A ideia de que a reprodução assistida aumenta as chances de ter gêmeos ainda é bastante difundida e, por muito tempo, refletiu uma realidade. Entretanto, com o avanço das técnicas e as atualizações das normas que orientam os tratamentos, isso mudou.
Com o passar do tempo, a medicina reprodutiva evoluiu, junto com as inovações científicas e tecnológicas, acompanhando também as transformações sociais que demandam adaptações no contexto das formações familiares.
Diante das mudanças que surgem, é importante rever as informações. Então, leia este post e entenda o que mudou e como os tratamentos modernos de reprodução assistida, especialmente a fertilização in vitro (FIV), lidam com a possibilidade de gestação múltipla!
Gravidez de gêmeos na reprodução assistida
A associação entre reprodução assistida e gravidez de gêmeos tem origem nas práticas adotadas nas décadas anteriores. Nos primeiros anos da FIV, a taxa de sucesso do procedimento ainda era baixa. Como forma de aumentar as chances de gravidez em cada tentativa, os médicos transferiam dois, três ou até mais embriões para o útero da paciente.
As chances de sucesso da FIV variam de acordo com alguns fatores, como idade da mulher, qualidade dos embriões e receptividade endometrial. Dessa forma, as pacientes com embriões saudáveis e útero receptivo poderiam ter duas ou mais implantações embrionárias, resultando em gestações múltiplas.
A partir desse histórico, a ideia de que tratamentos de reprodução assistida aumentam as chances de ter gêmeos se tornou comum. E, de fato, esse risco era real antigamente, mas ocorreram mudanças importantes nesse cenário.
A reprodução assistida ainda aumenta a chance de ter gêmeos?
As técnicas de reprodução assistida incluem: o coito programado e a inseminação artificial, consideradas de baixa complexidade; e a FIV, de alta complexidade. Vamos abordar as duas situações, separadamente, para esclarecer se ainda há um aumento na chance de ter gêmeos. Veja:
Coito programado e inseminação artificial
Nas técnicas de baixa complexidade, a fecundação ocorre dentro do corpo da mulher, de forma natural. Somente as etapas anteriores à fertilização do óvulo, como o controle da ovulação, são monitoradas pela equipe médica.
A chance de ter gêmeos na reprodução assistida de baixa complexidade é baixa (menos de 10%), pois existe um controle na etapa da estimulação ovariana, que começa com o uso de doses baixas de medicações hormonais. O objetivo é favorecer o desenvolvimento folicular e a ovulação, mas evitar o crescimento de múltiplos folículos e a liberação de mais de um óvulo.
Chance de ter gêmeos com a FIV
Não podemos negar que ainda há uma chance maior de gestação múltipla na FIV quando comparada à concepção natural e às técnicas de baixa complexidade. No entanto, esse risco é muito menor que no passado, devido às tecnologias dos tratamentos atuais.
Além disso, as normas éticas que direcionam a reprodução assistida no Brasil, estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), passaram por atualizações importantes ao longo dos anos, as quais permitem equilibrar a eficácia dos tratamentos com a segurança para a saúde da mulher e do bebê.
Em resoluções anteriores do CFM, a transferência de múltiplos embriões era mais comum. Com os avanços nas técnicas de cultivo e seleção embrionária, foi possível reduzir o número sem comprometer as chances de sucesso da FIV. Inclusive, existe a possibilidade de transferir um único embrião por ciclo.
De acordo com a resolução mais recente do CFM, o número máximo de embriões a serem transferidos depende da idade da mulher, sendo determinado que:
- mulheres com até 37 anos podem receber no máximo 2 embriões;
- mulheres com mais de 37 anos, no máximo 3 embriões;
- em caso de embriões euploides, até 2 (dois) embriões, independentemente da idade materna.
Veja que a FIV ainda aumenta as chances de ter gêmeos quando são transferidos dois embriões (ou mais). Entretanto, quando a análise genética embrionária é avaliada antes da transferência, é possível averiguar a saúde embrionária e, dessa forma, transferir um único embrião saudável e com potencial de implantação.
O teste genético pré-implantacional para aneuploidias (PGT-A), também mencionado como biópsia embrionária, é uma técnica utilizada para o rastreio de anormalidades no número dos cromossomos dos embriões, condições essas que podem levar à falha de implantação ou até abortamento. Entretanto, esta técnica não deve ser indicada apenas para a redução de gemelaridade, pois, além do alto custo, tem um percentual significativo de falha diagnóstica, levando à perda de embriões.
Embriões euploides são aqueles que apresentam o número correto de cromossomos e, portanto, mais chances de se implantar no útero e levar ao desenvolvimento de uma gestação saudável.
Com o PGT-A e a identificação dos embriões euploides, é possível fazer uma escolha segura e transferir somente um embrião. Com essa estratégia, a FIV não aumenta a chance de ter gêmeos dizigóticos, mas também não reduz as taxas de sucesso do tratamento. Como citado acima, esta técnica não é indicação para a redução da gemelaridade.
A individualização dos tratamentos de fertilidade permite que cada caso seja conduzido com foco não apenas na concepção, mas também em uma gestação saudável — e, preferencialmente, de um único feto, visto que a gravidez gemelar envolve riscos obstétricos mais elevados, como hipertensão gestacional e parto prematuro.
Como vimos, a reprodução assistida ainda pode aumentar as chances de ter gêmeos. No entanto, esse risco pode ser evitado com as estratégias certas, tendo em vista as condições clínicas e as expectativas de cada casal.
Para continuar a conhecer as possibilidades da reprodução assistida, leia também nosso texto que aborda o passo a passo da FIV- fertilização in vitro!