclo menstrual começa com a menstruação e dura cerca de 28 dias. Ao longo desse período o sistema reprodutor feminino passa por várias modificações fisiológicas, influenciadas por hormônios que são liberados pela glândula pituitária ou hipófise e pelos ovários.
Os quatro hormônios principais que atuam para coordenar os processos cíclicos que ocorrem nos ovários e no útero são: FSH e LH (hipofisários); estrogênio e progesterona (ovarianos). É com a ação alternada dessas substâncias que a mulher passa mensalmente pela ovulação, o preparo do útero para uma possível gravidez e a menstruação.
Agora, com a leitura deste post, você vai compreender se existe relação entre menstruação retrógrada e infertilidade. Acompanhe!
Por que a menstruação acontece?
A menstruação é um processo fisiológico e cíclico do corpo feminino que ocorre quando a mulher não está grávida, desde a puberdade até a menopausa.
O sangue menstrual é resultado da descamação de tecido endometrial, que reveste a parte interna do útero. É no endométrio que o embrião se implanta para iniciar a gravidez, quando um óvulo é fertilizado. Então, para estar em condições adequadas para a implantação embrionária, esse tecido passa por mudanças cíclicas, estimuladas pelos hormônios ovarianos.
O estrogênio tem ação proliferativa, levando ao crescimento das células do endométrio. A progesterona tem ação secretória, controla a atividade mitótica do estrogênio e reorganiza o tecido, melhorando a receptividade endometrial para acolher o embrião.
Quando não há implantação de um embrião no endométrio, os níveis dos hormônios ovarianos diminuem. Com isso, parte do endométrio se desprende e causa o sangramento cíclico que conhecemos como menstruação. Assim, um novo ciclo menstrual se inicia para que a mulher ovule novamente e o endométrio seja renovado.
O que é endometriose?
Endometriose é uma doença em que um tecido funcional semelhante ao endométrio cresce em outras partes da região pélvica, fora do útero (tecido ectópico). As lesões endometrióticas podem afetar tubas uterinas, ovários, ligamentos uterossacros, intestino, vias urinárias, entre outros locais.
Os fragmentos de tecido endometriótico passam pelas mesmas atividades que ocorrem no endométrio dentro do útero, ou seja, as células crescem, descamam e sangram no período menstrual. Diante disso, as células de defesa do organismo reagem, causando inflamação nos locais lesionados.
Quanto mais profundos são os implantes de endometriose, maior o risco de formação de aderências cicatriciais e distorção anatômica dos órgãos, o que pode levar ao comprometimento funcional de estruturas importantes, como o intestino e a bexiga.
Quanto aos órgãos reprodutores, a endometriose pode afetar ovários e tubas uterinas, causando perda de tecido ovariano saudável, redução da qualidade dos óvulos, obstrução e distorção tubária, entre outros mecanismos que levam à infertilidade feminina.
O que é menstruação retrógrada?
Menstruação retrógrada é uma alteração na saída do fluxo menstrual, que pode estar ou não associada a sintomas e patologias. Ocorre quando há falhas nos mecanismos de escoamento do sangue para fora da cavidade uterina pelo seu conduto natural, que é o canal vaginal.
Nessa condição, a menstruação realiza um percurso inverso. Parte do sangue reflui pelas tubas uterinas ou trompas de falópio e extravasa para a cavidade pélvica. Não se sabe exatamente por quais razões isso acontece, mas fatores genéticos e anatômicos podem estar presentes.
A menstruação retrógrada pode ser assintomática ou causar redução do fluxo menstrual, visto que parte do sangue segue para outro local. Além disso, algumas mulheres podem ter um período mais doloroso, com cólicas intensas e dor pélvica.
Qual é a relação entre menstruação retrógrada e infertilidade?
A relação não é direta, isto é, não significa que a menstruação retrógrada cause infertilidade. No entanto, acredita-se que essa alteração possa levar à endometriose, que é um dos principais diagnósticos em mulheres inférteis.
A endometriose não tem causas completamente esclarecidas, mas existem teorias para explicar seu surgimento. A mais aceita é a Teoria da implantação de Sampson, a qual defende que fragmentos de endométrio funcional possam se acumular nos órgãos próximos ao útero quando são espalhados pela cavidade pélvica devido à menstruação retrógrada.
Vale esclarecer, contudo, que a endometriose é uma doença multifatorial. Nem toda mulher que tem menstruação retrógrada chegará a desenvolver essa patologia, pois podem existir outros fatores envolvidos: genéticos, endócrinos, anatômicos, imunológicos e ambientais.
O tratamento da menstruação retrógrada em si pode ser prescrito caso existam impactos no bem-estar e na saúde da mulher. Já a endometriose necessita de acompanhamento e controle, pois se trata de uma das doenças que mais afeta a qualidade de vida devido aos sintomas dolorosos, ao comprometimento de órgãos importantes e à infertilidade.
A endometriose tem tratamento individualizado, de acordo com as apresentações clínicas, a extensão e a profundidade das lesões, a idade da mulher e sua intenção de gravidez. As opções vão desde acompanhamento médico seriado, medicações para o controle dos sintomas até cirurgia para remoção do tecido endometriótico. Nesses casos, o congelamento de óvulos previamente à cirurgia deve ser oferecido à paciente, pois pode haver redução muito significativa da reserva ovariana após a intervenção cirúrgica.
A reprodução assistida está entre as possibilidades para mulheres e casais que querem superar a infertilidade — seja devido à endometriose, seja por outros fatores femininos ou masculinos. As técnicas incluem coito programado, inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV) e são indicadas com base nas características, limitações e objetivos de cada casal.
Como você viu, existe sim uma relação entre menstruação retrógrada e infertilidade, mas não é direta. De qualquer forma, ao notar alterações menstruais, como redução de fluxo, cólicas intensas, ausência de menstruação, entre outras, procure avaliação médica!
Aproveite e leia o texto sobre endometriose para saber muito mais a respeito dessa doença!