As mudanças no mercado de trabalho e na sociedade, de modo geral, abriram espaço para que as mulheres assumissem outros papéis, indo além da maternidade e da formação de uma família. Com isso, vimos que o adiamento da gravidez tem sido cada vez mais comum, mas temos que alertar sobre o risco de infertilidade devido à idade. Nesse cenário, existe a alternativa de congelar os óvulos.
O congelamento de materiais biológicos, incluindo gametas e embriões, é uma possibilidade encontrada no contexto da reprodução humana assistida. As técnicas de criopreservação avançaram nas últimas décadas e, hoje, oferecem altas taxas de sucesso, pois as células não perdem sua qualidade, mesmo que fiquem congeladas por muitos anos.
Criopreservar os óvulos para utilizá-los em uma tentativa futura de gravidez é uma opção que ajuda a mulher a planejar o melhor momento de sua vida para se tornar mãe. Também é uma técnica indicada por razões médicas, por exemplo, para pacientes que vão realizar tratamento oncológico ou cirurgia de endometrioma (endometriose ovariana).
Leia este post com atenção, compreenda as funções dos óvulos e descubra se existe um limite de tempo para que essas células fiquem congeladas!
O que são óvulos e quais são suas funções?
Os óvulos são células sexuais femininas responsáveis pela reprodução humana. Localizam-se nos ovários, em grande quantidade, mesmo antes que a menina nasça, mas permanecem inativos até a puberdade.
A menarca (primeira menstruação) sinaliza que o eixo HHO (hipotálamo-hipófise-ovários) começou a ser estimulado. A partir de então, em cada ciclo menstrual, os hormônios ativam as funções ovarianas, provocando o recrutamento e o desenvolvimento de um grupo de folículos. Um deles cresce mais que os outros, amadurece e se rompe, liberando um óvulo maduro. Esse processo, conhecemos como ovulação.
A função do óvulo é participar da fecundação, ou seja, unir-se a um espermatozoide para formar um embrião. A qualidade das células sexuais é determinante para as chances de fertilização e de implantação embrionária, fenômeno que ocorre no útero e marca o início de uma gravidez.
Falhas no processo ovulatório e baixa qualidade dos óvulos são fatores que podem acarretar infertilidade feminina, o que é mais comum conforme a idade da mulher avança.
Como vimos, ocorre o recrutamento cíclico de um grupo de folículos ovarianos durante a vida fértil feminina, levando à redução gradativa do número de oócitos guardados, os quais compõem a reserva ovariana.
Sendo assim, para mulheres que querem postergar a maternidade para depois dos 35 anos, recomendamos que seja feita a preservação social da fertilidade, que consiste no congelamento eletivo das células reprodutivas.
Condições médicas também podem ser motivo de indicação para a preservação da fertilidade, como tratamentos de câncer, endometriose ovariana, falência ovariana prematura, baixa reserva ovariana, entre outras.
Como é feito o congelamento de óvulos?
O procedimento de congelamento de óvulos envolve várias etapas:
- estimulação ovariana — a mulher recebe medicamentos que estimulam o desenvolvimento de mais óvulos do que o normal em um ciclo reprodutivo;
- coleta dos óvulos — quando os ovários estão prontos para liberar os gametas, eles são coletados com o procedimento de punção folicular;
- preparação das células sexuais — os óvulos são identificados no líquido folicular, analisados morfologicamente e preparados para o congelamento;
- congelamento — as células são congeladas rapidamente, por meio da técnica de vitrificação, e mantidas em um tanque de nitrogênio líquido, com temperatura de -196°.
A taxa de sobrevivência dos óvulos após o descongelamento é alta, assim como a qualidade celular é mantida.
Quando a mulher decide engravidar, as células são descongeladas (todas ou um número determinado após a discussão do casal com o médico especialista) e fertilizadas com os espermatozoides de seu parceiro ou com doação de sêmen em uma clínica de reprodução assistida. Os embriões resultantes são, então, transferidos para o útero da paciente, de acordo com as normas vigentes do CFM e, em casos de embriões supranumerários, estes serão congelados — somente é possível fazer isso no contexto da fertilização in vitro (FIV).
É possível congelar os óvulos em qualquer idade, desde que haja resposta ao estímulo hormonal e um número suficiente de células para coletar. No entanto, recomendamos que isso seja feito antes dos 35 anos, visto que, quanto mais jovem, melhor será a qualidade dos gametas e maior a chance de gravidez.
Afinal, por quanto tempo os óvulos podem ficar congelados?
Não há um limite de tempo estabelecido para isso, ou seja, os óvulos podem ficar congelados por quantos anos a mulher precisar. Entretanto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) esclarece, na Resolução 2.320/2022, que a idade máxima das candidatas à gestação por técnicas de reprodução assistida é de 50 anos (pode haver exceções).
Além disso, é importante lembrar que a gravidez envolve diversas modificações fisiológicas e anatômicas, exigindo que o corpo da mulher trabalhe mais para manter as duas vidas (da mãe e do feto). Sabemos que o avanço da idade favorece o desenvolvimento de problemas de saúde, como hipertensão arterial e diabetes. Sendo assim, há mais riscos nas gestações tardias.
Os gametas e embriões podem ficar congelados por muitos anos, preservando sua vitalidade e a qualidade celular. Há, inclusive, casos que viraram notícia no mundo, como o dos irmãos gêmeos que nasceram nos Estados Unidos, em outubro de 2022, após 30 anos de congelamento dos embriões.
Vemos, então, que criopreservar os óvulos ou embriões é uma alternativa interessante para mulheres que querem tentar a gravidez no futuro e que eles podem ficar armazenados por até dezenas de anos. A consulta com um especialista em reprodução humana é essencial para esclarecer dúvidas e realizar os exames necessários.
Agora, faça a leitura do texto sobre criopreservação e conheça melhor a técnica!