A obesidade pode afetar a fertilidade, tanto feminina quanto masculina. O excesso de peso está associado a alterações hormonais, inflamatórias e metabólicas que comprometem várias funções do organismo, inclusive as do sistema reprodutor.
O desequilíbrio hormonal, decorrente da obesidade, pode interferir na ovulação e aumentar o risco de síndrome dos ovários policísticos (SOP). Para os homens, pode modificar a secreção de testosterona e reduzir a qualidade dos espermatozoides.
Portanto, ao avaliar a fertilidade de um casal, é importante considerar o estado nutricional e o estilo de vida como parte do plano de investigação e cuidado. O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar — incluindo especialista em medicina reprodutiva, nutricionista, endocrinologista e outros — pode ser decisivo na preparação para uma gestação.
Neste artigo, vamos explicar melhor como a obesidade afeta a fertilidade e de que forma esse fator é trabalhado nos tratamentos de reprodução humana assistida. Veja as informações que reunimos!
O que caracteriza a obesidade?
A obesidade é uma condição clínica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que pode comprometer a saúde de várias formas, aumentando os riscos metabólicos, cardiovasculares, articulares, hepáticos, entre outros.
A confirmação da obesidade é baseada no índice de massa corporal (IMC), que é o resultado do peso corporal em quilos dividido pela altura ao quadrado. Veja a classificação:
- inferior a 18,5 — abaixo do peso;
- entre 18,5 e 24,9 — peso saudável;
- entre 25 e 29,9 — sobrepeso;
- entre 30 e 34,9 — obesidade grau I;
- entre 35 e 39,9 — obesidade grau II;
- superior a 40 — obesidade grau III (ou mórbida).
Vale lembrar que o IMC é um indicativo geral. Outros parâmetros, como distribuição de gordura abdominal (circunferência da cintura) e composição corporal, também devem ser considerados na avaliação clínica.
Um ponto importante a considerar é que o sobrepeso, embora seja uma faixa menos prejudicial do que a obesidade, também aumenta vários riscos. Sendo assim, a manutenção do peso saudável é incentivada pelos profissionais da saúde.
Por que a obesidade pode causar infertilidade?
A obesidade impacta a fertilidade por meio de diversos mecanismos fisiológicos, que variam entre homens e mulheres. Em ambos os casos, o excesso de gordura corporal pode afetar a produção e a ação dos hormônios sexuais, que são essenciais para o funcionamento correto do sistema reprodutor.
Nas mulheres, o excesso de peso está associado a:
- irregularidades menstruais e ciclos anovulatórios (sem ovulação);
- SOP, a principal causa de anovulação crônica e uma condição comum em mulheres com obesidade abdominal;
- aumento da resistência à insulina, que desregula a secreção dos hormônios ovarianos;
- alteração na receptividade endometrial, fator que dificulta a implantação do embrião;
- maior risco de abortamento espontâneo e outras complicações gestacionais.
Nos homens, a obesidade pode provocar:
- redução da produção de testosterona, devido à conversão do hormônio em estrogênio no tecido adiposo;
- diminuição da concentração e motilidade dos espermatozoides;
- aumento da fragmentação do DNA espermático, que compromete a qualidade genética dos gametas — embora esse tema ainda seja controverso;
- dificuldades sexuais, como redução da libido e disfunção erétil.
A soma desses fatores pode comprometer a capacidade reprodutiva masculina, mesmo que outros parâmetros pareçam normais. Por isso, o espermograma é uma ferramenta indispensável, mas não avalia todos os aspectos envolvidos. Também é importante investigar o perfil lipídico e metabólico do paciente.
Estilo de vida, fertilidade e reprodução assistida: qual a relação?

O estilo de vida deve ser considerado na avaliação da fertilidade e durante os tratamentos de reprodução assistida. Hábitos como alimentação desequilibrada, sedentarismo, privação de sono, estresse crônico, tabagismo e consumo excessivo de álcool estão associados a alterações hormonais, inflamatórias e metabólicas que reduzem a capacidade reprodutiva e afetam a saúde de modo geral.
Sendo assim, a obesidade pode representar um obstáculo adicional nos tratamentos de reprodução assistida, como a inseminação artificial ou a fertilização in vitro (FIV), porque:
- reduz a qualidade dos espermatozoides;
- leva a uma menor resposta à estimulação ovariana e demanda doses maiores de medicações;
- dificulta as imagens de ultrassom;
- aumenta o risco de lesão durante a coleta de óvulos;
- compromete a receptividade do útero;
- aumenta o risco de complicações na gravidez, como diabetes gestacional, hipertensão e parto prematuro.
No caso de mulheres com obesidade severa, algumas clínicas optam por adiar o início do tratamento até que seja possível reduzir ao menos um percentual do peso corporal — tanto para melhorar os resultados quanto para proteger a saúde materno-fetal.
Em muitos casos, pela própria dificuldade de aderir a dietas e pela ansiedade causada pela infertilidade, o congelamento de óvulos ou embriões previamente é uma solução bastante utilizada, uma vez que, após realizada esta fase do tratamento, fica mais fácil aderir a tratamentos de redução de peso e há mais tempo.
No entanto, cada caso é único. Em alguns contextos, especialmente quando há idade avançada ou baixa reserva ovariana, a estratégia pode envolver o tratamento mesmo com IMC elevado, com acompanhamento multiprofissional e orientação individualizada.
O que pode ser feito?
Mudanças no estilo de vida, mesmo que discretas, podem ter um impacto positivo na fertilidade. A redução de cerca de 10% do peso corporal pode ser suficiente para equilibrar os níveis hormonais, regular os ciclos menstruais e melhorar a ovulação — algumas mulheres conseguem até engravidar espontaneamente depois disso.
Algumas estratégias importantes para melhorar a fertilidade na obesidade incluem:
- acompanhamento com nutricionista e endocrinologista;
- reeducação alimentar, com foco em alimentos anti-inflamatórios e redução de ultraprocessados;
- prática regular de exercícios físicos moderados;
- tratamento de distúrbios do sono e controle do estresse;
- abstenção de hábitos nocivos, como tabagismo e consumo excessivo de álcool;
- controle de doenças crônicas associadas, como diabetes tipo 2.
A obesidade interfere sim na fertilidade, feminina e masculina, de maneira multifatorial e complexa. No entanto, é possível aumentar as chances de resultados positivos com um plano individualizado, mudanças no estilo de vida e o apoio de uma equipe multidisciplinar.
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