A reprodução assistida é uma área da medicina e da embriologia voltada para casais que não conseguem ter filhos de forma espontânea. Os diversos fatores de infertilidade feminina e masculina podem ser contornados com técnicas de baixa e alta complexidade — relação sexual programada, inseminação artificial e fertilização in vitro (FIV).
Foram décadas de estudos e aplicações clínicas para que a reprodução assistida alcançasse o reconhecimento e a relevância que tem hoje. A importância dessa área para a sociedade atual se deve aos seguintes aspectos:
- os avanços no conhecimento científico e nas tecnologias empregadas nos programas de reprodução;
- a postergação da maternidade como uma realidade da era contemporânea, sendo que o avanço da idade tem impacto direto sobre a capacidade reprodutiva da mulher;
- o desejo reprodutivo por parte de casais homoafetivos e pessoas solteiras;
- as mudanças no estilo de vida, que têm contribuído para alterações na saúde em geral, o que também afeta a fertilidade;
- as inúmeras condições associadas à infertilidade conjugal, que podem ser contornadas com técnicas específicas.
Dentre as técnicas da reprodução assistida, a FIV é a mais complexa e indicada para uma ampla gama de fatores de infertilidade, incluindo os mais graves. Continue a leitura e entenda como é o procedimento!
O que é FIV?
A FIV é o principal tratamento de reprodução humana realizado atualmente. Trata-se de uma técnica de alta complexidade que passa por uma série de etapas para promover a formação de embriões fora do ambiente uterino, por isso chamada de fertilização in vitro — diferentemente das técnicas de baixa complexidade, inseminação artificial e relação sexual programada, em que a fecundação do óvulo ocorre in vivo, isto é, no corpo da mulher.
Para que os embriões sejam gerados em laboratório, o processo envolve vários procedimentos, como estimulação dos ovários para obter múltiplos óvulos, assim como coleta, análise, seleção e micromanipulação dos gametas. Após a fertilização, os embriões ainda são mantidos em observação, em incubadoras, por alguns dias antes de finalmente serem colocados no útero da futura mãe.
As indicações da FIV são bem abrangentes e incluem os seguintes casos:
- idade materna avançada (acima dos 37 anos);
- distúrbios ovarianos;
- endometriose;
- obstrução das tubas uterinas;
- doenças adquiridas e malformações congênitas no útero;
- fatores masculinos graves, como ausência de espermatozoides no sêmen (azoospermia);
- indicação para o teste genético pré-implantacional (PGT-A ou PGD), devido ao risco de transmissão de problemas genéticos ou cromossômicos;
- reprodução de casais homoafetivos ou pessoas solteiras;
- preservação da fertilidade por motivos médicos ou eletivos;
- infertilidade sem causa aparente (ISCA) de tempo prolongado;
- falhas anteriores nos tratamentos de baixa complexidade.
Quais são as etapas da FIV?
A FIV passa por uma sequência de etapas principais, mas algumas técnicas complementares podem ser incorporadas ao programa, conforme a individualização do tratamento.
Veja como é o passo a passo da FIV!
1- Estimulação ovariana
A estimulação ovariana é realizada com medicamentos hormonais para que o ovário desenvolva mais folículos e, por consequência, possamos obter vários óvulos maduros para a fertilização — enquanto na ovulação natural, somente um óvulo é liberado por ciclo.
2- Punção dos óvulos
O crescimento dos folículos ovarianos é acompanhado com exames de ultrassonografia e dosagens hormonais. Após o desenvolvimento folicular, outro hormônio é aplicado para induzir a ovulação, mas antes que os óvulos sejam liberados, fazemos a punção — procedimento feito com uma agulha fina para aspirar o líquido que contém os gametas.
3- Coleta do sêmen
Enquanto a punção folicular é realizada, também é o momento de coletar o sêmen, o que normalmente é feito por masturbação na própria clínica. Nos casos de alterações espermáticas graves, como azoospermia, é preciso recorrer a técnicas de punção ou microcirurgia para colher os espermatozoides nos testículos ou epidídimos. Após a coleta, a amostra passa por preparo seminal, a fim de selecionar os gametas de melhor qualidade.
4- Fecundação dos óvulos
A fertilização é feita em laboratório por meio da injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). Essa técnica envolve a micromanipulação dos gametas, de modo que cada espermatozoide é individualmente analisado com um microscópio de alta resolução e injetado no interior de um óvulo.
5- Cultivo dos embriões
Os óvulos fertilizados são mantidos em cultivo por até 7 dias, em incubadoras com ambiente apropriado para o desenvolvimento embrionário. Assim, os embriões são avaliados diariamente por um embriologista que acompanha a evolução do processo de divisão celular.
6- Transferência dos embriões
A transferência para o útero da paciente pode ser feita com 2, 3 dias de cultivo ou em estágio de blastocisto, com 5 dias. Isso depende das características de cada caso e do potencial de implantação em ambos os estágios de desenvolvimento embrionário. Além disso, os embriões podem ser transferidos a fresco ou congelados, o que não altera sua qualidade nem as chances de gravidez.
Quais são as técnicas complementares da FIV?
Como vimos, a FIV segue várias etapas para possibilitar a gravidez em casos de infertilidade. Além do passo a passo principal, o casal pode necessitar de técnicas de apoio, as quais incluem:
- teste genético pré-implantacional (PGT-A, PGT-M ou PGD);
- hatching assistido;
- doação de óvulos, sêmen e embriões;
- útero de substituição ou cessão temporária de útero (também conhecida erroneamente como barriga de aluguel;
- criopreservação de gametas e embriões.
Com todos os procedimentos e técnicas que descrevemos neste post, você pode avaliar o quanto a FIV é parte de um tratamento avançado e que pode superar diversas condições que impedem um casal de engravidar. As taxas de sucesso variam conforme a idade da mulher, mas giram entre 25 e 54% na faixa entre os 35 e 40 anos.
Confira também nosso texto institucional sobre fertilização in vitro e obtenha informações ainda mais detalhadas!