A maior parte das pessoas sabe que a mulher convive com o sangramento da menstruação ao longo de boa parte da sua vida, mas é importante ressaltar que nem todos os sangramentos uterinos são considerados normais.
Por isso, o sangramento uterino anormal, assunto deste texto, é um problema que desperta atenção e demanda cuidados específicos.
Nesse sentido, é importante conhecer suas causas e entender sua relação com a infertilidade feminina e estar ciente das possibilidades de tratamento oferecidas, inclusive a reprodução assistida.
Acompanhe este artigo para entender melhor as possíveis causas do sangramento uterino anormal e especialmente sua relação com a infertilidade feminina.
O que define o sangramento uterino anormal?
Normalmente, o sangramento uterino ocorre somente durante o ciclo menstrual regular e segue um padrão previsível para cada mulher.
O sangramento menstrual normal tem duração de 2 a 7 dias e o volume liberado durante todo o período menstrual é de, em média, 20 a 80 ml de sangue, embora esses números possam variar entre as mulheres, sem sair da normalidade.
Assim, o sangramento uterino anormal refere-se a qualquer alteração significativa nesse padrão menstrual normal descrito, seguindo alguns critérios, que incluem:
- volume excessivo de sangue menstrual;
- duração prolongada do período menstrual;
- intervalos irregulares entre os ciclos menstruais;
- presença de coágulos grandes na menstruação;
- sangramento fora do período menstrual normal.
É comum que outros sintomas também estejam associados aos quadros que incluem o sangramento uterino anormal, como dismenorreia (dor durante a menstruação), dispareunia (dor durante as relações sexuais), dor pélvica crônica e infertilidade.
Conheça as causas do sangramento uterino anormal
O sangramento uterino anormal pode ter diferentes origens, por isso é importante compreender as causas por trás desse problema para delinear as melhores formas de tratamento.
Alterações na produção ou atividade dos hormônios sexuais, como o estrogênio e a progesterona, podem resultar em sangramento uterino anormal. Principalmente a ausência ou a irregularidade na produção desses hormônios promove flutuações anormais no revestimento do útero (endométrio), que pode sangrar fora do período menstrual esperado.
As doenças estrogênio-dependentes que afetam o útero – adenomiose, miomas uterinos e pólipos endometriais – geralmente desencadeiam processos inflamatórios nos locais em que as lesões se instalam, fragilizando o útero. Esse processo aumenta os riscos de sangramento – além de provocar outros sintomas como dor – e por isso estão associadas ao sangramento uterino anormal.
Na adenomiose, o tecido endometrial invade a camada muscular do útero (miométrio), tornando-se inflamado, enquanto os miomas uterinos são tumores benignos que se desenvolvem no útero e podem causar sangramento uterino anormal quando localizados próximo ao endométrio (mioma submucoso). Os pólipos também são considerados crescimentos celulares anormais, como os miomas, mas que se formam no próprio endométrio e podem se projetar para a cavidade uterina.
Além do sangramento uterino anormal entre ciclos, o crescimento dos miomas, dos pólipos e da adenomiose também pode aumentar a propensão ao sangramento inclusive durante a menstruação, provocando aumento no fluxo menstrual ou na duração do período.
Finalmente, infecções como a DIP (doença inflamatória pélvica) e as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) também podem causar inflamação e danos aos tecidos do útero, favorecendo sangramentos e provocando o sangramento uterino anormal – neste caso, acompanhados de outros sintomas, como dor abdominal, corrimento anormal e desconforto durante a relação sexual.
Como o sangramento uterino anormal pode prejudicar a fertilidade feminina?
Como foi possível perceber, o sangramento uterino anormal pode ter repercussões significativas na fertilidade feminina, já que interfere nos processos essenciais para a nidação e manutenção da gestação.
Durante o ciclo menstrual normal, o útero passa por um conjunto de mudanças hormonais e estruturais para preparar o endométrio para receber e nutrir um embrião. Essa preparação é fundamental para a nidação, que é a fixação do embrião no endométrio, permitindo o início de uma gravidez saudável.
Nos quadros em que a mulher apresenta sangramento uterino anormal, é comum que o revestimento do útero não esteja adequado para a nidação porque as alterações podem comprometer a receptividade do endométrio. Dessa forma, mesmo que ocorra a fertilização do óvulo nas tubas, a implantação no útero pode ser dificultada ou até mesmo inviabilizada.
Além disso, em casos mais graves, o sangramento uterino anormal pode estar associado a quadros de aborto de repetição, já que o sangramento pode comprometer a sustentação do embrião mesmo após a nidação e, com isso, a continuidade da gestação, levando ao término precoce da gravidez.
A reprodução assistida pode ajudar!
Ainda que a infertilidade seja uma consequência comum do sangramento uterino anormal, a reprodução assistida é uma esperança para mulheres que desejam realizar o sonho da maternidade. Entre as diversas opções disponíveis, a FIV (fertilização in vitro) com criopreservação dos embriões – também conhecida como “freeze-all” – merece destaque nesse contexto.
Nesse método, o ciclo de tratamento começa com a estimulação ovariana, para o desenvolvimento dos óvulos, e a coleta de gametas (masculinos e femininos), para fertilização em laboratório, com objetivo de formar embriões saudáveis.
A diferença chave da FIV com criopreservação dos embriões é que, após a fertilização, os embriões são congelados em vez de serem imediatamente transferidos para o útero. Essa abordagem abre a possibilidade de realizar a transferência em outro ciclo, em que se possa realizar um preparo uterino mais acurado.
Em outras palavras, o freeze-all permite que a mulher possa passar por um ciclo de preparação do endométrio, em que são administrados medicamentos hormonais para otimizar a espessura e a receptividade do revestimento uterino.
Além disso, ao congelar os embriões e adiar sua transferência, o endométrio tem mais chance de se recuperar completamente, inclusive dos possíveis efeitos da estimulação ovariana sobre este tecido, tornando-se mais receptivo à implantação dos embriões posteriormente.
Essa estratégia é particularmente benéfica para mulheres com sangramento uterino anormal, pois oferece a oportunidade de contornar as dificuldades relacionadas à receptividade do endométrio e aumentar as chances de sucesso da implantação – e consequentemente, de todo o tratamento.
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