Muito se fala sobre estimulação ovariana, punção e fecundação dos óvulos nos tratamentos de reprodução assistida com fertilização in vitro (FIV). Sem dúvidas, os gametas femininos têm papel imprescindível no processo reprodutivo. No entanto, o percurso masculino também pode fazer toda a diferença nas chances de sucesso do tratamento. Sendo assim, fizemos este post para destacar os procedimentos de coleta de sêmen e preparo seminal.
O sêmen ou esperma é o fluído viscoso liberado pelo corpo do homem no momento da ejaculação. O líquido seminal é formado por secreções da próstata, das vesículas seminais e das glândulas bulbouretrais. Além disso, uma fração do material ejaculado é constituída por milhões de espermatozoides, que são as células responsáveis por fertilizar o óvulo e garantir o processo de reprodução humana.
Na concepção natural, a seleção dos espermatozoides mais capacitados é feita no trato reprodutivo da mulher. Isso significa que milhões de gametas masculinos entram no corpo feminino, mas somente uma pequena parcela tem qualidade (motilidade progressiva e boa morfologia) para migrar até as tubas uterinas e somente um deles consegue, de fato, fecundar o óvulo.
Na reprodução humana assistida, a coleta do sêmen e o preparo seminal são necessários para promover a capacitação dos espermatozoides, simulando os obstáculos encontrados no corpo da mulher. Dessa forma, é obtida uma amostra de gametas com boa qualidade e potencial de fertilização.
Leia o texto completo e entenda como se faz a coleta de sêmen e o preparo seminal!
Quais fatores de infertilidade masculina podem levar à indicação para FIV?
A FIV tem amplas indicações, abrangendo fatores de infertilidade feminina, masculina, risco de transmissão de doenças genéticas, infertilidade sem causa aparente (ISCA), endometriose, idade materna avançada, reprodução de casais homoafetivos, entre outras.
Quanto às condições de infertilidade masculina, em específico, as mais graves podem ser superadas somente com a FIV, dentre elas:
- azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen);
- oligozoospermia (baixa quantidade de espermatozoides no ejaculado);
- percentual elevado de gametas com problemas de motilidade e morfologia (astenozoospermia e teratozoospermia, respectivamente).
Essas alterações espermáticas podem estar associadas a varicocele, infecções genitais, síndromes genéticas, deficiência de testosterona, entre várias outras causas. Geralmente, o tratamento pontual da doença subjacente à infertilidade também é indicado.
Vale esclarecer que, quando o homem tem um número discreto de gametas com alterações na morfologia e na motilidade ou na concentração — e levando em conta a saúde das tubas uterinas e a idade da parceira —, o casal pode receber indicação para a inseminação artificial, um tratamento de menor complexidade que a FIV.
Quais são as formas de realizar a coleta de sêmen?
É possível fazer a coleta do sêmen de duas formas para o preparo seminal na FIV: por meio de masturbação, que é o método convencional, ou com procedimentos de recuperação espermática, que envolvem biópsia testicular e punção do epidídimo.
Há particularidades para a escolha do método de coleta de sêmen, as quais estão relacionadas com os fatores de infertilidade do casal. Por exemplo, quando o homem tem boa qualidade seminal ou alterações discretas, ele colhe a amostra de esperma por masturbação. Se houver fator de infertilidade masculina grave, sobretudo a azoospermia, pode ser necessária alguma técnica de recuperação espermática.
PESA e MESA são procedimentos que permitem a retirada dos espermatozoides que estão nos epidídimos, órgãos adjacentes aos testículos e que armazenam os gametas. TESE e Micro-TESE são métodos empregados para coletar os espermatozoides que ainda estão no local onde são produzidos, nos túbulos seminíferos que ficam dentro dos testículos.
Como é o preparo seminal para escolha dos melhores espermatozoides?
O preparo seminal é uma etapa importante dos tratamentos de reprodução assistida. É realizado com métodos de capacitação espermática, que facilitam a seleção de uma amostra de espermatozoides com boa motilidade, portanto, com condições de fertilizar o óvulo.
Os métodos utilizados no preparo seminal incluem:
- lavagem simples — remove o plasma do sêmen, que é composto por células não germinativas, e seleciona os espermatozoides capazes de se mover com o processo de centrifugação, enquanto os sem ou com pouca motilidade são descartados;
- swim-up ou migração ascendente — seleciona os espermatozoides que conseguem nadar para fora do plasma, em direção ao topo do meio de cultura, portanto, aqueles com melhor motilidade;
- centrifugação em gradiente descontínuo de densidade — são utilizadas duas camadas de substâncias com densidades distintas, as quais retêm os espermatozoides mortos ou imóveis, enquanto aqueles com boa motilidade superam os dois gradientes do meio de cultura.
Recentemente, um novo recurso de capacitação espermática foi desenvolvido: o dispositivo de microfluidos (ZYMOT é o mais utilizado no momento). Trata-se de um dispositivo capaz de processar volumes mínimos de fluídos. O método possibilita o isolamento seletivo de gametas com motilidade progressiva e boa morfologia em uma amostra de sêmen bruto e, teoricamente, a separação dos espermatozoides sem ou com baixa fragmentação de DNA. O sêmen nesses casos não passou por lavagem simples e não foi exposto às substâncias do meio de cultura.
Após a coleta do sêmen e o preparo seminal, a FIV prossegue com as etapas de fertilização dos óvulos com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), cultivo dos embriões e transferência para o útero.
Leia o texto que explica com detalhes quais são os métodos de preparo seminal e saiba mais!