A orquite é uma inflamação que acomete os testículos e, algumas vezes, os epidídimos. Quando a infecção se dá nos dois órgãos é denominada orquiepididimite, mas se ocorre apenas no epidídimo a chamamos de epididimite.
Os testículos têm importância ímpar para o funcionamento do sistema reprodutor masculino e para a saúde do homem de modo geral. São as gônadas ou glândulas sexuais — assim como os ovários são para a mulher —, responsáveis por produzir testosterona e espermatozoides.
A testosterona é um esteroide sexual, o principal hormônio masculino. É preciso que essa substância seja produzida em níveis adequados para que ocorra a espermatogênese (produção dos espermatozoides).
Também é necessária a ação da testosterona para manter as características sexuais secundárias do homem, por exemplo: crescimento de pelos, voz grossa, desenvolvimento muscular e ósseo etc. Além disso, é esse o hormônio que estimula a libido e a capacidade de iniciar e manter uma ereção.
Os espermatozoides são os gametas ou células reprodutivas do homem — assim como os óvulos ou oócitos são para a mulher. No processo natural de reprodução humana, é preciso que milhões de espermatozoides entrem no corpo feminino. Uma pequena fração deles chegará até o local da fertilização (nas tubas uterinas) para que um consiga fecundar o óvulo.
Também vale explicar que os epidídimos são ductos situados logo atrás dos testículos e fazem parte do processo de amadurecimento dos espermatozoides. É nos epidídimos que os gametas maduros ficam armazenados antes de se unirem aos fluídos das glândulas acessórias (próstata e vesículas seminais) para compor o sêmen, que é ejaculado quando há estimulação sexual.
A partir dessa apresentação da importância dos testículos para o sistema reprodutor masculino, este texto abordará várias informações sobre a orquite e seus impactos nas funções testiculares.
Causas da orquite
Os testículos ficam no saco escrotal, atrás do pênis, portanto, são externos à cavidade abdominopélvica. Essa localização mantém os órgãos mais protegidos contra a ação de microrganismos infecciosos, como vírus e bactérias.
Assim, a orquite isolada tem baixa incidência, sendo a orquiepididimite uma inflamação mais comum, pois os agentes patogênicos migram de outros órgãos pelo sistema de ductos do trato reprodutivo masculino, afetando primeiramente os epidídimos e, posteriormente, espalhando-se para os testículos.
A orquite e a orquiepididimite podem ser causadas por diferentes agentes infecciosos. Em crianças e adolescentes, o vírus da parotidite (caxumba) é a principal causa de orquite isolada. Outros vírus encontrados na etiologia dessa doença são os da rubéola, da varicela e o citomegalovírus.
As bactérias causadoras de orquite também incluem as que causam comumente infecções na próstata e no trato urinário, por exemplo: Streptococcus, Staphylococcus, Escherichia coli, entre outras.
As bactérias de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como gonorreia e clamídia, estão presentes entre as causas da orquite em homens com vida sexual ativa. Nesses casos, geralmente, a infecção começa na uretra (uretrite) e avança pelos ductos até os epidídimos e testículos.
Além das causas infecciosas, a orquite pode decorrer de traumas testiculares. De modo geral, podemos listar as seguintes causas:
- vírus como o da caxumba, sendo a responsável pelos casos de infertilidade associados a essa doença;
- infecções transmitidas sexualmente, como gonorreia e clamídia;
- bactérias comuns que afetam o trato geniturinário, como a Escherichia coli;
- traumatismo escrotal — nesse caso, podemos observar dois tipos de orquite, na forma aguda e na forma crônica;
- torção testicular.
Entre os fatores que podem aumentar o risco de orquite, estão: falta de imunização contra caxumba; relações sexuais sem uso de preservativos; uso de cateter uretral; alterações anatômicas nos órgãos reprodutores.
Sintomas da orquite
A orquite pode ser uma condição crônica e assintomática, mas geralmente tem sintomas em sua forma aguda. Depois de duas semanas de manifestações da inflamação aguda, se não tratada, pode ocorrer atrofia testicular, impondo riscos à fertilidade do homem.
Os sintomas da orquite podem ser:
- ejaculação com vestígios de sangue;
- urina com vestígios de sangue;
- dor nos testículos;
- inchaço nos testículos;
- sudorese na bolsa escrotal;
- também pode haver febre e mal-estar.
Tipos de orquite
Reforçando: a orquite pode ser de origem viral ou bacteriana. Veja mais informações sobre os dois tipos:
Orquite viral
Como falamos acima, a orquite viral pode ser causada por complicações causadas pela caxumba. Outros vírus que podem causar orquite, além dos já mencionados, são: coxsackie, echo, influenza e o vírus da mononucleose.
Nesses casos, o tratamento é feito com a administração de antivirais às vezes associados a antibióticos, além de repouso, compressas de gelo no local e elevação da bolsa escrotal. Caso o tratamento seja feito logo no início dos sintomas, o quadro pode ser revertido dentro de até uma semana.
Orquite bacteriana
A orquite bacteriana normalmente está ligada à inflamação que pode ser causada por microrganismos como Mycobacterium sp, haemophilus, treponema pallidum, além dos patógenos que foram apresentados anteriormente.
O tratamento dessa forma de orquite deve ser feito com antibióticos específicos para garantir o combate à ação das bactérias e a completa solução da doença.
Relação entre orquite, caxumba e infertilidade
Uma das possíveis complicações da caxumba é a infertilidade masculina, isso porque a doença pode não só afetar as glândulas parótidas, localizadas no pescoço, mas também as glândulas testiculares.
Isso se dá devido à semelhança fisiológica entre as duas glândulas e faz com que a doença, algumas vezes, possa acometer as duas partes do corpo. Por isso, é tão falada a expressão de que a caxumba pode “descer”.
Quando acontece, surge então a inflamação testicular, que destrói o epitélio germinativo dos testículos — local onde ocorre a produção de espermatozoides —, o que causa a infertilidade masculina.
Mesmo após anos do tratamento da caxumba, dependendo da gravidade que o caso teve, o homem pode apresentar alterações nos resultados do espermograma, como baixa contagem de espermatozoides e alto índice de gametas com problemas de motilidade ou morfologia.
Na fase da orquite aguda, os sintomas que indicam que a caxumba acometeu também as glândulas testiculares começam a surgir cerca de uma semana após os sintomas da parotidite. São aqueles já mencionados, como: ejaculação e urina com sangue; dor e inchaço nos testículos; nódulo nos testículos; febre e mal-estar; sensação de calor e excesso de suor na bolsa testicular.
Caxumba também pode causar infertilidade feminina?
Nas mulheres, assim como nos homens, a caxumba pode causar uma inflamação em regiões ligadas à fertilidade, nesse caso, os ovários. Essa inflamação é chamada de ooforite, que pode causar sintomas como dor abdominal e pélvica e sangramentos.
Além disso, a caxumba na mulher, quando seguida de ooforite, pode levar à falência ovariana prematura ou menopausa precoce, que se trata do envelhecimento dos ovários e do esgotamento dos óvulos antes do tempo (antes dos 40 anos), representando uma grave causa de infertilidade feminina.
Assim como em qualquer doença, o tratamento da ooforite deve ser acompanhado por um médico especialista, o ginecologista, que irá direcionar a terapia medicamentosa, normalmente à base de antibióticos e anti-inflamatórios.
Exames para o diagnóstico de orquite
O diagnóstico da orquite pode ser feito com a observação dos relatos do paciente. A partir disso, o médico identifica os sintomas da doença e os fatores de risco, além de realizar o exame físico.
A suspeita se confirma por meio da realização de exame de sangue, ultrassonografia escrotal, e os testes para doenças como gonorreia e clamídia, que podem ser úteis para verificar a causa da doença, o que também já ajuda a definir o melhor antibiótico a ser administrado.
Tratamento para orquite
O tratamento para orquite inclui repouso e administração de medicações para combater a inflamação e a infecção. O urologista poderá indicar, além disso, a aplicação de compressas geladas na região para diminuir a dor e o inchaço, que pode demorar até 30 dias para ser solucionado.
A orquite tem cura e, normalmente, não deixa nenhuma sequela quando o tratamento é feito conforme o indicado pelo médico especialista, sobretudo se a doença for tratada no início. No entanto, algumas possíveis sequelas que podem ocorrer são a atrofia dos testículos, a formação de abscessos e a infertilidade quando os 2 testículos são afetados.
Nos casos mais extremos de orquite, a remoção cirúrgica dos testículos pode ser necessária. Quando é feita a orquiectomia unilateral (retirada de apenas um testículo), o órgão contralateral pode continuar com suas funções, se estiver saudável, mantendo a produção de testosterona e espermatozoides. Quando os dois órgãos são removidos, o homem fica definitivamente infértil e precisa de suplementação hormonal para não ter complicações à saúde por falta de testosterona. O congelamento de sêmen nesses casos é altamente recomendado.
Orquite, infertilidade e reprodução assistida
Todas as pessoas, adultos ou crianças, que tiveram contato com a doença e os sintomas clínicos relacionados aos testículos ou ovários têm a possibilidade de ter como consequência a infertilidade, mesmo os que fizeram o tratamento conforme prescrição médica.
A investigação da fertilidade — espermograma para os homens; avaliação da reserva ovariana com dosagens hormonais e ultrassonografia para contagem de folículos antrais para as mulheres —, são exames que ajudam a identificar as condições reprodutivas de todos que tiveram caxumba seguida de orquite e ooforite ou qualquer outra doença que tenha causado inflamação nos testículos ou ovários.
Diante da confirmação da infertilidade após os exames, o especialista apresenta aos pacientes os tratamentos disponíveis na reprodução assistida. Para os homens que não fizeram orquiectomia bilateral (remoção dos dois testículos), a técnica mais promissora é a fertilização in vitro (FIV) com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
Nos casos de ausência de espermatozoides no sêmen (azoospermia) ou alterações severas na motilidade e na morfologia dos gametas, a coleta dos espermatozoides pode ser feita por recuperação espermática, de forma que é possível recuperar as células reprodutivas que ainda estão nos testículos ou epidídimos.
Para pacientes com histórico de orquite ou outra doença grave e que precisaram retirar os dois testículos ou se não foi possível recuperar um número ideal de espermatozoides, recomenda-se que o casal faça o tratamento com doação de sêmen. Da mesma forma, mulheres com danos ovarianos graves e falência ovariana prematura podem precisar de ovodoação (doação de óvulos).